Mia Couto, autor moçambicano, é conhecido por abordar
o passado colonial de sua terra natal, a opressão feminina,
a família patriarcal e a luta do povo em busca de sua
identidade. Metaforicamente, de modo implícito, ou explícito,
essas marcas se evidenciam nesse texto, nas situações:
I) silêncio de Amadalena.
II) insistência de Zedmundo em ser ele mesmo.
III) insistência de Glória na bênção do pai ao neto.
IV) postura autoritária do patrão português.
V) mágoa explícita do narrador.
Estão corretos apenas:
Mia Couto, autor moçambicano, é conhecido por abordar o passado colonial de sua terra natal, a opressão feminina, a família patriarcal e a luta do povo em busca de sua identidade. Metaforicamente, de modo implícito, ou explícito, essas marcas se evidenciam nesse texto, nas situações:
I) silêncio de Amadalena.
II) insistência de Zedmundo em ser ele mesmo.
III) insistência de Glória na bênção do pai ao neto.
IV) postura autoritária do patrão português.
V) mágoa explícita do narrador.
Estão corretos apenas:
O adiado avô.
Mia Couto. Nossa irmã Glória pariu e foi motivo de contentamentos
familiares. Todos festejaram, exceto o nosso velho,
Zedmundo Constantino Constante, que recusou ir ao hospital
ver a criança. No isolamento de seu quarto hospitalar,
Glória chorou babas e aranhas. Todo o dia seus olhos patrulharam
a porta do quarto. A presença de nosso pai seria
a bênção, tão esperada quanto o seu próprio recém-nascido.
- Ele há-de vir, há-de vir. Não veio. Foi preciso trazerem
o miúdo a nossa casa para que o avô lhe passasse os
olhos. Mas foi como um olhar para nada. Ali no berço não
estava ninguém. Glória reincidiu no choro. (...). Suplicou a
sua mãe Dona Amadalena. Ela que falasse com o pai para
que este não mais a castigasse. Falasse era fraqueza de
expressão: a mãe era muda, a sua voz esquecera de nascer.
O menino disse as primeiras palavras e, logo, o nosso
pai Zedmundo desvalorizou: - Bahh! Contrariava a alegria
geral. À mana Glória já não restava sombra de glória. (...)
O homem sempre acinzentava a nuvem. Mas Zedmundo,
no capítulo das falas, tinha a sua razão: nós, pobres, devíamos
alargar a garganta não para falar, mas para melhor engolir sapos. - E é o que repito: falar é fácil. Custa é
aprender a calar. E repetia a infinita e inacabada lembrança,
esse episódio que já conhecíamos de salteado. Mas
escutamos, em nosso respeitoso dever. Que uma certa
vez, o patrão português, perante os restantes operários,
lhe intimou: - Você, fulano, o que é que pensa? Ainda lhe
veio à cabeça responder: preto não pensa, patrão. Mas
preferiu ficar calado. - Não fala? Tem que falar, meu cabrão.
Curioso: um regime inteiro para não deixar nunca o povo
falar e a ele o ameaçavam para que não ficasse calado. E
aquilo lhe dava um tal sabor de poder que ele se amarrou
no silêncio. E foram insultos. Foram pancadas. E foi prisão.
Ele entre os muitos cativos por falarem de mais: o
único que pagava por não abrir a boca. - Eu tão calado que
parecia a vossa mãe, Dona Amadalena, com o devido respeito...
Meu velho acabou a história e só minha mãe arfou
a mostrar saturação. Dona Amadalena sempre falara suspiros.
Porém, em tons tão precisos que aquilo se convertera
em língua. Amadalena suspirava direito por silêncios
tortos. (...) A mulher puxou-o para o quarto. Ali, no
côncavo de suas intimidades, o velho Zedmundo se explicou.
(...). Eu não sou avô, eu sou eu, Zedmundo Constante.
Agora, ele queria gozar o merecido direito: ser velho. A
gente morre ainda com tanta vida! - Você não entende,
mulher, mas os netos foram inventados para, mais uma
vez, nos roubarem a regalia de sermos nós. E ainda mais
se explicou: primeiro, não fomos nós porque éramos filhos.
Depois, adiámos o ser porque fomos pais. Agora,
querem-nos substituir pelo sermos avós. (...)
Gabarito comentado
Tema central: A questão aborda interpretação de texto, focando em identificar temáticas (opressão feminina, estrutura patriarcal, colonialismo, busca por identidade) presentes de modo implícito ou metafórico no conto de Mia Couto. Isso exige percepção de informações explícitas e implícitas, conforme os estudos de semântica (Maria Helena de Moura Neves) e coerência textual (Ingedore Koch).
Justificativa da alternativa correta (C):
Os itens corretos são I, II, III e IV, pois todos apresentam situações que remetem a temas-chave do conto:
I) O silêncio de Amadalena: a mãe muda representa, em sentido simbólico, a opressão feminina; a mulher sem voz exemplifica o lugar submisso da mulher na sociedade patriarcal.
II) Insistência de Zedmundo em ser ele mesmo: ao rejeitar o papel de “apenas avô”, busca manter sua identidade própria, tema explícito da narrativa.
III) Insistência de Glória na bênção do pai: revela a estrutura patriarcal da família, em que o aval do pai é fundamental, mostrando a força das relações hierárquicas.
IV) Postura autoritária do patrão português: evidencia a opressão colonial; o fato do patrão humilhar Zedmundo e exigir submissão retoma o contexto histórico de dominação portuguesa em Moçambique.
Análise das alternativas incorretas:
A) I e III – Incompleta; ignora temas centrais presentes nos itens II (identidade) e IV (colonialismo).
B) II e V – Item V está incorreto: não há mágoa explícita do narrador, mas relato dos acontecimentos.
D) III, IV e V – Novamente, o item V está equivocado, e omite os fortes símbolos dos itens I e II.
Pontos-chave para acertar a questão:
Observe símbolos e metáforas no texto (ex: silêncio como opressão). Cuidado com distrações: nem todo sentimento do narrador é explícito. Prefira sempre identificar elementos que dialogam com os temas pedidos pelo comando.
Essas estratégias ajudam a evitar “pegadinhas” típicas das provas, como confundirem sentimento do narrador com marcas de crítica social.
Conclusão: O sucesso depende da leitura atenta dos sentidos profundos do texto e de conexões semânticas. Dominar esse raciocínio é essencial para avançar em questões de interpretação literária!
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