Questão 4294c1af-f7
Prova:UNEMAT 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

[...]

Grave, grave, o caso. Premia-nos uma multidão, e estava na área de baixa pressão do ciclone. -“Disse que era, mas que, vendo a humanidade já enlouquecida, e em véspera de mais tresloucar-se, inventara a decisão de se internar, voluntário: assim, quando a coisa se varresse de infernal a pior, já estava garantido ali, com lugar, tratamento e defesa, que, à maioria, cá fora, viriam a fazer falta ... ”- e o Adalgiso, a seguir, nem se culpava de venial descuido, quando no ir querer preencher-lhe a ficha.

- “Você se espanta?” - esquivei-me. De fato, o homem exagerara somente uma teoria antiga: a do professor Dartanhã, que, mesmo a nós, seus alunos, declarava-nos em quarenta por cento casos típicos, larvados; e, ainda, dos restantes, outra boa parte, apenas de mais puxado diagnóstico.

[...]

Reaparecendo o humano e o estranho. O homem. Vejo que ele se vê, tivo de notá-lo. E algo terrível de repente se passou. Ele queria falar, mas a voz esmorecida; e embrulhou-se-lhe a fala. Estava em equilíbrio de razão: isto é, lúcido, nu, pendurado. Pior que lúcido, relucidado; com a cabeça comportada. Acordava! Seu acesso, pois, tivera termo, e, da ideia delirante, via-se dessonambulizado. Desintuído, desinfluído - se não se quando - soprado. Em doente consciente, apenas, detumescera-se, recuando ao real e autônomo, a seu mau pedaço de espaço e tempo, ao sem-fim do comedido.

Aquele pobre homem descoroçoava. E tinha medo e tinha horror - de tão novamente humano. [...] Desprojetava-se, coitado, e tentava agarrar-se, inapto, à Razão Absoluta? Adivinhava isso o desvairar da multidão espaventosa - enlouquecida. Contra ele, que, de algum modo, de alguma maravilhosa continuação, de repente nos frustrava. Portanto, em baixo, alto bramiam.

Feros, ferozes. Ele estava são. Versânicos, queriam linchá-lo. [...]

(ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001)

O conto Darandina , de João Guimarães Rosa, narra o episódio de um homem que, após escapar de um instituto onde havia se internado e tentar alguns pequenos furtos, sobe em uma palmeira no meio de uma praça para escapar à perseguição das pessoas, tirando a própria roupa e provocando aglomeração e desordem. A partir dos trechos acima, que se situam os próximos ao início e ao fim do conto, respectivamente, percebe-se que:

A
a história relativiza os limites entre normalidade e loucura, quando necessário que boa parte da população apresenta um certo grau de loucura e invertido uma forma com que homem e multidão são designados no conto, opondo o homem são e lucido à multidão desvairada.
B
a revolta da multidão se dá por causa do transtorno notificação pelo homem à ordem pública.
C
o retorno do homem à lucidez é tratado como algo positivo, pois revelação uma melhoria em seu estado mental, apesar de se destacar uma nítida sensação de vergonha sentida por ele em face do acontecido.
D
a loucura é tratada como um problema atípico e grave de comportamento que deve ser controlado para que se evitem distúrbios sociais como o que ocorreu no episódio.
E
a declaração do homem, ao se internar, revela-se como uma mentira artificiosa usada para garantir um lugar em que teria abrigo, tratamento e segurança, uma vez que era um homem pobre e sem parentes.

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