Leia o seguinte trecho do conto A hora e a vez de
Augusto Matraga, de Guimarães Rosa.
[...] E aí o jumento andou, e Nhô Augusto ainda
deu um eco, para o cerrado ouvir:
– “Qualquer paixão me adiverte...” Oh coisa boa a
gente andar solto, sem obrigação nenhuma e bem
com Deus!...
E quando o jegue empacava – porque, como todo
jumento, ele era terrível de queixo-duro, e tanto
tinha de orelhas quanto de preconceitos, – Nhô
Augusto ficava em cima, mui concorde, rezando o
terço, até que o jerico se decidisse a caminhar
outra vez. E também, nas encruzilhadas, deixava
que o bendito asno escolhesse o caminho, bulindo
com as conchas dos ouvidos e ornejando. E
bastava batesse no campo o pio de uma perdiz
magoada, ou viesse do mato a lália lamúria dos
tucanos, para o jumento mudar de rota, perdendo
à esquerda ou se empescoçando para a direita; e,
por via de um gavião casaco-de-couro cruzar-lhe à
frente, já ele estacava, em concentrado prazo de
irresolução.
ROSA, João Guimarães. A hora e a vez de Augusto Matraga. In:___. Sagarana. Nova
Fronteira: Rio de Janeiro, 38 ed, 1984. p. 378.
O conto A hora e a vez de Augusto Matraga está
localizado no espaço preferido do autor Guimarães
Rosa: o sertão do norte de Minas Gerais (mas há
também paisagens do sul da Bahia). O espaço favorece a construção de personagens bem típicos como
jagunços, peões e fazendeiros. Tanto a psique quanto
a linguagem das pessoas desse lugar aparecem
matizadas pelas pressões e necessidades desse
ambiente. A obra, porém, não se submete ao
determinismo simplista que se limita a procurar ecos
da realidade social, econômica e política na
configuração ideológica dos personagens. A respeito
desse conto, assinale a alternativa correta.
Leia o seguinte trecho do conto A hora e a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa.
[...] E aí o jumento andou, e Nhô Augusto ainda deu um eco, para o cerrado ouvir:
– “Qualquer paixão me adiverte...” Oh coisa boa a gente andar solto, sem obrigação nenhuma e bem com Deus!...
E quando o jegue empacava – porque, como todo jumento, ele era terrível de queixo-duro, e tanto tinha de orelhas quanto de preconceitos, – Nhô Augusto ficava em cima, mui concorde, rezando o terço, até que o jerico se decidisse a caminhar outra vez. E também, nas encruzilhadas, deixava que o bendito asno escolhesse o caminho, bulindo com as conchas dos ouvidos e ornejando. E bastava batesse no campo o pio de uma perdiz magoada, ou viesse do mato a lália lamúria dos tucanos, para o jumento mudar de rota, perdendo à esquerda ou se empescoçando para a direita; e, por via de um gavião casaco-de-couro cruzar-lhe à frente, já ele estacava, em concentrado prazo de irresolução. ROSA, João Guimarães. A hora e a vez de Augusto Matraga. In:___. Sagarana. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 38 ed, 1984. p. 378.
O conto A hora e a vez de Augusto Matraga está
localizado no espaço preferido do autor Guimarães
Rosa: o sertão do norte de Minas Gerais (mas há
também paisagens do sul da Bahia). O espaço favorece a construção de personagens bem típicos como
jagunços, peões e fazendeiros. Tanto a psique quanto
a linguagem das pessoas desse lugar aparecem
matizadas pelas pressões e necessidades desse
ambiente. A obra, porém, não se submete ao
determinismo simplista que se limita a procurar ecos
da realidade social, econômica e política na
configuração ideológica dos personagens. A respeito
desse conto, assinale a alternativa correta.
Gabarito comentado
Tema central: A questão aborda interpretação de texto literário, exigindo do candidato compreensão do enredo, do simbolismo e da construção do protagonista em “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa. O foco está na trajetória de redenção do personagem principal, elemento central na análise literária do conto.
Justificativa da alternativa correta (D):
A alternativa D está correta porque sintetiza com precisão o desfecho do conto: Augusto Matraga enfrenta desafios existenciais e físicos para buscar a “santidade”. Sua trajetória de sofrimento, aprendizado e mudança interior culmina na morte violenta após uma batalha com Joãozinho Bem-Bem. Por mais dura que seja a morte, ela simboliza sua “hora e vez”, ou seja, seu momento derradeiro de redenção e realização espiritual. Essa “coronada pela violenta morte” representa, literariamente, o auge do seu processo de transformação interior, muito abordado pela crítica (ver Bechara, Cunha & Cintra), reforçando a interpretação correta do texto.
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta. O enredo não trata da busca de Augusto para recuperar a honra do pai, tampouco o envolve diretamente com política ou terras perdidas — elementos alheios ao núcleo do conto.
B) Incorreta. O texto não sugere que o protagonista mantém, desde menino, uma fidelidade às regras cristãs. Ao contrário, a narrativa mostra uma evolução espiritual a partir de uma vivência desregrada, marcada por violência e egoísmo.
C) Incorreta. Não há referência à origem do nome de Augusto nem ligação com educação em escolas da capital. “Qualquer paixão me adiverte...” não é expressão de linguagem corriqueira dos peões, nem representa exatamente coloquialismo.
E) Incorreta. Embora os animais tenham relevância simbólica em Guimarães Rosa, não possuem poderes mágicos ou premonitórios na narrativa. Permitir ao jegue escolher caminhos é mais um gesto de rendição do personagem do que qualquer conferência de poderes mágicos ao animal.
Dicas para provas: Busque sempre relacionar os traços do personagem aos marcos principais da narrativa e desconfie de alternativas que extrapolam ou distorcem informações do texto original.
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