Foi por ter lido Aristóteles no original grego, e não em traduções latinas medievais, que o filósofo do
século XVI Pietro Pompanazzi se convenceu de que seu predecessor medieval São Tomás de Aquino se
enganara ao sugerir que Aristóteles doutrinava a imortalidade da alma. Isto era pôr em dúvida toda a
síntese tomista entre a doutrina cristã e Aristóteles. Assim, a procura de traduções exatas teve como
inesperada consequência a descoberta de que as ideias dos muito admirados antigos eram afinal mais
remotas e estranhas do que havia sido admitido inicialmente.
BURKE, Peter. O Renascimento. Lisboa: Texto & Grafia, s/d, p. 30. Adaptado
Considerando o contexto histórico do século XVI e as características do Renascimento exploradas no
trecho acima, compreende-se que:
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa D
Tema central: a questão explora uma característica-chave do Renascimento: o movimento ad fontes — busca dos textos na sua língua e forma originais — e as consequências intelectuais dessa prática. Para responder, é necessário conhecer o contexto humanista do século XVI e a crítica à transmissão medieval dos textos clássicos.
Resumo teórico (claro e progressivo): no Renascimento, humanistas como Petrarca, Erasmo e estudiosos do século XVI defenderam a leitura dos autores antigos em grego e latim clássicos, em vez de traduções medievais. Essa atitude filológica visava recuperar sentidos originais e corrigir erros acumulados. A expressão latina ad fontes sintetiza essa postura. Ler Aristóteles no original podia, como no caso de Pomponazzi, revelar divergências entre o Aristóteles grego e as interpretações escolásticas latinas (ver: Peter Burke, O Renascimento).
Por que D é correta: a alternativa afirma que "a busca por traduções mais fiéis dos originais antigos foi preocupação tipicamente renascentista" — e isso corresponde ao núcleo do humanismo renascentista. O exemplo do enunciado (Pomponazzi lendo o grego e confrontando a tradição tomista) ilustra exatamente essa prática e seu efeito crítico. A ideia de recuperar e corrigir textos antigos é típica e bem documentada da época.
Análise das alternativas incorretas
A: "Traduções latinas medievais... mantiveram-se fiéis" — incorreta. Muitas traduções medievais eram mediadas (às vezes por versões árabes) e continham interpretações ou erros; o próprio impulso renascentista surgiu para corrigir essas distorções.
B: "A crítica à escolástica implicou o abandono de Aristóteles" — incorreta. Houve crítica às leituras escolásticas de Aristóteles, mas não abandono generalizado da obra; pelo contrário, humanistas releram e prestigiaram Aristóteles nos originais, buscando reinterpretá-lo.
C: "O Renascimento pôs em dúvida o preceito cristão da imortalidade da alma" — incorreta por generalização. Algumas correntes e autores questionaram doutrinas específicas, mas o movimento renascentista como um todo não teve essa única direção; a questão do enunciado mostra um caso particular (Pomponazzi), não uma pauta universal.
Estratégia para provas: procure palavras-chave como "tipicamente", "geralmente" e relacione-as ao contexto histórico. Verifique se a alternativa generaliza a partir de um caso pontual (atenção às pegadinhas). Sempre conecte o enunciado ao conceito histórico mais amplo (aqui, ad fontes e filologia humanista).
Referência útil: Peter Burke, O Renascimento — leitura recomendada para entender o movimento humanista e a reavaliação dos textos antigos.
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