Questão 412825da-b2
Prova:UFU-MG 2016
Disciplina:História
Assunto:História do Brasil, Era Vargas – 1930-1954

[Populismo] Foi uma construção dos liberais derrotados e, depois, das esquerdas revolucionárias. Para os liberais, eles só poderiam ter perdido porque alguém se deixou ludibriar. Para as esquerdas, que queriam primazia nos movimentos populares, os populistas eram todos os demais, inclusive outros ramos marxistas. Além da direita e da esquerda, juntaram-se nessa poderosa aliança a universidade, tentando dar uma consistência teórica à definição, e a imprensa, difundindo e popularizando a caracterização. O princípio, totalmente improvável, é da existência de uma multidão de tolos, um bando de idiotas, a seguir um líder malicioso e poderosíssimo. Um sujeito capaz de enganar milhões e milhões de pessoas durante décadas.
FERREIRA, Jorge. Todos populistas. Revista Época, 22.set. 2009. Disponível em: . (Adaptado).

O conceito de populismo é largamente utilizado tanto por intelectuais quanto por jornalistas, e mesmo no cotidiano. Recentemente, como se depreende da citação do historiador Jorge Ferreira, tal conceito vem ganhando novos significados em função 

A
da percepção de que, nas grandes políticas nacionais, tal como a legislação trabalhista de Vargas, há um ativo protagonismo das camadas populares em busca do atendimento de suas demandas históricas.
B
da reavaliação do alcance das políticas populistas, como a legislação trabalhista, as quais, para vários autores, só foram efetivamente implementadas entre as camadas rurais.
C
do distanciamento em relação à herança getulista que os governos Lula e Dilma fizeram questão de efetivar.
D
do questionamento da real capacidade da legislação trabalhista em produzir uma efetiva consciência de classe entre os trabalhadores brasileiros.

Gabarito comentado

V
Vanessa CamposMonitor do Qconcursos

Resposta: Alternativa A

Tema central: trata-se do conceito de populismo e de como seu sentido vem sendo ampliado: de um rótulo pejorativo (liderança enganadora) para uma leitura que reconhece o protagonismo das camadas populares nas grandes políticas nacionais — exemplo clássico: a legislação trabalhista da era Vargas (Consolidação das Leis do Trabalho, 1943).

Resumo teórico breve: estudiosos como Ernesto Laclau e outros definem populismo como uma lógica política que constrói a fronteira “povo vs. elites” e incorpora demandas populares, não apenas como demagogia. Historicamente, no Brasil, políticas getulistas combinaram concessões sociais e mobilização de massas, mostrando interação entre Estado, líderes e classes populares (ver Jorge Ferreira e obras sobre o Getulismo).

Por que a alternativa A está correta: A afirma que o conceito ganhou novos sentidos pela percepção do ativo protagonismo das camadas populares em políticas como a CLT. Isso condiz com a mudança terminológica citada no enunciado: o “populismo” passou a ser lido também como expressão de demandas populares atendidas e politizadas, e não só como fraude ou manipulação.

Análise das alternativas incorretas:

B — incorreta: afirma que as políticas populistas foram implementadas sobretudo entre as camadas rurais. Na realidade, a legislação trabalhista varguista teve foco nos trabalhadores urbanos/industriais; as dinâmicas rurais eram distintas.

C — incorreta: diz que Lula e Dilma se distanciaram da herança getulista. A interpretação dominante é de continuidade e reapropriação de políticas sociais e de inclusão, não de ruptura total com a tradição de incorporação social.

D — incorreta: questiona a capacidade da legislação trabalhista em produzir consciência de classe. Esse é um debate teórico possível, mas não responde ao ponto do enunciado sobre a ampliação do significado do termo “populismo” em função do reconhecimento do protagonismo popular.

Dica de prova: ao ler “ganhando novos significados”, busque a alternativa que trate de mudança de sentido conceitual (percepção social/ação popular), não argumentos sobre eficácia ou público-alvo específico.

Fontes úteis: Jorge Ferreira (texto citado), Consolidação das Leis do Trabalho (1943), Laclau, Ernesto — On Populist Reason.

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