INSTRUÇÃO: Responder à questão 32 com base no texto e nas informações a seguir.
“Apesar desta explicação, houve uma semana em que a alegria de Camilo foi extraordinária. Ides ver. Que a posteridade me ouça. Camilo, pela primeira vez, jogou no bicho. Jogar no bicho não é um eufemismo como matar o bicho. O jogador escolhe um número, que convencionalmente representa um bicho, e se tal número acerta de ser o fnal da sorte grande, todos os que arriscaram nele os seus vinténs ganham, e todos os que faram dos outros perdem. Começou a vinténs e dizem que está em contos de réis; mas, vamos ao nosso caso. Pela primeira vez Camilo jogou no bicho, escolheu o macaco, e, entrando com cinco tostões, ganhou não sei quantas vezes mais. Achou nisto tal despropósito que não quis crer, mas afnal foi obrigado a crer, ver e receber o dinheiro. Naturalmente tornou ao macaco, duas, três, quatro vezes, mas o animal, meio-homem, falhou às esperanças do primeiro dia. Camilo recorreu a outros bichos, sem melhor fortuna, e o lucro inteiro tornou à gaveta do bicheiro. Entendeu que era melhor descansar algum tempo; mas não há descanso eterno, nem ainda o das sepulturas. Um dia lá vem a mão do arqueólogo a pesquisar os ossos e as idades. Camilo tinha fé. A fé abala as montanhas.”
Jogo do bicho, conto de Machado de Assis (fragmento).
Um dos grandes mestres do Realismo, Gustave Flaubert, afrmou que o escritor, em sua obra, deve ser como um Deus no universo: onipresente e invisível. Portanto, em tese, os narradores realistas deveriam apresentar suas histórias de forma neutra, sem interferências.
Sobre o narrador de Jogo do bicho, NÃO é correto afirmar que ele
“Apesar desta explicação, houve uma semana em que a alegria de Camilo foi extraordinária. Ides ver. Que a posteridade me ouça. Camilo, pela primeira vez, jogou no bicho. Jogar no bicho não é um eufemismo como matar o bicho. O jogador escolhe um número, que convencionalmente representa um bicho, e se tal número acerta de ser o fnal da sorte grande, todos os que arriscaram nele os seus vinténs ganham, e todos os que faram dos outros perdem. Começou a vinténs e dizem que está em contos de réis; mas, vamos ao nosso caso. Pela primeira vez Camilo jogou no bicho, escolheu o macaco, e, entrando com cinco tostões, ganhou não sei quantas vezes mais. Achou nisto tal despropósito que não quis crer, mas afnal foi obrigado a crer, ver e receber o dinheiro. Naturalmente tornou ao macaco, duas, três, quatro vezes, mas o animal, meio-homem, falhou às esperanças do primeiro dia. Camilo recorreu a outros bichos, sem melhor fortuna, e o lucro inteiro tornou à gaveta do bicheiro. Entendeu que era melhor descansar algum tempo; mas não há descanso eterno, nem ainda o das sepulturas. Um dia lá vem a mão do arqueólogo a pesquisar os ossos e as idades. Camilo tinha fé. A fé abala as montanhas.”
Jogo do bicho, conto de Machado de Assis (fragmento).
Um dos grandes mestres do Realismo, Gustave Flaubert, afrmou que o escritor, em sua obra, deve ser como um Deus no universo: onipresente e invisível. Portanto, em tese, os narradores realistas deveriam apresentar suas histórias de forma neutra, sem interferências.
Sobre o narrador de Jogo do bicho, NÃO é correto afirmar que ele
Gabarito comentado
a) A narrativa é feita com partes em que se apresentam comentários e pontos de vista do narrador. Observe a linha 3, com o comentário “Que a posteridade me ouça”. Alternativa incorreta.
b) Há a presença de dúvida do narrador quanto ao comportamento do personagem no jogo do bicho (observe as linhas 13 e 14). Ele não sabe quantas vezes exatamente o personagem jogou. Alternativa correta.
c) Metalinguagem é usar a própria linguagem para descrevê-la. O narrador explica o método de jogar no jogo do bicho (observe as linhas 5 à 9). Alternativa incorreta.
d) A ironia é um recurso muito comum na obra de Machado de Assis. Neste fragmento o escritor faz uma pequena ironia quanto ao descanso do personagem em relação ao “descanso eterno” proporcionado pela morte. Para o escritor, o descanso do personagem não é maior que o da morte, que ainda assim será perturbada futuramente, pelas mãos de um arqueólogo. Alternativa incorreta.
e) É comum Machado aplicar uma linguagem que aproxima o leitor da história. Para isso ele destaca elementos de persuasão. Neste fragmento ele usa “Ides ver” (imperativo voltado para o leitor. Observe que ele usa verbos na terceira pessoa para falar sobre o personagem, o que contradiz o uso do verbo “Ides” na segunda pessoa, “tu” – o leitor). Alternativa incorreta.