Nesse fragmento, o narrador leva o leitor auma quebra de expectativa provocada pelo
Nesse fragmento, o narrador leva o leitor auma quebra de expectativa provocada pelo
O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão, e protegido por ela — braços largamente abertos, face volvida para os céus —, um soldado descansava. Descansava... havia três meses. Morrera no assalto de 18 de julho.
CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1946.
O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão, e protegido por ela — braços largamente abertos, face volvida para os céus —, um soldado descansava. Descansava... havia três meses. Morrera no assalto de 18 de julho.
CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1946.
Gabarito comentado
Tema da questão: interpretação de texto, com foco em efeito de sentido (quebra de expectativa) e em uso figurado do verbo (semântica/figuras de linguagem).
Estratégia de leitura:
1) Identifique os verbos-chave e compare o sentido literal com o sentido figurado que o contexto sugere.
2) Observe sinais de marcação discursiva como reticências e travessões, que criam suspense e antecipam viradas de sentido.
3) Repare nos tempos verbais e expressões de tempo que organizam a narrativa: aqui, “descansava” (imperfeito) + “havia três meses” (duração) e “morrera” (pretérito mais-que-perfeito simples) revelam a realidade oculta.
4) Faça uma paráfrase confirmatória: “o soldado estava ‘descansando’ porque, na verdade, estava morto havia três meses”.
Alternativa correta: D — uso figurado da forma verbal
O texto conduz o leitor a crer que o soldado apenas repousa sob a sombra ao pôr do sol. A quebra de expectativa surge quando o narrador revela: “Morrera no assalto de 18 de julho”. Com isso, percebe-se que o verbo “descansava” foi empregado em sentido figurado (eufemístico/metafórico) para significar “estava morto”. O efeito é construído com:
- Reticências após “descansava”, que criam suspense.
- O pretérito mais-que-perfeito “morrera”, que marca anterioridade (norma: Bechara; Cunha & Cintra).
- A expressão temporal “havia três meses”, reforçando a duração do estado.
Referência normativa: a identificação do valor semântico dos tempos verbais (imperfeito e mais-que-perfeito) e seu papel na coesão temporal está na Gramática Normativa (Bechara, “Moderna Gramática Portuguesa”; Cunha & Cintra, “Nova Gramática do Português Contemporâneo”). As figuras de linguagem (metáfora/eufemismo) pertencem à descrição estilística consagrada em gramáticas e manuais de retórica.
Por que as demais alternativas estão incorretas?
A — “relato de um cenário de guerra”: o cenário existe, mas não é isso que provoca a quebra de expectativa. O efeito não decorre da ambientação, e sim do contraste entre “descansava” e “morrera”.
B — “mistério envolvendo o soldado”: há breve suspense, mas não permanece um mistério; ele é resolvido imediatamente pela informação “morrera...”. O foco é a reinterpretação do verbo, não o enigma.
C — “desrespeito à lógica dos fatos”: não há ilogicidade. Pelo contrário, há coerência: dizendo que “descansa” quem já “morrera”, o texto usa um eufemismo convencional e coeso com “havia três meses”. A lógica narrativa se mantém.
Dicas para futuras questões:
- Sublinhe verbos que pareçam “inocentes” e verifique se o contexto os desloca para um sentido conotativo.
- Atenção a marcadores de ruptura: reticências, travessões, mudanças de tempo verbal e expressões temporais (“havia...”).
- Confirme a interpretação com uma paráfrase simples e direta.
Gabarito: D
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