Questão 3f7d6def-b0
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Assinale a alternativa em que a reformulação do trecho transcrito entre parênteses implique erro linguístico ou
mudança de sentido.
Assinale a alternativa em que a reformulação do trecho transcrito entre parênteses implique erro linguístico ou
mudança de sentido.
O FASCÍNIO DO ÃORoberto Pompeu de Toledo
1º § O novo estádio do Corinthians, em São Paulo, em tese destinado à abertura da Copa do Mundo de 2014, é
por enquanto um rasgo de imaginação sobre um terreno baldio, mas já tem nome de guerra. O leitor adivinha qual
é? Aí vai uma pista: o local escolhido é o bairro de Itaquera. Agora ficou fácil. O nome é Itaquerão, claro. Antes, os
estádios precisavam ao menos ser construídos, para receber o enobrecimento do “ão” na última sílaba do apelido.
Não mais. Não se sabe sequer quem vai pagar a conta do estádio, ou suposto estádio, do Corinthians, nem existe
projeto definido. Mas o nome já lhe foi pespegado.
2º § O uso do aumentativo para designar estádios de futebol começou com a inauguração, em 1965, do
Mineirão, em Belo Horizonte – oficialmente Estádio Magalhães Pinto, mas desde o primeiro momento, e para
sempre, Mineirão. Fazia sentido. O majestoso Mineirão, com capacidade para 130000 pessoas, nascia como o
segundo estádio brasileiro, só atrás do Maracanã, “o maior do mundo”. Dali em diante, a moda pegou, e a febre de
construção de estádios que assolou o país, a partir do “milagre brasileiro” [...], espalhou ãos pelo país afora.
3º § Era uma questão de honra, para os governadores, construir estádios na capital do estado. A exemplo do
caso mineiro, o governador que iniciasse as obras ganhava, por direito divino, o mimo de ter o nome emprestado
ao do colosso. Mas as homenagens devidas ao governador, à cidade, ao estado e ao estádio não estariam
completas se ao nome não se juntasse um apelido em que se engatasse um ão. Seguiu-se uma floração da qual
constaram, entre outros, o Batistão de Aracaju (Estádio Lourival Batista, 1969), o Castelão de Fortaleza (Estádio
Plácido Castelo, 1973), o Albertão de Teresina (Estádio Alberto Silva, 1976) e o Castelão de São Luís (Estádio
João Castelo, 1982). Os estádios, assim como o próprio campeonato brasileiro de futebol, que chegou a abrigar
quarenta clubes, em 1973, para agradar ao maior número de praças possível, integravam a estratégia panem et
circenses do regime. Sendo que, no caso dos estádios, o circenses incluía um ão que convenientemente
espelhava a grandeza da Pátria Grande concebida para embalar a fantasia dos brasileiros.
4º § Tal era sua força que o ão se disseminou por cidades do interior. Em Presidente Prudente, interior de São
Paulo, surgiu o Prudentão (1982), um entre muitos exemplos. Com o fim do regime militar, ou, antes, com o fim do
milagre econômico e de sua contrapartida de Pátria Grande, transcorreram mais de duas décadas de seca na
construção de estádios. Mesmo porque, nos centros mais óbvios, ou mais vistosos, sob o ponto de vista político, já
tinham sido todos construídos. Mas não desapareceu a memória do ão. Quando, para os Jogos Pan-Americanos,
em 2007, foi inaugurado no Rio de Janeiro o Estádio João Havelange, que apelido ganhou? O leitor não adivinha?
Pista: fica no bairro de Engenho de Dentro. Claro: é Engenhão. No caso do eventual e futuro estádio do
Corinthians, o apelido de ltaquerão prova que o ão sobrevive mesmo à moda recente de chamar estádio de
“arena” (Arena da Baixada, Arena Barueri). E no entanto...
