Sob o ponto de vista expressivo, a repetição do último verso
de todas as estrofes tem a função de
Protestos a Arminda
Conheço muitas pastorasQue beleza e graça têm,Mas é uma só que eu amoSó Arminda e mais ninguém.
Revolvam meu coraçãoProcurem meu peito bem,Verão estar dentro deleSó Arminda e mais ninguém.
De tantas, quantas belezasOs meus ternos olhos veem,Nenhuma outra me agradaSó Arminda e mais ninguém.
Estes suspiros que eu soltoVão buscar meu doce bem,É causa dos meus suspirosSó Arminda e mais ninguém.
Os segredos de meu peitoGuardá-los nele convém,Guardá-los aonde os vejaSó Arminda e mais ninguém.
Não cuidem que a mim me importaParecer às outras bem,Basta que de mim se agradeSó Arminda e mais ninguém.
Não me alegra, ou me desgostaDoutra o mimo, ou o desdém,Satisfaz-me e me contentaSó Arminda e mais ninguém.
Cantem os outros pastoresOutras pastoras também,Que eu canto e cantarei sempreSó Arminda e mais ninguém.
(Viola de Lereno, 1980.)
Gabarito comentado
Questão sobre Interpretação de Texto – Figuras de Linguagem (Anáfora)
Tema central: A questão avalia interpretação de texto, com foco na função expressiva da repetição em um poema. Exige do candidato reconhecer o efeito de sentido provocado por uma figura de linguagem chamada anáfora – embora, no poema, a repetição ocorra no final da estrofe, o princípio permanece.
Justificativa para a alternativa correta (A):
A alternativa A está correta porque a repetição do verso “Só Arminda e mais ninguém”, ao final de cada estrofe, reforça para o leitor a exclusividade e a intensidade do afeto do eu lírico. Como ensinam Celso Cunha & Lindley Cintra e Evanildo Bechara, esse tipo de repetição é um procedimento de ênfase típico da anáfora: “a insistência lexical destaca a ideia principal do texto e imprime musicalidade e unidade ao poema”. Dessa forma, o leitor retém com clareza qual é o foco absoluto do sentimento do eu lírico.
Análise das alternativas incorretas:
B) Assinalar o caráter inacessível de Arminda – Não há passagem sugerindo que Arminda seja inalcançável; o texto volta-se à exclusividade do amor do eu lírico, não à distância ou inacessibilidade.
C) Atribuir um tom fortemente lamentoso à modinha – Embora se trate de um poema sentimental, a repetição não atribui um tom de lamento intenso, mas enfatiza a escolha amorosa.
D) Ironizar a distância do eu lírico em relação a Arminda – O poema não trabalha o conceito de ironia, e sim a sinceridade e intensidade dos sentimentos, de maneira direta.
E) Insistir na ideia do amor como uma fantasia irrealizável – Em nenhum momento o poema sugere a irrealização ou fantasia do amor; ao contrário, demonstra certeza e exclusividade.
Estratégia para futuras questões: Em textos poéticos, especialmente em versos ou refrões repetidos, observe a ideia enfatizada por tais repetições. Figuras como a anáfora servem como recurso coerente de construção de sentido – consultando gramáticas como Bechara ou Cunha & Cintra, você confere que “o que se repete, se destaca”. Em resumos e questões de prova, busque sempre qual é a mensagem repetidamente ressaltada pelo autor.
Resumo: A ênfase conferida à expressão repetida é que evidencia o grande afeto do eu lírico, tornando a alternativa A a única plenamente de acordo com a função expressiva verificada no poema.
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