Na formação de nossa
identidade nacional, a literatura desempenhou
um papel de extrema importância, determinando temas e modos de expressão que, ainda hoje, são muito presentes em nossa
maneira de ver o mundo e falar sobre ele. Leia
atentamente o trecho a seguir e assinale o que
que se pede:
“Os outros dois, que o Capitão teve nas naus, a
que deu o que já disse, nunca mais aqui
apareceram – do que tiro ser gente bestial, de pouco saber e por isso tão esquiva. Porém e com
tudo isso andam muito bem curados e muito
limpos. E naquilo me parece ainda mais que são
como aves ou alimárias monteses, às quais faz o ar
melhor pena e melhor cabelo que às mansas, porque os corpos seus são tão limpos, tão gordos e
tão formosos, que não pode mais ser.
Isto me faz presumir que não têm casas nem
moradas a que se acolham, e o ar, a que se criam, os faz tais. Nem nós ainda até agora vimos
nenhuma casa ou maneira delas.” CAMINHA, Pero Vaz de. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Disponívelem <http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronic os/carta.pdf>)
No trecho citado, a atitude de Caminha revela
PRINCIPALMENTE:
Gabarito comentado
Tema central: A questão cobra interpretação de texto com foco no conceito sociocultural de etnocentrismo, avaliando como linguagens e julgamentos presentes em textos históricos refletem visões de mundo e de cultura.
Explicação da alternativa correta (C): A palavra-chave aqui é etnocentrismo: a tendência de considerar a própria cultura como referência e superior, analisando o outro a partir de seus próprios valores (Bechara, 2009). No trecho da carta, Caminha compara os indígenas a “aves ou alimárias monteses”, “gente bestial, de pouco saber” — isso revela uma apreciação negativa da diferença cultural, baseando-se em critérios europeus.
Observe como ele descreve espanto pelo fato de os corpos dos indígenas serem “limpos, gordos e formosos”, além de estranhar não terem casas fixas. Ou seja, a todo momento, Caminha interpreta a realidade indígena à luz do que considera ‘normal’ na cultura portuguesa. Isso é, com precisão, o que chamamos de etnocentrismo.
Análise das alternativas incorretas:
A) Racismo: O termo “bestial” soa depreciativo, porém, o texto não expressa um desejo explícito de escravização, nem se baseia em raça, mas em costumes e hábitos culturais — o que diferencia do conceito atual de racismo (Cunha & Cintra, 2013).
B) Tolerância: O trecho não demonstra respeito ou defesa das diferenças, mas sim incompreensão e distanciamento.
D) Xenofobia: A reprovação não é por serem estrangeiros, e sim por não seguirem hábitos europeus, alinhando-se ao conceito de etnocentrismo, não de xenofobia.
E) Autoritarismo: Não aparece no texto nenhuma afirmação ou sugestão de impor costumes; apenas juízo de valor sobre os indígenas.
Dica de estratégia: Em questões desse tipo, busque termos que indiquem surpresa, estranhamento ou juízo de valor em relação ao outro. Sempre questione: “O autor está tentando compreender ou está julgando a partir dos próprios valores?”
Se identificar critérios de julgamento explícitos baseados na cultura do próprio autor, a tendência é que o tema central seja etnocentrismo.
Resumo: A alternativa C está correta pois Caminha julga culturas indígenas a partir dos seus padrões, de acordo com o que prescreve a norma-padrão (cf. Bechara), sendo um exemplo clássico de etnocentrismo nos textos fundadores da literatura brasileira.
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