A sociedade se reconfigurou como tendo se oposto, sempre, à ditadura. Apagou-se da memória o amplo movimento de massas que, através das Marchas da Família com Deus e pela Liberdade, legitimou a instauração da ditadura.

(Daniel Aarão Reis. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. p. 71. Adaptado.)

Refletindo sobre a Lei da Anistia aprovada no Brasil em agosto de 1979, o autor aborda um processo de reconstrução histórica que se caracteriza pela:

Alternativa correta: D - produção do esquecimento

Tema central: memória coletiva e a interpretação histórica da Lei da Anistia (Lei nº 6.683/1979). A questão trata de como processos públicos e políticos podem reconfigurar lembranças sociais — neste caso, apagar o papel de movimentos de massas que apoiaram a ditadura.

Resumo teórico: Estudos de memória (memorialística) distinguem lembrança, esquecimento e silenciamento. A expressão citada — “apagou-se da memória” — indica deliberada ou estruturada produção do esquecimento, um processo em que grupos, instituições ou narrativas públicas suprimem fatos inconvenientes. Fontes relevantes: Lei da Anistia (Lei nº 6.683/1979) e pesquisas de historiadores como Daniel Aarão Reis (Ditadura militar, esquerdas e sociedade, Zahar, 2005) e trabalhos sobre memória e verdade (ex.: Comissão Nacional da Verdade).

Justificativa da alternativa correta: O enunciado afirma que se “apagou da memória” o amplo movimento que legitimou a ditadura. Isso descreve exatamente a produção do esquecimento: reescrever coletivamente o passado omitindo ou minimizando participação relevante. Portanto, D é a escolha adequada.

Análise das alternativas incorretas:

A — estigmatização da política: refere-se a descrédito ou desprestígio da política; o enunciado trata de omissão de lembrança, não de estigma.

B — valorização da objetividade: não há indicação de busca por neutralidade científica; trata-se de reconstrução seletiva da memória, oposta ao ideal de objetividade.

C — superação do conflito: sugeriria reconciliação ou encerramento do conflito; o trecho indica ocultação de uma responsabilidade histórica, não necessariamente superação.

E — consolidação da justiça: contraria o sentido do texto: a anistia e a narrativa pública que “apaga” fatos frequentemente impedem responsabilizações — ou seja, não consolidam justiça, mas podem obscurecê-la.

Dica de interpretação: procure palavras-chave no enunciado (ex.: “apagou-se”, “legitimou”) — elas indicam ato de ocultamento e responsabilidade social. Relacione sempre com fatos históricos conhecidos (Marchas da Família, Lei nº 6.683/1979, Comissão Nacional da Verdade).

Referências úteis: Lei nº 6.683/1979 (Lei da Anistia); Daniel Aarão Reis, Ditadura militar, esquerdas e sociedade (Zahar, 2005).

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