Depreende-se das falas do pai um elogio, sobretudo,
– Meu coração está apertado de ver tantas marcas no teu
rosto, meu filho; essa é a colheita de quem abandona a casa
por uma vida pródiga.
– A prodigalidade também existia em nossa casa.
– Como, meu filho?
– A prodigalidade sempre existiu em nossa mesa.
– Nossa mesa é comedida, é austera, não existe desperdício nela, salvo nos dias de festa.
– Mas comemos sempre com apetite.
– O apetite é permitido, não agrava nossa dignidade,
desde que seja moderado.
– Mas comemos até que ele desapareça; é assim que
cada um em casa sempre se levantou da mesa.
– É para satisfazer nosso apetite que a natureza é generosa, pondo seus frutos ao nosso alcance, desde que trabalhemos por merecê-los. Não fosse o apetite, não teríamos
forças para buscar o alimento que torna possível a sobrevivência. O apetite é sagrado, meu filho.
– Eu não disse o contrário, acontece que muitos trabalham, gemem o tempo todo, esgotam suas forças, fazem tudo
que é possível, mas não conseguem apaziguar a fome.
– Você diz coisas estranhas, meu filho.
(Lavoura arcaica, 2001.)
– Meu coração está apertado de ver tantas marcas no teu rosto, meu filho; essa é a colheita de quem abandona a casa por uma vida pródiga.
– A prodigalidade também existia em nossa casa.
– Como, meu filho?
– A prodigalidade sempre existiu em nossa mesa.
– Nossa mesa é comedida, é austera, não existe desperdício nela, salvo nos dias de festa.
– Mas comemos sempre com apetite.
– O apetite é permitido, não agrava nossa dignidade, desde que seja moderado.
– Mas comemos até que ele desapareça; é assim que cada um em casa sempre se levantou da mesa.
– É para satisfazer nosso apetite que a natureza é generosa, pondo seus frutos ao nosso alcance, desde que trabalhemos por merecê-los. Não fosse o apetite, não teríamos forças para buscar o alimento que torna possível a sobrevivência. O apetite é sagrado, meu filho.
– Eu não disse o contrário, acontece que muitos trabalham, gemem o tempo todo, esgotam suas forças, fazem tudo que é possível, mas não conseguem apaziguar a fome.
– Você diz coisas estranhas, meu filho.
(Lavoura arcaica, 2001.)
Gabarito comentado
Comentário do Gabarito – Interpretação de Texto
A questão avalia interpretação de texto, mais precisamente a habilidade de identificar ideia principal de um diálogo e compreender o sentido de palavras e expressões a partir do contexto (semântica contextual).
No trecho de Lavoura arcaica, há um diálogo entre pai e filho sobre hábitos à mesa e o conceito de “prodigalidade”. O pai lamenta o que vê como consequências de uma vida desregrada do filho, sustentando que, em casa, predomina o comedimento: diz que “nossa mesa é comedida, é austera”, e que desperdício só ocorre em dias de festa. Ainda ressalta que o apetite é legítimo, desde que moderado – palavras-chave como "comedida", "austera", "moderação" aparecem de forma enfática no texto.
Segundo Cunha & Cintra, para captar a ideia principal, deve-se buscar a tese central do texto (o que o autor defende ou valoriza).
Alternativa correta: C) ao comedimento. É a resposta correta porque o pai valoriza a moderação nos atos (principalmente à mesa), rejeitando o desperdício, mesmo em tempos de fartura.
Análise das alternativas incorretas:
- A) ao esbanjamento: Errada. O pai, ao contrário, reprova o desperdício e exalta a contenção. “Nossa mesa é comedida, é austera”.
- B) à paciência: Errada. O tema não é paciência, mas sim como lidar com a fartura de modo moderado.
- D) à caridade: Errada. Não há menção a práticas de generosidade direcionadas ao outro, apenas ao autocontrole familiar.
- E) à sobrevivência: Errada. Sobrevivência aparece como justificativa do apetite, mas não é o centro do elogio.
Estrategicamente: Ao interpretar, procure expressões que reflitam valores, opiniões e repetições. Palavras como “comedida”, “austera”, “moderado” indicam com clareza a tese.
Por fim, lembre-se do conselho de Bechara: “Para identificar a ideia principal, busque o fio condutor de sentido que estrutura o texto.”
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






