Leia os três poemas da obra As tocantinas, de Célio Pedreira, para responder a QUESTÃO.

Meio dia

Melhor trilha de morrência

nessa beira do rio

é estar-se rede

de quieto balançar.

Os calangos no quintal

a rala sombra do pé de mamona

imóveis a pulsar a terra.

A vida esconde

numa pausa morna

breve e boa.

Silêncio melhor para o nada

feito querer ausente

e a cidade dizendo um solapino.

Canoeiro

Um olhar

fica na margem do rio.

Outro olhar vai

alcançar a possibilidade

de semear estrelas

acordar horizontes.

Pinguela

Antes da gente

era a curva do rio

cuidando as lonjuras.

E a gente

simples andorinhas

passíveis de azul

na tarde veloz.

Bulindo em correntezas

como fosse hábeis sem rumo

ou esquecidos dele.

Ainda dissipa o dia

e seu aroma desenterra-me

em conta-gotas

nas inumeráveis utopias

que descuidei nosso rio.

Fonte: PEDREIRA, Célio. As tocantinas. Palmas, TO: Universidade Federal do Tocantins/EDUFT, 2014.

A partir da leitura dos três poemas, analise as alternativas e assinale a opção INCORRETA. 

Tema central: Interpretação de Texto.
Aqui, o foco está na identificação do eu-lírico, seus sentimentos e as temáticas predominantes dos poemas, conforme orientam autores consagrados como Bechara e Cunha & Cintra.

Justificativa – Alternativa A (INCORRETA):
A alternativa A — “O eu-lírico expõe as dores da desilusão amorosa e da solidão.” — está INCORRETA porque, ao analisarmos os poemas, percebemos que o eu-lírico não apresenta sofrimento sentimental, desilusões amorosas ou isolamento, e sim apreciação pela vida cotidiana, conexão com a natureza, contemplação e memória.

Em “Meio dia”, há uma ambientação tranquila, com imagens do balançar da rede e do silêncio morno, sem qualquer sinal de dor amorosa. Em “Canoeiro”, o foco está nas possibilidades, na busca, no olhar lançando-se ao horizonte — uma mensagem de esperança, não de tristeza. Já “Pinguela” enfatiza movimento, lembranças e utopias abandonadas, novamente sem marcas de decepção amorosa ou solidão profunda.

As alternativas corretas e seus fundamentos:

B) O eu-lírico revela relação com o rio e as coisas simples do cotidiano: o rio é elemento simbólico-central em todos os poemas, assim como a vida cotidiana simples (“rede”, “calangos”, “quintal”).
C) O poeta utiliza imagens simbólicas e pontes entre o vivido e o imaginado: exemplos de metáforas e simbologias são abundantes (“semear estrelas”, “passíveis de azul”, “aroma desenterra-me”).
D) Há percursos de memória, misturando memória pessoal e cultural: referências ao passado, à coletividade do “rio” e às tradições permitem pensar na memória como algo coletivo e subjetivo ao mesmo tempo.

Orientação estratégica: Sempre busque conexões claras entre o que é afirmado nas alternativas e o que o texto efetivamente apresenta. Questões de interpretação costumam inserir alternativas com temas deslocados (como “desilusão amorosa”), pois muitos candidatos se confundem diante de temas subjetivos. Ao identificar o tema do poema, priorize as palavras-chave e o tom geral do texto!

Referência normativa: Conforme Moderna Gramática Portuguesa (Evanildo Bechara), o eu-lírico expressa sentimentos que nem sempre refletem o sofrimento ou solidão, mas sim a sensibilidade diante do cotidiano e da natureza.

Portanto, resposta correta: A

Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!