5º § No entanto, o inho é que melhor caracterizaria o brasileiro. Sérgio Buarque de Holanda escreveu, no
clássico Raízes do Brasil (um pouco de erudição faz bem, especialmente ao autor, que se convence de estar
falando coisa séria): “A terminação inho, aposta às palavras, serve para nos familiarizar mais com as pessoas ou
os objetos e, ao mesmo tempo, para lhes dar relevo. É a maneira de fazê-los mais acessíveis aos sentidos e
também de aproximá-los do coração”. A passagem está no famoso capítulo do “homem cordial”, isto é, o homem
regido pelo coração, que seria o brasileiro.
6º § [...] Somos a terra do jeitinho, do favorzinho e do probleminha, invocados sobretudo quando o jeito é
complicado, o favor é grande e o problema insolúvel. Por esse caminho, para melhor se aninhar no coração dos
brasileiros, o Mineirão deveria ser Mineirinho, o Castelão, Castelinho e o Batistão, Batistinha. Ocorre que estádios pertencem a outra esfera. Não foram feitos para cativar, mas para impressionar. Não pedem carinho, mas
reverência, a si mesmos e a seus criadores. Cumprem no Brasil o que há de mais próximo ao papel das catedrais
e das pirâmides, em outras épocas e lugares. Mesmo no caso de uma entidade que é puro espírito, como o
propalado estádio do Corinthians, o brasileiro é levado a considerar uma indelicadeza não chamá-lo de ão.(Veja, 9 mar. 2011, p. 102.)
O FASCÍNIO DO ÃO
Roberto Pompeu de Toledo
1º § O novo estádio do Corinthians, em São Paulo, em tese destinado à abertura da Copa do Mundo de 2014, é
por enquanto um rasgo de imaginação sobre um terreno baldio, mas já tem nome de guerra. O leitor adivinha qual
é? Aí vai uma pista: o local escolhido é o bairro de Itaquera. Agora ficou fácil. O nome é Itaquerão, claro. Antes, os
estádios precisavam ao menos ser construídos, para receber o enobrecimento do “ão” na última sílaba do apelido.
Não mais. Não se sabe sequer quem vai pagar a conta do estádio, ou suposto estádio, do Corinthians, nem existe
projeto definido. Mas o nome já lhe foi pespegado.
2º § O uso do aumentativo para designar estádios de futebol começou com a inauguração, em 1965, do
Mineirão, em Belo Horizonte – oficialmente Estádio Magalhães Pinto, mas desde o primeiro momento, e para
sempre, Mineirão. Fazia sentido. O majestoso Mineirão, com capacidade para 130000 pessoas, nascia como o
segundo estádio brasileiro, só atrás do Maracanã, “o maior do mundo”. Dali em diante, a moda pegou, e a febre de
construção de estádios que assolou o país, a partir do “milagre brasileiro” [...], espalhou ãos pelo país afora.
3º § Era uma questão de honra, para os governadores, construir estádios na capital do estado. A exemplo do
caso mineiro, o governador que iniciasse as obras ganhava, por direito divino, o mimo de ter o nome emprestado
ao do colosso. Mas as homenagens devidas ao governador, à cidade, ao estado e ao estádio não estariam
completas se ao nome não se juntasse um apelido em que se engatasse um ão. Seguiu-se uma floração da qual
constaram, entre outros, o Batistão de Aracaju (Estádio Lourival Batista, 1969), o Castelão de Fortaleza (Estádio
Plácido Castelo, 1973), o Albertão de Teresina (Estádio Alberto Silva, 1976) e o Castelão de São Luís (Estádio
João Castelo, 1982). Os estádios, assim como o próprio campeonato brasileiro de futebol, que chegou a abrigar
quarenta clubes, em 1973, para agradar ao maior número de praças possível, integravam a estratégia panem et
circenses do regime. Sendo que, no caso dos estádios, o circenses incluía um ão que convenientemente
espelhava a grandeza da Pátria Grande concebida para embalar a fantasia dos brasileiros.
