De todos os percentuais divulgados, meu favoritíssimo aborda extraterrestres: 78,25% das civilizações alienígenas que nos visitam vêm de fora da Via Láctea. Depois dessa precisão alienígena, eu, que vivia fora de órbita, ando agora 78,25% mais à Terra. Com tanta gente estranha por aqui, acredito que a confusão estatística é coisa de ET. Ou do diabo. Tenho 66,6% de certeza.

GIFFONI, L. Confusão estatística. In: O acaso abre portas. Belo Horizonte: Abacate, 2014. p. 21.

Os recursos de estilo empregados nesse fragmento indicam a intenção do autor de

Tema central: Interpretação de texto, com foco no uso de ironia como recurso estilístico.

A questão explora o reconhecimento de figuras de linguagem — especialmente a ironia —, muito comum em provas de vestibular. Segundo Evanildo Bechara (“Moderna Gramática Portuguesa”) e Celso Cunha & Lindley Cintra (“Nova Gramática do Português Contemporâneo”), a ironia ocorre quando o autor expressa o oposto do que quer dizer, geralmente para criar humor ou crítica sutil.

Justificativa da alternativa correta (D): “Ironizar a precisão de dados estatísticos”

No trecho apresentado, o emprego de percentuais exatos (78,25% e 66,6%) para assuntos puramente especulativos (alienígenas, “coisa de ET ou do diabo”) evidencia a contradição entre a aparente exatidão numérica e a improbabilidade do contexto. Essa escolha revela a intenção do autor: ironizar o uso de dados “científicos” em situações absurdas, criando uma crítica sutil à confiança cega em informações pretensamente estatísticas.

Análise das alternativas incorretas:

A) demonstrar indiferença a critérios percentuais.
Incorreta, pois o texto não é indiferente: dedica-se, inclusive, a questionar e satirizar a precisão dos percentuais apresentando-os em tom jocoso.

B) criticar a vagueza de informações numéricas.
Errada; o texto não critica a falta de precisão, mas sim justamente o excesso incompreensível e desnecessário de precisão, usando números refinados em situações sem fundamento.

C) questionar as probabilidades científicas.
Imprecisa, pois o texto não discute ciência em si, mas sim o uso irônico de dados estatísticos fabricados ou absurdos.

Estratégia de prova:

Quando encontrar números precisos em contextos improváveis ou absurdos, desconfie; é provável que a questão envolva ironia. Atenção especial a palavras ou frases que contrastam precisão com temas fantasiosos — esse é um indício clássico de recurso crítico ou humorístico. Nem sempre exatidão significa veracidade!

Resumo: O texto ironiza a precisão de dados estatísticos ao aplicar números exatos a situações absurdas, criticando indiretamente o uso leviano de tais dados.

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