Questão 410023a6-b2
Prova:UFU-MG 2016
Disciplina:Filosofia
Assunto:

No período clássico, nenhum dos gregos – sejam eles historiadores ou filósofos – registra uma suposta derivação "oriental" da Filosofia. De fato, a partir do momento em que nasce, ela representa uma nova forma de expressão espiritual, com elementos e inflexão únicos.
Sobre o nascimento da filosofia na Grécia e sua relação com o mito, assinale a alternativa INCORRETA

A
Já em seu início, a filosofia pretende explicar a totalidade das coisas, sem exclusão de partes ou momentos, tal como registrado na investigação de Tales, que buscou o princípio de tudo o que existe.
B
A filosofia pretende ser, já em seu início, explicação puramente racional do(s) objeto(s) de sua investigação. Vale aqui o argumento lógico, a motivação razoável, o logos.
C
Os deuses das narrativas antropomórficas são representações, em plano religioso, dos princípios da filosofia naturalística, dispostos, segundo metodologia comum, à razão e ao mito.
D
A filosofia é busca pela verdade segundo impostação teorética, livre de qualquer submissão de natureza pragmática ou de vantagem prática, exercício de pura contemplação.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa C

Tema central: o nascimento da filosofia grega e sua distinção do mito. É preciso entender que, na Grécia antiga, filosofia nasce como tentativa de explicar o mundo por logos (razão, argumento) e busca princípios naturais (archê), diferenciando‑se das narrativas míticas que explicam por antropomorfismos e relatos poéticos.

Resumo teórico: A Filosofia pré‑socrática procura explicações unitárias e racionais para a totalidade das coisas (ex.: Tales procurando a archê — a água — como princípio). O mito usa personificações e narrativas religiosas; o logos propõe argumentos e causas naturais. Autores e obras úteis: Kirk, Raven & Schofield, The Presocratic Philosophers; G. S. Kirk; fragmentos de Xenófanes (crítica à antropomorfização dos deuses).

Por que C está INCORRETA (justificação): a alternativa afirma que os deuses antropomórficos são representações religiosas dos princípios da filosofia naturalística e que mito e razão compartilham metodologia comum. Isso confunde níveis distintos: o mito explica por narrativa e personificação; a filosofia procura explicação racional e causal. Não há, no período clássico, identidade metodológica entre mito e investigação filosófica — portanto a afirmação é falsa. (Ver crítica de Xenófanes ao antropomorfismo e a emergência do logos nos pré‑socráticos.)

Análise das alternativas corretas (por que A, B e D são aceitáveis no contexto):

A — Verdadeira: desde o início a filosofia procura um princípio unificador (archê). Ex.: Tales e a busca pelo princípio único.

B — Verdadeira: a novidade filosófica é a preferência pelo logos — explicação racional e argumentada — sobre a mera tradição mítica ou poética.

D — Aceitável dentro do enunciado: a filosofia grega valoriza a postura teorética (theoria) e a contemplação como forma elevada de conhecimento (Plato/Aristóteles). Observação metodológica para concursos: embora haja filosofia prática, o enunciado generaliza uma característica marcante do ideal grego clássico — o primado da teoria.

Dica para provas: atenção a palavras‑armadilha (por exemplo, “comum”, “metodologia comum”, “puramente”, “livre de qualquer”): verifique se a afirmação respeita a diferença metodológica entre mito (narrativa) e filosofia (argumento). Procure nomes-chave (Tales, logos, archê, Xenófanes) para fundamentar sua escolha.

Fontes/leituras rápidas: Kirk, Raven & Schofield, The Presocratic Philosophers; fragmentos de Xenófanes; introduções à história da filosofia grega (Guthrie, Barnes).

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