Questão 3075260f-57
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Do ponto de vista linguístico, a defesa da norma-padrão pelo personagem
caracteriza-se por
Do ponto de vista linguístico, a defesa da norma-padrão pelo personagem
caracteriza-se por
Não que Pelino fosse químico, longe disso; mas era sábio, era gramático. Ninguém
escrevia em Tubiacanga que não levasse bordoada do Capitão Pelino, e mesmo quando
se falava em algum homem notável lá no Rio, ele não deixava de dizer: “Não há dúvida! O
homem tem talento, mas escreve: ‘um outro’, ‘de resto’…” E contraía os lábios como se
tivesse engolido alguma cousa amarga.
Toda a vila de Tubiacanga acostumou-se a respeitar o solene Pelino, que corrigia e
emendava as maiores glórias nacionais. Um sábio…
Ao entardecer, depois de ler um pouco o Sotero, o Candido de Figueiredo ou o
Castro Lopes, e de ter passado mais uma vez a tintura nos cabelos, o velho
mestre-escola saía vagarosamente de casa, muito abotoado no seu paletó de brim
mineiro, e encaminhava-se para a botica do Bastos a dar dous dedos de prosa.
Conversar é um modo de dizer, porque era Pelino avaro de palavras, limitando-se
tão-somente a ouvir. Quando, porém, dos lábios de alguém escapava a menor incorreção
de linguagem, intervinha e emendava. “Eu asseguro, dizia o agente do Correio, que…”
Por aí, o mestre-escola intervinha com mansuetude evangélica: “Não diga ‘asseguro’,
Senhor Bernardes; em português é garanto”.
E a conversa continuava depois da emenda, para ser de novo interrompida por uma
outra. Por essas e outras, houve muitos palestradores que se afastaram, mas Pelino,
indiferente, seguro dos seus deveres, continuava o seu apostolado de vernaculismo.
BARRETO, L. A Nova Califórnia. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 24 jul. 2019.
Não que Pelino fosse químico, longe disso; mas era sábio, era gramático. Ninguém
escrevia em Tubiacanga que não levasse bordoada do Capitão Pelino, e mesmo quando
se falava em algum homem notável lá no Rio, ele não deixava de dizer: “Não há dúvida! O
homem tem talento, mas escreve: ‘um outro’, ‘de resto’…” E contraía os lábios como se
tivesse engolido alguma cousa amarga.
Toda a vila de Tubiacanga acostumou-se a respeitar o solene Pelino, que corrigia e
emendava as maiores glórias nacionais. Um sábio…
Ao entardecer, depois de ler um pouco o Sotero, o Candido de Figueiredo ou o
Castro Lopes, e de ter passado mais uma vez a tintura nos cabelos, o velho
mestre-escola saía vagarosamente de casa, muito abotoado no seu paletó de brim
mineiro, e encaminhava-se para a botica do Bastos a dar dous dedos de prosa.
Conversar é um modo de dizer, porque era Pelino avaro de palavras, limitando-se
tão-somente a ouvir. Quando, porém, dos lábios de alguém escapava a menor incorreção
de linguagem, intervinha e emendava. “Eu asseguro, dizia o agente do Correio, que…”
Por aí, o mestre-escola intervinha com mansuetude evangélica: “Não diga ‘asseguro’,
Senhor Bernardes; em português é garanto”.
E a conversa continuava depois da emenda, para ser de novo interrompida por uma
outra. Por essas e outras, houve muitos palestradores que se afastaram, mas Pelino,
indiferente, seguro dos seus deveres, continuava o seu apostolado de vernaculismo.
BARRETO, L. A Nova Califórnia. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 24 jul. 2019.
A
contestar o ensino de regras em detrimento do conteúdo das informações.
B
resgatar valores patrióticos relacionados às tradições da língua portuguesa.
C
adotar uma perspectiva complacente em relação aos desvios gramaticais.
D
invalidar os usos da língua pautados pelos preceitos da gramática normativa.
E
desconsiderar diferentes níveis de formalidade nas situações de comunicação.
Gabarito comentado
Isabel VegaMestra em Letras na UFRJ, Coordenadora e Professora Aposentada de Português do Colégio Pedro II-RJ