Questão 3e27a870-34
Prova:PUC - SP 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Vidas Secas, novela de Graciliano Ramos, apesar de ser uma obra sobre a natureza inóspita e a miséria do nordeste, apresenta um texto marcadamente estético e lírico, que alcança os limites da poesia. Assim, indique, nas alternativas abaixo, a que apresenta trecho com linguagem cuja função é dominantemente poética.

A
Alguns dias antes estava sossegado, preparando látegos, consertando cercas. De repente, um risco no céu, outros riscos, milhares de riscos juntos, nuvens, o medonho rumor de asas a anunciar destruição. Ele já andava meio desconfiado vendo as fontes minguarem. E olhava com desgosto a brancura das manhãs longas e a vermelhidão sinistra das tardes.
B
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.
C
Cavou a areia com as unhas, esperou que a água marejasse e, debruçando-se no chão, bebeu muito. Saciado, caiu de papo para cima, olhando as estrelas, que vinham nascendo. O poente cobria-se de cirros – e uma alegria doida enchia o coração de Fabiano.
D
Deu-se aquilo porque Sinha Vitória não conversou um instante com o menino mais velho. Ele nunca tinha ouvido falar em inferno. Estranhando a linguagem de Sinha Terta, pediu informações. Sinha Vitória, distraída, aludiu vagamente a certo lugar ruim demais e, como o filho exigisse uma descrição, encolheu os ombros.
E
– Fabiano, meu filho, tem coragem. Tem vergonha, Fabiano. Mata o soldado amarelo. Os soldados amarelos são uns desgraçados que precisam morrer. Mata o soldado amarelo e os que mandam nele.

Gabarito comentado

P
Pedro Fonseca Monitor do Qconcursos

Tema central: Função poética da linguagem, ligada à interpretação de texto. Saber identificar a função poética é fundamental em provas, pois envolve reconhecer quando o autor faz uso de recursos estéticos para provocar efeito sensorial e artístico no leitor, valorizando a forma da mensagem.

Justificativa da alternativa correta (A):

A alternativa A apresenta, de maneira clara, predominância da função poética. Observe:

  • Uso de repetições: “um risco no céu, outros riscos, milhares de riscos juntos” – recurso de sonoridade e ritmo.
  • Emprego de metáforas: “riscos no céu” para designar um fenômeno natural.
  • Forte carga sensorial: “a brancura das manhãs longas”, “a vermelhidão sinistra das tardes”.

Segundo Roman Jakobson e Evanildo Bechara, essa função visa realçar a estética do texto, destacando a mensagem em si, não apenas o conteúdo. O leitor é envolvido pelo valor expressivo das palavras.

Análise das alternativas incorretas:

  • B) Narrativa descritiva, sem valorização estética; predomina a função referencial (informativa).
  • C) Embora traga descrições (“olhando as estrelas, que vinham nascendo”), mantém-se mais próxima do factual, sem explorar intensamente recursos estilísticos.
  • D) Trecho objetivo, informativo e explicativo; ausência de linguagem poética.
  • E) Discurso direto, com tom apelativo, típico da função conativa (persuasiva), e não poética.

Estratégia para provas: Ao buscar a função poética, fique atento a figuras de linguagem (metáfora, aliteração, antítese), ritmo, sonoridade e imagens sensoriais. Textos literários costumam misturar funções, mas a alternativa correta é aquela em que a forma predomina sobre o conteúdo.

Referências: Bechara, Moderna Gramática Portuguesa; Cunha & Cintra, Nova Gramática; Jakobson, “Linguística e Poética”.

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