Leia o trecho a seguir e
assinale a alternativa que contém uma assertiva
ERRADA sobre o texto: “Explico ao senhor: o
diabo vige dentro do homem, os crespos do
homem – ou é o homem arruinado, ou o homem
dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não
tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O
senhor aprova? Me declare tudo, franco – é alta
mercê que me faz: e pedir posso, encarecido.”
(ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2006. p. 10).
Gabarito comentado
Tema central da questão: O foco principal da questão é interpretação de texto aliada à análise de norma-padrão, com ênfase nas relações entre linguagem coloquial e formal, além de aspectos de variação linguística.
Justificativa da alternativa correta (E):
A alternativa E é a assertiva errada sobre o texto, pois afirma que o uso do verbo ter, em vez de haver (com valor existencial: “não tem diabo nenhum”), decorre de rigorosa atenção à norma-padrão. Gramaticalmente, isso é incorreto: de acordo com a norma culta (Cunha & Cintra, Bechara), o correto em situações formais é empregar “haver” para indicar existência (“não há diabo nenhum”). O uso de “ter” neste sentido é típico da oralidade e da língua coloquial, marca estilística da obra rosiana, e não de respeito à norma-padrão.
Análise das alternativas incorretas:
A) Correta: Palavras como “vige” e “mercê” e as inversões sintáticas (ordem diferente do usual) conferem tom arcaico e estilizado ao trecho, de acordo com análises de autores como Bechara e Rocha Lima.
B) Correta: A classificação de “cidadão” varia segundo o contexto; neste caso, pode sim assumir função de vocativo, dependendo do uso no discurso. Isso demonstra a importância do contexto comunicativo para a análise sintática, algo enfatizado em provas de vestibulares e concursos.
C) Correta: Em “Me declare tudo”, a próclise (“me” antes do verbo) é uma marca de oralidade, regular na linguagem informal, especialmente no português falado do Brasil, não configurando desvio, mas escolha estilística do autor.
D) Correta: “Crespos” está associado à ideia de “dentro do homem” e remete a conteúdos internos e, no contexto, a aspectos negativos ou malignos (diabo), tornando essa leitura semântica válida.
Dica de prova: Atenção a pegadinhas semânticas e normativas: questões desse tipo costumam explorar o contraste entre norma culta e coloquial, levando candidatos desatentos ao erro. Relembre sempre o que preveem gramáticas consagradas!
Conclusão: A assertiva E está errada e, portanto, é a resposta certa. O verbo “ter” com sentido de existência é marca da oralidade, não de rigor à norma escrita padrão.
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