Acreditar num determinado tipo de cultura como único e definitivo e, sobretudo, impô-lo a outros grupos humanos, é a pretensão que leva às piores tiranias. Considerar outros agrupamentos sociais inferiores apenas porque não usam nossos dados culturais tem permitido os piores crimes, até genocídios. Nossa civilização, fundada na transmissão da experiência através de símbolos escritos, não é superior a inúmeras outras cuja cultura se transmite apenas de maneira oral. Convém não esquecer que quem inventou o alfabeto foi um analfabeto.

(Millôr Fernandes. O livro vermelho dos pensamentos. São Paulo: Editora SENAC, 2000, p. 19.)

Considerando o que se define como 'cultura', o Texto defende um ponto de vista, a partir do qual é correto admitir o seguinte:

Tema central: Interpretação de texto com foco em relativismo cultural. A questão exige compreender o que o texto defende sobre a impossibilidade de julgar culturas como superiores ou inferiores, rejeitando princípios etnocêntricos.

Justificativa da alternativa correta (D):

O texto enfatiza que impor uma visão cultural como única e definitiva leva a tiranias e crimes graves. Ao afirmar: “Nossa civilização... não é superior a inúmeras outras cuja cultura se transmite apenas de maneira oral”, Millôr reforça a necessidade de respeitar as diversas manifestações culturais. Isso está em perfeita sintonia com o relativismo cultural — conceito segundo o qual nenhuma cultura pode ser considerada universalmente superior.

A alternativa D (“é inaceitável avaliar, como superiores ou inferiores, as manifestações culturais com que cada sociedade vive e se organiza”) explicita a tese central do texto: todas as culturas têm igual valor e devem ser analisadas em seus próprios contextos. Tal interpretação é defendida, inclusive, em gramáticas de referência como Cunha & Cintra e Evanildo Bechara, que tratam a leitura ativa e o respeito ao sentido original como essenciais na compreensão textual.

Análise das alternativas incorretas:

A – Erro: Afirma que sociedades com escrita têm “qualidade superior”. O texto rejeita explicitamente esta visão.

B – Erro: Relaciona tirania à precariedade cultural dos participantes. O texto não aponta tal causa; o problema é a imposição cultural.

C – Erro: Parte do princípio da avaliação das culturas como superiores ou inferiores, justamente o que se condena no texto.

E – Erro: Diz que culturas ágrafas são “carentes de legitimidade”. O texto defende o oposto: não há superioridade da escrita sobre a oralidade.

Estratégias para evitar erro: Fique atento a palavras que expressem generalizações (“superior”, “inferior”, “único”, “melhor”) e verifique sempre se o texto sustenta tais julgamentos. Nas provas, evite alternativas que distorçam a mensagem original.

Dica do professor: Mesmo que uma alternativa “pareça certa”, busque no texto palavras-chave e passagens que sustentem a ideia. Pesquise sempre o que o autor defende, não apenas o que parece lógico.

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