Questão 29e6aca6-e0
Prova:FAG 2016
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a alternativa correta quanto às informações apresentadas ou inferidas do texto 2.

Texto 2


ACORDA, MENINO!


    O que diz o menino que dorme na praia? Talvez fale dos perigos do mar, da displicência dos pais. Ou de um assassinato a ser esclarecido.
    Mas é só um menino. Não deveria nos dar esta sensação de naufrágio da humanidade. Há dias, não adianta acusar governos, etnias, religiões, porque a falta de ar não cessa.
    É lágrima que não pinga, não seca nem escorre. É mais que um cadáver, é um assombro, uma dor insepulta de que tentamos nos livrar.
    E ainda suspeitamos de nós mesmos.
    Em nome dos deuses fazemos coisas que até o diabo duvida. Duvida e se defende, dizendo que não chegaria a tanto, embora comemore o resultado.
    Queríamos não ter visto nem sabido — maldito fotógrafo, maldita web e maldita imagem que, mesmo escorraçada da memória, dorme no tapete da sala e à noite repousa no nosso travesseiro, naquela pose mesmo que o mar beijava.
    Fica-nos a sensação de que Alá deu de ombros, Jeová lavou as mãos e, embriagados na bacanal do Olimpo, os outros também ignoraram o presente de grego numa praia do Mediterrâneo.
    Enquanto isso, no Hades, dançando e atualizando Castro Alves com outras infâmias no mar, ri-se Satanás.
http://www.cronicadodia.com.br/2015/09/acorda-menino-albir-jose-inacio-da-silva.html

A
Há grande comoção e indignação por parte do autor do texto referente às atitudes da humanidade. Em nenhum momento, o autor se culpa pela morte do menino. Na verdade, as maiores vicissitudes da vida são atribuídas ao diabo.
B
Segundo o autor do texto, nem o diabo é capaz de engendrar tamanha atrocidade. O diabo também se comoveu devido à situação.
C
A sensação é de que a humanidade está se afundando e a dor é tanta que seria melhor se as pessoas não tivessem sabido do infortúnio.
D
Pela imagem divulgada, não se sabia se o menino já havia morrido quando foi encontrado. A esperança é de que tenha contado antes de morrer quando, como, porque ou quem o havia abandonado naquela situação.
E
É uma dor muito grande, mas o que alivia é saber que, conforme o autor expõe no segundo parágrafo, aconteceu somente com um menino: “Mas é só um menino”.

Gabarito comentado

A
Aline SilvaMonitor do Qconcursos

Gabarito: C

Tema central: Interpretação de texto – exige o entendimento não apenas do sentido explícito, mas também das emoções, intenções e inferências embutidas pelo autor.

O texto carrega uma narrativa de comoção, indignação e angústia existencial diante da morte de uma criança na praia – uma imagem chocante que simboliza o fracasso coletivo da humanidade. O autor sugere, inclusive, que seria menos doloroso não ter sabido sobre o caso, como expresso em: “Queríamos não ter visto nem sabido — maldito fotógrafo, maldita web e maldita imagem...”.

Por que a alternativa C é correta?

A alternativa C sintetiza perfeitamente o sentimento predominante no texto: aflição profunda diante do sofrimento humano e o desejo de não ter tomado conhecimento de tamanha tragédia. Esta interpretação advém de uma leitura íntegra e sensível das entrelinhas, conforme preconizam gramáticos como Bechara: interpretar é ir além da superfície, reconhecendo sentimentos e intenções do enunciador.

Análise das alternativas incorretas:

A) Incorreta: O autor admite responsabilidade coletiva (“ainda suspeitamos de nós mesmos”) e não atribui toda a culpa ao diabo. A dor não é externalizada, mas sentida como um fracasso humano.

B) Incorreta: O diabo não se comove; há ironia. Mesmo surpreso com a maldade feita em nome dos deuses, ele “comemora o resultado”.

D) Incorreta: Não há menção a dúvidas sobre a morte do menino, nem sobre ele ter contado algo. O texto foca na imagem já estática do sofrimento consumado.

E) Incorreta: A expressão “Mas é só um menino” ironiza a minimização do fato; o autor usa-a para destacar, não diminuir, a gravidade da tragédia.

Dicas para interpretação: Busque termos que expressam sentimento (“naufrágio da humanidade”, “dor insepulta”). Atenção especial à ironia e à ambiguidade, evitando interpretações literais em textos com linguagem figurada e crítica.

Referências: Celso Cunha & Lindley Cintra (coerência e inferências) e Pasquale Cipro Neto (figuras de linguagem/ironia).

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