Questão 3e2d14ec-34
Prova:PUC - SP 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu
Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
Mas na sombra teus olhos resplandecem
enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
E ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos
edifícios
Provam apenas que a vida prossegue
E nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
Prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

O poema acima integra a obra Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade. Considerando-o como um todo, NÃO é correto afirmar que é um poema

A
político e existencial de grande intensidade, representante da poesia social de Drummond.
B
isento de ênfases negativas, visto que reconhece a necessidade de perceber que a vida é uma ordem, sem mistificação.
C
questionador da relação conflituosa entre o indivíduo e o mundo, numa perspectiva antirromântica, chamando a vida que há por se fazer.
D
com linguagem coloquial e imagens diretas altamente expressivas, o que carrega ainda mais o poema de grande tensão poética.
E
que mostra a vida sem ilusões vãs, com sobriedade, clareza e desencanto irônico, amargo, embora não resignado.

Gabarito comentado

N
Nilo AbreuMentor Qconcursos

Interpretação de Texto – Poesia Moderna

A questão aborda interpretação textual de um poema de Carlos Drummond de Andrade, exigindo sensibilidade para captar sentido, tom e intenções do eu lírico. Para resolver, é fundamental analisar o conjunto de imagens, o vocabulário e a atmosfera do texto.

Análise das alternativas:

Alternativa B (Gabarito – INCORRETA): Embora afirme que o poema reconhece a vida como “uma ordem, sem mistificação”, ignora as intensas ênfases negativas presentes. Termos como “o amor resultou inútil”, “o coração está seco”, “ficaste sozinho”, “já não sabes sofrer”, mostram desencanto, amargor e solidão, elementos incompatíveis com um texto “isento de ênfases negativas”. Ou seja, a norma padrão de leitura textual exige perceber a tonalidade melancólica, segundo a orientação de referência em Celso Cunha & Lindley Cintra.

Alternativa A: Correta, pois o poema evidencia questões coletivas e existenciais, explorando a solidão, a luta cotidiana e a reflexão social — características da poesia social drummondiana.

Alternativa C: Correta, pois evidencia o questionamento da relação indivíduo-mundo, em tom antirromântico, valorizando a dureza da vida real e a ausência de ilusões, explicitados em “A vida apenas, sem mistificação”.

Alternativa D: Correta, ao perceber a linguagem coloquial e direta (ex.: “os ombros suportam o mundo”) e rico uso de imagens, aumentando a tensão poética — conforme explica Evanildo Bechara sobre expressividade textual.

Alternativa E: Correta, pois o texto exibe sobriedade e desencanto irônico (“Chegou um tempo em que não adianta morrer”), sem se resignar.

DICA DE PROVA: Cuidado com generalizações: expressões como “isento de ênfases negativas” podem ocultar constrastes e sentimentos presentes no texto. Atente-se ao vocabulário e ao tom usado pelo autor.

Resumo: A alternativa B está incorreta por negar a presença de negatividade e desencanto no poema, ao contrário do que o texto expressa claramente. As demais estão em conformidade com a leitura crítica e sensível do poema moderno, segundo as principais gramáticas e análises literárias.

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