Questão 3f8708cd-b0
Prova:
Disciplina:
Assunto:
I. O emprego do itálico no texto atende a finalidades distintas.II. Os parênteses são usados pelo autor com funções diversas.III. As aspas são sistematicamente utilizadas pelo autor para indicar menções.
Dentre as afirmativas acima, são VERDADEIRAS:
I. O emprego do itálico no texto atende a finalidades distintas.
II. Os parênteses são usados pelo autor com funções diversas.
III. As aspas são sistematicamente utilizadas pelo autor para indicar menções.
Dentre as afirmativas acima, são VERDADEIRAS:
O FASCÍNIO DO ÃORoberto Pompeu de Toledo
1º § O novo estádio do Corinthians, em São Paulo, em tese destinado à abertura da Copa do Mundo de 2014, é
por enquanto um rasgo de imaginação sobre um terreno baldio, mas já tem nome de guerra. O leitor adivinha qual
é? Aí vai uma pista: o local escolhido é o bairro de Itaquera. Agora ficou fácil. O nome é Itaquerão, claro. Antes, os
estádios precisavam ao menos ser construídos, para receber o enobrecimento do “ão” na última sílaba do apelido.
Não mais. Não se sabe sequer quem vai pagar a conta do estádio, ou suposto estádio, do Corinthians, nem existe
projeto definido. Mas o nome já lhe foi pespegado.
2º § O uso do aumentativo para designar estádios de futebol começou com a inauguração, em 1965, do
Mineirão, em Belo Horizonte – oficialmente Estádio Magalhães Pinto, mas desde o primeiro momento, e para
sempre, Mineirão. Fazia sentido. O majestoso Mineirão, com capacidade para 130000 pessoas, nascia como o
segundo estádio brasileiro, só atrás do Maracanã, “o maior do mundo”. Dali em diante, a moda pegou, e a febre de
construção de estádios que assolou o país, a partir do “milagre brasileiro” [...], espalhou ãos pelo país afora.
3º § Era uma questão de honra, para os governadores, construir estádios na capital do estado. A exemplo do
caso mineiro, o governador que iniciasse as obras ganhava, por direito divino, o mimo de ter o nome emprestado
ao do colosso. Mas as homenagens devidas ao governador, à cidade, ao estado e ao estádio não estariam
completas se ao nome não se juntasse um apelido em que se engatasse um ão. Seguiu-se uma floração da qual
constaram, entre outros, o Batistão de Aracaju (Estádio Lourival Batista, 1969), o Castelão de Fortaleza (Estádio
Plácido Castelo, 1973), o Albertão de Teresina (Estádio Alberto Silva, 1976) e o Castelão de São Luís (Estádio
João Castelo, 1982). Os estádios, assim como o próprio campeonato brasileiro de futebol, que chegou a abrigar
quarenta clubes, em 1973, para agradar ao maior número de praças possível, integravam a estratégia panem et
circenses do regime. Sendo que, no caso dos estádios, o circenses incluía um ão que convenientemente
espelhava a grandeza da Pátria Grande concebida para embalar a fantasia dos brasileiros.
4º § Tal era sua força que o ão se disseminou por cidades do interior. Em Presidente Prudente, interior de São
Paulo, surgiu o Prudentão (1982), um entre muitos exemplos. Com o fim do regime militar, ou, antes, com o fim do
milagre econômico e de sua contrapartida de Pátria Grande, transcorreram mais de duas décadas de seca na
construção de estádios. Mesmo porque, nos centros mais óbvios, ou mais vistosos, sob o ponto de vista político, já
tinham sido todos construídos. Mas não desapareceu a memória do ão. Quando, para os Jogos Pan-Americanos,
em 2007, foi inaugurado no Rio de Janeiro o Estádio João Havelange, que apelido ganhou? O leitor não adivinha?
Pista: fica no bairro de Engenho de Dentro. Claro: é Engenhão. No caso do eventual e futuro estádio do
Corinthians, o apelido de ltaquerão prova que o ão sobrevive mesmo à moda recente de chamar estádio de
“arena” (Arena da Baixada, Arena Barueri). E no entanto...
5º § No entanto, o inho é que melhor caracterizaria o brasileiro. Sérgio Buarque de Holanda escreveu, no
clássico Raízes do Brasil (um pouco de erudição faz bem, especialmente ao autor, que se convence de estar
falando coisa séria): “A terminação inho, aposta às palavras, serve para nos familiarizar mais com as pessoas ou
os objetos e, ao mesmo tempo, para lhes dar relevo. É a maneira de fazê-los mais acessíveis aos sentidos e
também de aproximá-los do coração”. A passagem está no famoso capítulo do “homem cordial”, isto é, o homem
regido pelo coração, que seria o brasileiro.
6º § [...] Somos a terra do jeitinho, do favorzinho e do probleminha, invocados sobretudo quando o jeito é
complicado, o favor é grande e o problema insolúvel. Por esse caminho, para melhor se aninhar no coração dos
brasileiros, o Mineirão deveria ser Mineirinho, o Castelão, Castelinho e o Batistão, Batistinha. Ocorre que estádios pertencem a outra esfera. Não foram feitos para cativar, mas para impressionar. Não pedem carinho, mas
reverência, a si mesmos e a seus criadores. Cumprem no Brasil o que há de mais próximo ao papel das catedrais
e das pirâmides, em outras épocas e lugares. Mesmo no caso de uma entidade que é puro espírito, como o
propalado estádio do Corinthians, o brasileiro é levado a considerar uma indelicadeza não chamá-lo de ão.(Veja, 9 mar. 2011, p. 102.)
