Saído do regime servil sem condições para se adaptar rapidamente ao novo
sistema de trabalho, à economia urbano-comercial e à modernização, o "homem
de cor" viu-se duplamente espoliado. Primeiro, porque o ex-agente de trabalho
escravo não recebeu nenhuma indenização, garantia ou assistência; segundo,
porque se viu repentinamente em competição com o branco em ocupações que
eram degradadas e repelidas anteriormente, sem ter meios para enfrentar e
repelir essa forma mais sutil de despojamento social. Só com o tempo é que iria
aparelhar-se para isso, mas de modo tão imperfeito que ainda hoje se sente
impotente para disputar "o trabalho livre na Pátria livre"
FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Difel, 1971, p.47.
Os primeiros anos pós-Abolição, no Brasil, foram marcados por ameaças de convulsão
social e de reorganização do sistema produtivo. Nesse cenário, a força de trabalho estava
marcada
Gabarito comentado
Alternativa correta: C
Tema central: compreensão das transformações no mercado de trabalho após a Abolição (1888): como a libertação dos escravizados alterou a estrutura social e produtiva e favoreceu a entrada massiva de imigrantes no mercado assalariado, enquanto muitos libertos ficaram marginalizados.
Resumo teórico: a Abolição ocorreu sem políticas públicas de inserção (sem terras, indenizações ou assistência). Isso gerou desemprego e precariedade para grande parcela de ex-escravizados. Ao mesmo tempo, o Estado e os cafeicultores incentivaram a imigração europeia (para garantir mão de obra livre e "branquear" o trabalho), o que fez com que imigrantes ocupassem posições crescentes no mercado formal, especialmente na cafeeira e nas áreas urbanas emergentes. (Fontes: Lei Áurea — Lei n.º 3.353/1888; Florestan Fernandes, O negro no mundo dos brancos; Caio Prado Jr.)
Por que a alternativa C é correta: Imigrantes passaram a ter papel de relevo no mercado de trabalho por dois motivos principais: oferta organizada (contratos, imigração subsidiada) e a marginalização institucional e econômica dos libertos, que não receberam meios para competir. O enunciado destaca justamente essa dupla espoliação dos libertos — ponto que casa com a alternativa C.
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta: afirma deslocamento de ex-escravos para o Nordeste. Na realidade, muitos libertos permaneceram nas regiões Sudeste/Centro-Sul onde estava a lavoura cafeeira; o Nordeste não recebeu um fluxo expressivo de ex-escravos pós-Abolição que justificasse a alternativa.
B — Incorreta: exagera a aceleração industrial imediata. A industrialização brasileira foi gradual e limitada nas primeiras décadas; não foi a força dominante capaz de absorver massivamente a força de trabalho no período imediato pós-Abolição.
D — Incorreta: atribui à Abolição uma “forte crise do setor cafeeiro” e crescimento do trabalho de subsistência. Pelo contrário, o café manteve expansão e buscou imigrantes; não houve colapso cafeeiro provocado diretamente pela Abolição.
Dica de prova: identifique no enunciado palavras-chave ("libertos", "competição com o branco", "impossibilidade de adaptação") e relacione com processos conhecidos: imigração incentivada e ausência de políticas públicas. Elimine opções que contrariam fatos regionais ou cronológicos.
Fonte recomendada: Florestan Fernandes, O negro no mundo dos brancos; Lei Áurea (1888); Caio Prado Jr., Formação do Brasil Contemporâneo.
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