Entre os teóricos que defenderam o Absolutismo monárquico estava Jacques Bossuet, que
declarou:
“O trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus. Os reis são deuses
e participam de alguma maneira da independência divina. O rei vê de mais longe e de mais
alto; deve acreditar-se que ele vê melhor, e deve obedecer-se-lhe sem murmurar, pois o
murmúrio é uma disposição para a sedição.”
Jacques Bossuet, Política tirada da Sagrada Escritura. FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de
história. Lisboa: Plátano, [1977]. v. 2, p. 201. [Adaptado]
Analisando os conflitos políticos da Inglaterra no século XVII, o historiador Christopher Hill
escreveu:
“A partir das vitórias militares sobre os Cavaleiros, [os Cabeças Redondas] conseguiram a
rendição do rei em 1646. Entretanto, Carlos I reorganizou seus soldados e recomeçou a
guerra, sendo derrotado definitivamente pelos Cabeças Redondas de Cromwell. Preso,
Carlos I foi julgado pela Alta Corte de Justiça, a mando do Parlamento, sendo condenado à
morte. Em janeiro de 1649, o rei foi decapitado em frente ao palácio de Whitehall, em
Londres.”
HILL, Christopher. O eleito de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 179.
Analisando a afirmação teórica de J. Bossuet e relacionando-a com os fatos narrados por C. Hill,
pode-se corretamente afirmar que a execução de Carlos I assinalou
Gabarito comentado
Resposta: Alternativa A
Tema central: a questão aborda a crítica ao princípio do direito divino dos reis e o significado político da execução de Carlos I (1649) durante a Guerra Civil Inglesa. É preciso relacionar a teoria absolutista de Jacques Bossuet com o fato histórico narrado por Christopher Hill.
Resumo teórico: Bossuet defendia o direito divino — a ideia de que o rei governa por vontade de Deus e, portanto, sua autoridade é incontestável. A execução de Carlos I representou, contudo, uma ruptura: pela primeira vez na Europa moderna um monarca foi julgado e condenado por instituições políticas, questionando a sacralidade absoluta do trono e abrindo espaço para debates sobre a limitação do poder real e a soberania popular. Fontes úteis: Jacques Bossuet, Política tirada da Sagrada Escritura; estudos sobre a Guerra Civil Inglesa e o curto período republicano (Commonwealth) — p. ex., Christopher Hill.
Por que a alternativa A é correta: A afirma que a execução foi um momento decisivo que colocou em xeque um princípio central do Estado Moderno (o direito divino) e contribuiu para o desenvolvimento de ideias políticas que mais tarde alimentaram correntes liberais e constitucionais. Isso condensa corretamente a ruptura simbólica e prática com o absolutismo e o efeito político-ideológico do evento.
Análise das alternativas incorretas:
B — incorreta: a Câmara dos Comuns já existia e os burgueses já tinham representação antes de 1649. A execução não foi o marco que deu acesso dos burgueses à Câmara.
C — incorreta: a facção que derrubou Carlos I (os parlamentares e, em particular, os puritanos e os exércitos de Cromwell) não defendia o direito divino dos reis; pelo contrário, contestavam-no. Não foi uma “reação da facção liberal... que defendia o direito divino”.
D — incorreta: a monarquia parlamentar inglesa só se consolidou depois, especialmente com a Revolução Gloriosa (1688) e a Declaração de Direitos (1689). A execução de 1649 não instituiu definitivamente que a sucessão real seria decidida pelo Parlamento.
Dica de interpretação: identifique no enunciado palavras-chave (ex.: “direito divino”, “execução”, “assinalou”) e confronte-as com eventos-chave (julgamento e execução de um rei; existência posterior do Commonwealth). Desconfie de alternativas que atribuam consequências imediatas e definitivas a um único evento histórico quando a mudança ocorreu em etapas.
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