Leia o texto seguir.
Você tem treze anos. Os membros crescem em uma relação díspar, como se estivessem
competindo entre si, mas fossem muito diferentes nas competências que os fazem avançar. Os
pés crescem mais rápido que as próprias pernas; o nariz dispara com larga vantagem em relação
ao resto dos demais elementos que constituem a face; os braços se alongam de uma maneira
que faz o tronco parecer pequeno demais para os anexos que carrega. Aqui e ali, pelos começam
a surgir sem um padrão aparentemente definido: pernas, braços, axilas. A sombra de uma barba
começa a se pronunciar timidamente. Na barriga, um rastilho de pólvora. Com treze anos, talvez
você pense em garotas. Talvez você pense em garotos. Talvez você não saiba muito bem o que
pensar ou, até mesmo, pensar seja a última coisa que você cogite quando o assunto são garotas.
Ou garotos. Talvez seus pés enormes e desproporcionais ainda não estejam crescidos o
suficiente para chegar do outro lado da linha. O lado que você tem convicção de certas coisas, o
lado em que você já avançou o suficiente para não sentir falta daquilo que precisa deixar para
trás ou para se sentir atraído por tudo aquilo que está por vir. Talvez você ainda não tenha
avançado o suficiente, mesmo com seus pés enormes, para saber o que é a língua de uma
garota, ou de um garoto, operando movimentos circulares e molhados dentro da sua boca.
Vagando por essa área nebulosa em que você já não é mais exatamente o que era, mas também
não é plenamente o que pode vir a ser [...].
TIMM, André. Modos inacabados de morrer. Rio de Janeiro: Oito e meio, 2016, p. 13. (Fragmento)
O romance Modos inacabados de morrer (2016), do gaúcho, radicado em Santa Catarina, André
Timm, destaca-se no cenário da literatura brasileira, tendo sido finalista do Prêmio São Paulo de
Literatura em 2017. Com base no fragmento apresentado, é INCORRETO afirmar que:
Leia o texto seguir.
Você tem treze anos. Os membros crescem em uma relação díspar, como se estivessem competindo entre si, mas fossem muito diferentes nas competências que os fazem avançar. Os pés crescem mais rápido que as próprias pernas; o nariz dispara com larga vantagem em relação ao resto dos demais elementos que constituem a face; os braços se alongam de uma maneira que faz o tronco parecer pequeno demais para os anexos que carrega. Aqui e ali, pelos começam a surgir sem um padrão aparentemente definido: pernas, braços, axilas. A sombra de uma barba começa a se pronunciar timidamente. Na barriga, um rastilho de pólvora. Com treze anos, talvez você pense em garotas. Talvez você pense em garotos. Talvez você não saiba muito bem o que pensar ou, até mesmo, pensar seja a última coisa que você cogite quando o assunto são garotas. Ou garotos. Talvez seus pés enormes e desproporcionais ainda não estejam crescidos o suficiente para chegar do outro lado da linha. O lado que você tem convicção de certas coisas, o lado em que você já avançou o suficiente para não sentir falta daquilo que precisa deixar para trás ou para se sentir atraído por tudo aquilo que está por vir. Talvez você ainda não tenha avançado o suficiente, mesmo com seus pés enormes, para saber o que é a língua de uma garota, ou de um garoto, operando movimentos circulares e molhados dentro da sua boca. Vagando por essa área nebulosa em que você já não é mais exatamente o que era, mas também não é plenamente o que pode vir a ser [...].
TIMM, André. Modos inacabados de morrer. Rio de Janeiro: Oito e meio, 2016, p. 13. (Fragmento)
O romance Modos inacabados de morrer (2016), do gaúcho, radicado em Santa Catarina, André
Timm, destaca-se no cenário da literatura brasileira, tendo sido finalista do Prêmio São Paulo de
Literatura em 2017. Com base no fragmento apresentado, é INCORRETO afirmar que:
Gabarito comentado
Gabarito: C
Tema central: Esta questão avalia suas habilidades de interpretação de texto, identificando recursos linguísticos que expressam subjetividade e dúvida, além de aspectos estilísticos utilizados em narrativas sobre a transição da adolescência.
Comentário da alternativa C (INCORRETA – GABARITO):
A alternativa afirma que o uso de "aqui", "ali", "talvez", "aparentemente", "se estivessem", "fossem", junto de elementos descritivos, cria realismo e clareza, eliminando margem para subjetividade. Isto está errado: advérbios de dúvida ("talvez", "aparentemente") e formas verbais no subjuntivo ("se estivessem", "fossem") reforçam a insegurança e indefinição típica da adolescência. Além disso, o uso de locuções como "aqui" e "ali" não fixa os fatos, mas amplia o campo de possíveis interpretações, imprimindo subjetividade.
Segundo Bechara (“Moderna Gramática Portuguesa”), o modo subjuntivo e advérbios de dúvida marcam justamente hipóteses, suposições e possibilidades, não certezas.
Análise das alternativas corretas:
A — Correta. O texto retrata questões físicas e emocionais próprias da adolescência, evidenciando incertezas, que são marcas naturais desse período de transição.
B — Correta. O uso de enumeração (“pernas, braços, axilas...”) busca dar ordem ao caos das mudanças, recurso estilístico frequente para descrever desorganizações de forma mais compreensível.
D — Correta. O emprego de “você” diminui a distância entre leitor e narrativa, estratégia eficaz de aproximação (manual de redação: “pronomes pessoais são úteis à empatia em certos contextos literários”).
E — Correta. O texto destaca a desproporção dos pés e as dúvidas sobre sexualidade, retomando esses elementos para aprofundar as angústias juvenis.
Estratégia de resolução: Pela norma-padrão, sempre que encontrar advérbios de dúvida e verbos no subjuntivo, atente-se à presença de subjetividade, incerteza ou hipótese — nunca confunda esses recursos com marcas de precisão objetiva!
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