“Epopeia empolgante, da arremetida dos leões goytacazes em busca do insultador da Pátria amada! Lições de coragem, de desprendimento, de fé cívica que nos deixaram aqueles destemidos voluntários campistas abandonando as plagas camposinas, nos dias apreensivos de 1865, em busca do Sul, para baterem rijos ao atrevido Paysandu! Somente a 25 de janeiro de 1865 foi que os campistas puderam ter a demorada notícia [...] da invasão do território brasileiro, na província do Mato Grosso, pelas hordas fanáticas do [Solano] López [...]. A alma campista fremiu de patriotismo, e [...] três dias após a tremenda notícia [partiam] [...] os primeiros patriotas. Efetivamente cheio de estoicismo [...] 12 campistas [...] subiam a bordo do vapor [...].”

SOUSA, Horacio. Cyclo Aureo: História do 1º centenário da cidade de Campos 1835-1935. Campos dos Goytacazes, RJ: Essentia, 2014. 1ª edição de 1935. (Memórias Fluminenses: v. 1). p. 129 (adaptado).

O texto foi publicado pela primeira vez no ano de 1935, e trata da participação de voluntários da cidade de Campos dos Goytacazes na Guerra do Paraguai (1864-1870). Analisando historicamente o texto e relacionando-o com o referido conflito, julgue as afirmações a seguir:

I. O Império brasileiro não participou das tensões na região do rio da Prata antes da guerra, só dando atenção política à área quando se iniciaram as ações bélicas, como fica caracterizado no texto pela demora da chegada de notícias sobre o conflito.

II. A participação de voluntários na Guerra do Paraguai foi intensa, tendo partido milhares de soldados de todo o país, tidos, tanto em parte da imprensa da época quanto em parte da historiografia sobre o tema, como nobres voluntários, conforme são caracterizados no texto.

III. O processo político que culmina com o conflito foi fruto exclusivo das ações autoritárias do presidente paraguaio Solano López, que, segundo o texto, liderava “hordas fanáticas” e era um “insultador”.

A(s) afirmação(ões) CORRETA(S) é(são)

Alternativa correta: B — apenas II.

Tema central: compreensão crítica de um texto memorialista (1935) sobre a participação de voluntários de Campos na Guerra do Paraguai (1864‑1870). Exige identificar discurso commemorativo e separar narrativa patriótica de explicação histórica das causas do conflito.

Resumo teórico sucinto: a Guerra do Paraguai envolveu Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai. As causas são múltiplas: disputas na Bacia do Prata, intervenção brasileira no Uruguai (defesa de interesses regionais e comerciais), alinhamentos políticos e a atuação de Solano López — não se resumem a uma única causa. A mobilização de voluntários foi intensa: milhares se juntaram às forças imperiais e receberam tratamento heroico na imprensa e memórias locais (ver Boris Fausto, História do Brasil, e Thomas L. Whigham, The Paraguayan War: Causes and Early Conduct).

Por que II é correta: o texto exalta os voluntários como “destemidos”, “estoicos” — reflexo do tratamento honorífico dado a muitos que partiram. Historicamente houve grande participação voluntária e reconhecimento público, portanto a afirmação II corresponde tanto ao documento quanto à realidade historiográfica.

Por que I é incorreta: a afirmação diz que o Império não participou das tensões na região antes da guerra. Isso é falso: o Brasil já intervinha politicamente na Bacia do Prata (ex.: confronto com Juan Manuel de Rosas nas décadas anteriores, interesses no Uruguai). A “demora” citada no texto se refere ao fluxo de notícias locais e ao ritmo das comunicações, não à ausência de atenção política do Império.

Por que III é incorreta: afirmar que o conflito resultou exclusivamente das ações autoritárias de Solano López simplifica e personaliza demais as causas. O texto, escrito em 1935, adota linguagem inflamada (“hordas fanáticas”, “insultador”), típica de narrativa pró‑imperial e memorialista — mas isso não traduz a complexidade das origens políticas e diplomáticas do conflito.

Dica de interpretação para concursos: identifique quem fala (autor, época) e distinga linguagem valorativa de proposição factual. Questões sobre causas exige atenção a multiplicidade de fatores; sobre participação social, verifique dados sobre recrutamento e voluntariado.

Fontes úteis: Boris Fausto, História do Brasil; Thomas L. Whigham, The Paraguayan War: Causes and Early Conduct.

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