Questão 2d7d33ea-fd
Prova:ENCCEJA 2019
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Nesse fragmento, o narrador leva o leitor auma quebra de expectativa provocada pelo

    O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão, e protegido por ela — braços largamente abertos, face volvida para os céus —, um soldado descansava. Descansava... havia três meses. Morrera no assalto de 18 de julho.

CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1946.


A
relato de um cenário de guerra.
B
mistério envolvendo o soldado.
C
desrespeito à lógica dos fatos.
D
uso figurado da forma verbal.

Gabarito comentado

L
Lucas SilvaMonitor do Qconcursos

Tema da questão: interpretação de texto, com foco em efeito de sentido (quebra de expectativa) e em uso figurado do verbo (semântica/figuras de linguagem).

Estratégia de leitura:

1) Identifique os verbos-chave e compare o sentido literal com o sentido figurado que o contexto sugere.

2) Observe sinais de marcação discursiva como reticências e travessões, que criam suspense e antecipam viradas de sentido.

3) Repare nos tempos verbais e expressões de tempo que organizam a narrativa: aqui, “descansava” (imperfeito) + “havia três meses” (duração) e “morrera” (pretérito mais-que-perfeito simples) revelam a realidade oculta.

4) Faça uma paráfrase confirmatória: “o soldado estava ‘descansando’ porque, na verdade, estava morto havia três meses”.

Alternativa correta: D — uso figurado da forma verbal

O texto conduz o leitor a crer que o soldado apenas repousa sob a sombra ao pôr do sol. A quebra de expectativa surge quando o narrador revela: “Morrera no assalto de 18 de julho”. Com isso, percebe-se que o verbo “descansava” foi empregado em sentido figurado (eufemístico/metafórico) para significar “estava morto”. O efeito é construído com:

- Reticências após “descansava”, que criam suspense.

- O pretérito mais-que-perfeitomorrera”, que marca anterioridade (norma: Bechara; Cunha & Cintra).

- A expressão temporal “havia três meses”, reforçando a duração do estado.

Referência normativa: a identificação do valor semântico dos tempos verbais (imperfeito e mais-que-perfeito) e seu papel na coesão temporal está na Gramática Normativa (Bechara, “Moderna Gramática Portuguesa”; Cunha & Cintra, “Nova Gramática do Português Contemporâneo”). As figuras de linguagem (metáfora/eufemismo) pertencem à descrição estilística consagrada em gramáticas e manuais de retórica.

Por que as demais alternativas estão incorretas?

A — “relato de um cenário de guerra”: o cenário existe, mas não é isso que provoca a quebra de expectativa. O efeito não decorre da ambientação, e sim do contraste entre “descansava” e “morrera”.

B — “mistério envolvendo o soldado”: há breve suspense, mas não permanece um mistério; ele é resolvido imediatamente pela informação “morrera...”. O foco é a reinterpretação do verbo, não o enigma.

C — “desrespeito à lógica dos fatos”: não há ilogicidade. Pelo contrário, há coerência: dizendo que “descansa” quem já “morrera”, o texto usa um eufemismo convencional e coeso com “havia três meses”. A lógica narrativa se mantém.

Dicas para futuras questões:

- Sublinhe verbos que pareçam “inocentes” e verifique se o contexto os desloca para um sentido conotativo.

- Atenção a marcadores de ruptura: reticências, travessões, mudanças de tempo verbal e expressões temporais (“havia...”).

- Confirme a interpretação com uma paráfrase simples e direta.

Gabarito: D

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