O FASCÍNIO DO ÃO
Roberto Pompeu de Toledo
1º § O novo estádio do Corinthians, em São Paulo, em tese destinado à abertura da Copa do Mundo de 2014, é
por enquanto um rasgo de imaginação sobre um terreno baldio, mas já tem nome de guerra. O leitor adivinha qual
é? Aí vai uma pista: o local escolhido é o bairro de Itaquera. Agora ficou fácil. O nome é Itaquerão, claro. Antes, os
estádios precisavam ao menos ser construídos, para receber o enobrecimento do “ão” na última sílaba do apelido.
Não mais. Não se sabe sequer quem vai pagar a conta do estádio, ou suposto estádio, do Corinthians, nem existe
projeto definido. Mas o nome já lhe foi pespegado.
2º § O uso do aumentativo para designar estádios de futebol começou com a inauguração, em 1965, do
Mineirão, em Belo Horizonte – oficialmente Estádio Magalhães Pinto, mas desde o primeiro momento, e para
sempre, Mineirão. Fazia sentido. O majestoso Mineirão, com capacidade para 130000 pessoas, nascia como o
segundo estádio brasileiro, só atrás do Maracanã, “o maior do mundo”. Dali em diante, a moda pegou, e a febre de
construção de estádios que assolou o país, a partir do “milagre brasileiro” [...], espalhou ãos pelo país afora.
3º § Era uma questão de honra, para os governadores, construir estádios na capital do estado. A exemplo do
caso mineiro, o governador que iniciasse as obras ganhava, por direito divino, o mimo de ter o nome emprestado
ao do colosso. Mas as homenagens devidas ao governador, à cidade, ao estado e ao estádio não estariam
completas se ao nome não se juntasse um apelido em que se engatasse um ão. Seguiu-se uma floração da qual
constaram, entre outros, o Batistão de Aracaju (Estádio Lourival Batista, 1969), o Castelão de Fortaleza (Estádio
Plácido Castelo, 1973), o Albertão de Teresina (Estádio Alberto Silva, 1976) e o Castelão de São Luís (Estádio
João Castelo, 1982). Os estádios, assim como o próprio campeonato brasileiro de futebol, que chegou a abrigar
quarenta clubes, em 1973, para agradar ao maior número de praças possível, integravam a estratégia panem et
circenses do regime. Sendo que, no caso dos estádios, o circenses incluía um ão que convenientemente
espelhava a grandeza da Pátria Grande concebida para embalar a fantasia dos brasileiros.
4º § Tal era sua força que o ão se disseminou por cidades do interior. Em Presidente Prudente, interior de São
Paulo, surgiu o Prudentão (1982), um entre muitos exemplos. Com o fim do regime militar, ou, antes, com o fim do
milagre econômico e de sua contrapartida de Pátria Grande, transcorreram mais de duas décadas de seca na
construção de estádios. Mesmo porque, nos centros mais óbvios, ou mais vistosos, sob o ponto de vista político, já
tinham sido todos construídos. Mas não desapareceu a memória do ão. Quando, para os Jogos Pan-Americanos,
em 2007, foi inaugurado no Rio de Janeiro o Estádio João Havelange, que apelido ganhou? O leitor não adivinha?
Pista: fica no bairro de Engenho de Dentro. Claro: é Engenhão. No caso do eventual e futuro estádio do
Corinthians, o apelido de ltaquerão prova que o ão sobrevive mesmo à moda recente de chamar estádio de
“arena” (Arena da Baixada, Arena Barueri). E no entanto...
5º § No entanto, o inho é que melhor caracterizaria o brasileiro. Sérgio Buarque de Holanda escreveu, no
clássico Raízes do Brasil (um pouco de erudição faz bem, especialmente ao autor, que se convence de estar
falando coisa séria): “A terminação inho, aposta às palavras, serve para nos familiarizar mais com as pessoas ou
os objetos e, ao mesmo tempo, para lhes dar relevo. É a maneira de fazê-los mais acessíveis aos sentidos e
também de aproximá-los do coração”. A passagem está no famoso capítulo do “homem cordial”, isto é, o homem
regido pelo coração, que seria o brasileiro.
6º § [...] Somos a terra do jeitinho, do favorzinho e do probleminha, invocados sobretudo quando o jeito é
complicado, o favor é grande e o problema insolúvel. Por esse caminho, para melhor se aninhar no coração dos
brasileiros, o Mineirão deveria ser Mineirinho, o Castelão, Castelinho e o Batistão, Batistinha. Ocorre que estádios pertencem a outra esfera. Não foram feitos para cativar, mas para impressionar. Não pedem carinho, mas
reverência, a si mesmos e a seus criadores. Cumprem no Brasil o que há de mais próximo ao papel das catedrais
e das pirâmides, em outras épocas e lugares. Mesmo no caso de uma entidade que é puro espírito, como o
propalado estádio do Corinthians, o brasileiro é levado a considerar uma indelicadeza não chamá-lo de ão.
(Veja, 9 mar. 2011, p. 102.)
A
I e II, apenas.
B
II e III, apenas.
C
I e III, apenas.
D
Todas.