O texto traduz um discurso típico do período da Guerra Fria, quando a retórica de forte passionalidade era utilizada pelos dois campos ideológicos em luta: o capitalista, conduzido por Washington, e o socialista, liderado por Moscou.
É tremenda injustiça comparar Khrushtchev a Hitler. A arrogância, a truculência, a insensibilidade brutal do ditador soviético são inéditas na História do mundo. Nunca se viu, desde os tempos de Gengis Khan, tamanho desprezo pelos valores da civilização ou maior falta de escrúpulos. Estarrecido, o mundo, ao mesmo tempo em que se inteirava da consumação das ameaças de Khrushtchev de fazer explodir a superbomba de 50 megatons, lia a resposta dele ao apelo dos deputados trabalhistas ingleses para que desistisse da explosão. Em lugar de responder como faria um homem civilizado e dotado de qualquer vestígio de decência ou de sentimento de humanidade, Khrushtchev replicou, com todo o seu furor vesânico, para ameaçar a Inglaterra de destruição total,
assegurando que ela seria riscada do mapa.
O trecho acima, extraído e adaptado do jornal O Globo, é parte do editorial “Ditador fanático quer subjugar o mundo pelo terror”, publicado na primeira página da edição de 1.º de novembro de 1961. Considerando a retórica do editorial, o ano em que foi publicado e o contexto histórico em que se inscreve, além de aspectos marcantes da história do século XX, julgue os itens de 105 a 109.
É tremenda injustiça comparar Khrushtchev a Hitler. A arrogância, a truculência, a insensibilidade brutal do ditador soviético são inéditas na História do mundo. Nunca se viu, desde os tempos de Gengis Khan, tamanho desprezo pelos valores da civilização ou maior falta de escrúpulos. Estarrecido, o mundo, ao mesmo tempo em que se inteirava da consumação das ameaças de Khrushtchev de fazer explodir a superbomba de 50 megatons, lia a resposta dele ao apelo dos deputados trabalhistas ingleses para que desistisse da explosão. Em lugar de responder como faria um homem civilizado e dotado de qualquer vestígio de decência ou de sentimento de humanidade, Khrushtchev replicou, com todo o seu furor vesânico, para ameaçar a Inglaterra de destruição total,
assegurando que ela seria riscada do mapa.
Gabarito comentado
Gabarito: C — Certo
Tema central: a questão testa a leitura de contexto histórico e discursivo — trata-se de identificar uma retórica típica da Guerra Fria: editoriais e pronunciamentos que exageravam ameaças do “outro campo”, usando linguagem passionais e desumanizadoras para mobilizar opinião pública.
Resumo teórico: durante a Guerra Fria (aprox. 1947–1991) a polarização bipolar (EUA/OTAN vs. URSS/bloco socialista) não se limitou a armamentos; incluiu intensa guerra de imagens e propaganda. Discursos e jornais de ambos os lados frequentemente empregavam hipérbole, personificação do inimigo e tom apocalíptico para sustentar a legitimidade nacional e justificar posturas de segurança. Exemplos concretos de 1961: o teste da bomba soviética de ~50 megatons (a “Tsar Bomba”, 30 out. 1961) e um clima internacional já tensionado após a construção do Muro de Berlim (agosto/1961). (Ver: Britannica — "Cold War"; Britannica — "Tsar Bomba".)
Por que a alternativa C é correta: o trecho do editorial usa linguagem inflamável (“ditador”, “furor vesânico”, “riscada do mapa”) e refere‑se explicitamente a uma ameaça nuclear concreta de outubro de 1961. Essa combinação — evento datável + retórica demonizante — é exemplar da prática discursiva da Guerra Fria, em que tanto a imprensa ocidental quanto os órgãos de propaganda soviéticos (e dos países aliados) recorriam a um tom beligerante para moldar percepções. Assim, afirmar que o texto traduz um discurso típico do período da Guerra Fria, com retórica passional usada por ambos os campos, está correto.
Dica de interpretação: ao analisar questões históricas com textos fontes, cheque: (1) data e evento referidos; (2) vocabulário emocional; (3) posição do emissor (editorial/opinião vs. relatório neutro). Esses sinais indicam quando o texto funciona como peça de propaganda/retórica, não como relato factual neutro.
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