4º § Tal era sua força que o ão se disseminou por cidades do interior. Em Presidente Prudente, interior de São
Paulo, surgiu o Prudentão (1982), um entre muitos exemplos. Com o fim do regime militar, ou, antes, com o fim do
milagre econômico e de sua contrapartida de Pátria Grande, transcorreram mais de duas décadas de seca na
construção de estádios. Mesmo porque, nos centros mais óbvios, ou mais vistosos, sob o ponto de vista político, já
tinham sido todos construídos. Mas não desapareceu a memória do ão. Quando, para os Jogos Pan-Americanos,
em 2007, foi inaugurado no Rio de Janeiro o Estádio João Havelange, que apelido ganhou? O leitor não adivinha?
Pista: fica no bairro de Engenho de Dentro. Claro: é Engenhão. No caso do eventual e futuro estádio do
Corinthians, o apelido de ltaquerão prova que o ão sobrevive mesmo à moda recente de chamar estádio de
“arena” (Arena da Baixada, Arena Barueri). E no entanto...
5º § No entanto, o inho é que melhor caracterizaria o brasileiro. Sérgio Buarque de Holanda escreveu, no
clássico Raízes do Brasil (um pouco de erudição faz bem, especialmente ao autor, que se convence de estar
falando coisa séria): “A terminação inho, aposta às palavras, serve para nos familiarizar mais com as pessoas ou
os objetos e, ao mesmo tempo, para lhes dar relevo. É a maneira de fazê-los mais acessíveis aos sentidos e
também de aproximá-los do coração”. A passagem está no famoso capítulo do “homem cordial”, isto é, o homem
regido pelo coração, que seria o brasileiro.
6º § [...] Somos a terra do jeitinho, do favorzinho e do probleminha, invocados sobretudo quando o jeito é
complicado, o favor é grande e o problema insolúvel. Por esse caminho, para melhor se aninhar no coração dos
brasileiros, o Mineirão deveria ser Mineirinho, o Castelão, Castelinho e o Batistão, Batistinha. Ocorre que estádios pertencem a outra esfera. Não foram feitos para cativar, mas para impressionar. Não pedem carinho, mas
reverência, a si mesmos e a seus criadores. Cumprem no Brasil o que há de mais próximo ao papel das catedrais
e das pirâmides, em outras épocas e lugares. Mesmo no caso de uma entidade que é puro espírito, como o
propalado estádio do Corinthians, o brasileiro é levado a considerar uma indelicadeza não chamá-lo de ão.
(Veja, 9 mar. 2011, p. 102.)
A
O estádio novo do Corinthians, em São Paulo, a princípio destinado à abertura da Copa do Mundo de 2014, é, ainda, um rasgo de imaginação sobre um terreno baldio, contudo já tem apelido.
(O novo estádio do Corinthians, em São Paulo, em tese destinado à abertura da Copa do Mundo de 2014, é por enquanto um rasgo de imaginação sobre um terreno baldio, mas já tem nome de guerra. – 1º §)
B
A exemplo do caso de Minas Gerais, o governador que desse início às obras ganhava, por direito divino, o
mimo de ter seu nome emprestado ao do estádio.
(A exemplo do caso mineiro, o governador que iniciasse as obras ganhava, por direito divino, o mimo de ter o nome emprestado ao do
colosso. – 3º §)
C
Tamanha era a força do ão que ele se espalhou por cidades do interior. Em Presidente Prudente, no interior
de São Paulo, surgiu o Prudentão (1982), um entre diversos exemplos.
(Tal era sua força que o ão se disseminou por cidades do interior. Em Presidente Prudente, interior de São Paulo, surgiu o Prudentão
(1982), um entre muitos exemplos. – 4º §)
D
Por esse caminho, a fim de melhor se aninhar no coração dos brasileiros, o Mineirão deveria ser Mineirinho, o
Castelão deveria ser Castelinho e o Batistão, Batistinha.
(Por esse caminho, para melhor se aninhar no coração dos brasileiros, o Mineirão deveria ser Mineirinho, o Castelão, Castelinho e o
Batistão, Batistinha. – 6º §)