Na tessitura textual, a última estrofe do poema constitui
Essas coisas
“Você não está mais na idade
de sofrer por essas coisas.”
Há então a idade de sofrer
e a de não sofrer mais
por essas, essas coisas?
As coisas só deviam acontecer
para fazer sofrer
na idade própria de sofrer?
Ou não se devia sofrer
pelas coisas que causam sofrimento,
pois vieram fora de hora, e a hora é calma?
E, se não estou mais na idade de sofrer,
é porque estou morto, e morto
é a idade de não sentir as coisas, essas coisas?
(Carlos Drummond de Andrade. As impurezas do branco, 2012)
Essas coisas
“Você não está mais na idade
de sofrer por essas coisas.”
Há então a idade de sofrer
e a de não sofrer mais
por essas, essas coisas?
As coisas só deviam acontecer
para fazer sofrer
na idade própria de sofrer?
Ou não se devia sofrer
pelas coisas que causam sofrimento,
pois vieram fora de hora, e a hora é calma?
E, se não estou mais na idade de sofrer,
é porque estou morto, e morto
é a idade de não sentir as coisas, essas coisas?
(Carlos Drummond de Andrade. As impurezas do branco, 2012)
Gabarito comentado
Tema central: A questão avalia interpretação de texto, com foco em compreensão do sentido global da última estrofe e identificação de seu papel estrutural no poema.
Justificativa da alternativa correta (D):
No poema de Drummond, o eu lírico questiona se o sofrimento possui uma idade certa para ocorrer, pondo em xeque a afirmação de que alguém “não está mais na idade de sofrer por essas coisas”. Na última estrofe, ele expõe de modo crítico: se há um tempo para não sofrer mais, seria somente após a morte, pois “morto é a idade de não sentir as coisas”. Dessa forma, o eu lírico contesta a ideia de que o sofrimento se restringe à juventude ou a qualquer outra fase. Conforme Celso Cunha e Lindley Cintra, a conclusão de um texto concretiza, sintetiza ou contrapõe reflexões anteriormente apresentadas. Aqui, a estrofe final cumpre função conclusiva e contestatória, reafirmando que o sofrimento está presente enquanto se está vivo.
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta. Não há “comprovação”; o poema não declara abertamente que viver é sofrer, mas questiona a relação estabelecida entre idade e sofrimento.
B) Incorreta. O eu lírico não nega o sofrimento, mas sim desafia a lógica de que ele deva acabar com a idade.
C) Incorreta. Não se fala na efemeridade da vida, tampouco que ele é incapaz de sofrer novamente.
E) Incorreta. Não há reconhecimento de que o eu lírico esteja morto; a referência à morte é usada apenas para reforçar a ideia de que só a morte extingue o sofrimento.
Estratégia para questões semelhantes:
Em interpretação de poemas, identifique sempre a função da última estrofe: ela frequentemente opera como síntese, conclusão ou contraposição. Procure palavras e expressões que indiquem questionamento, reafirmação ou síntese — nesses pontos, costuma residir o eixo interpretativo da questão.
Resumo: A alternativa D traduz corretamente a conclusão do poema, marcada por contestação e síntese, de acordo com a norma-padrão e princípios de coesão e coerência textual.
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