Bruzundanga era um país onde a nobreza se dividia de duas formas. Uma constituída pelos chamados doutores. Aqueles que tinham feito medicina, direito, engenharia e de todos que tinham tal pseudo. A outra era formada por novos ricos que, de forma incomum, adquiriam títulos. Iam à Europa e voltavam como conde, príncipes, princesas, lordes e todo o resto.

A política nesse país era cômica. Políticos eram nomeados pelo voto, mas quem votava não tinha a mínima ideia do que estava fazendo. O presidente tratado por Mandachuva e engajado na política através do sogro que o queria em bom cargo para as filhas chegou à presidência graças à sua ignorância e, logo que se viu empossado, se cercou de sua “clientela”. Cargos eram entregues devido à beleza dos candidatos que deveriam saber dançar, cumprimentar e sorrir para impressionar os estrangeiros, sendo que esses eram de grande valor para os bruzundangas.

Disponível em:

<http://www.aprendebrasil.com.br/classicos/obras/

Os_bruzundangas.pdf>.

Acesso em: 4 de ago. 2018.

Esse trecho foi retirado da obra Os Bruzundangas, de Lima Barreto. A leitura desse fragmento permite inferir que uma das características do autor é

Tema central: A questão avalia interpretação de texto, com ênfase na identificação de características de estilo do autor, notadamente o uso do humor caricatural e da sátira social, ferramentas essenciais em Os Bruzundangas, de Lima Barreto.

Justificativa da alternativa correta (D):
O humor caricatural consiste no exagero de traços e situações para criticar pessoas e instituições de forma irônica e bem-humorada. Conforme as gramáticas normativas e autores como Evanildo Bechara, a caricatura literária surge quando há “acentuação proposital de qualidades, defeitos ou costumes para fins críticos”. Em Os Bruzundangas, Lima Barreto ridiculariza a elite política, atribuindo-lhes comportamentos exagerados e absurdos, como cargos ocupados por beleza ou danças, não por competência, recurso típico do humor crítico. O objetivo central é promover reflexão por meio do riso e do absurdo.

Análise das alternativas incorretas:

• A) a exaltação da burguesia: O texto não elogia, mas critica a elite social e política, evidenciando suas falhas.
• B) o nacionalismo ufanista: Nacionalismo ufanista implica enaltecimento patriótico acrítico, o que contrasta com o tom de denúncia e ironia registrado no texto.
• C) a zoomorfização das personagens: Não há no trecho características animais atribuídas às personagens, recurso típico de outros estilos – não do autor neste contexto.
• E) a forte influência do determinismo: O foco aqui não é a determinação por fatores biológicos ou sociais, e sim o comportamento ridicularizado das figuras políticas.

Estratégias para interpretação:
Fique atento a palavras-chave que carregam ironia e exagero (“ignorância”, “presidente tratado por Mandachuva”, “cargos entregues devido à beleza”). Essas marcas indicam que o autor não deseja retratar sua sociedade de forma séria ou elogiosa, mas sim trazer à tona seu caráter cômico e ridículo.

Dica: Sempre que o texto apresentar personagens ou situações além do real, com traços grosseiramente exagerados e em tom de riso ou crítica, esteja alerta: provavelmente o autor emprega o humor caricatural ou a sátira.

Resposta correta: D) o humor caricatural.

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