Leia com atenção o fragmento retirado do conto “O buraco”, do livro “Tremor de terra”, de Luiz Vilela.

Num daqueles dias em que, ao sair à rua, eu ouvira as pessoas falando e rindo de mim, cheguei em casa tão deprimido que, sem parar, comecei a andar de quatro. Mamãe deu um grito, e só aí eu percebi a coisa. “Meu filho!”, ela disse e veio correndo me abraçar. Ao levantar-me para ela é que percebi que eu estava de quatro; tive de fazer um esforço enorme para acabar de me levantar e para, depois manter-me de pé. “Que mal fizemos para merecer essa desgraça?”, ela chorava, me apertando em seus braços. (VILELA, 2017, p. 22).

A partir da leitura do fragmento e do conto, integralmente, assinale a alternativa INCORRETA.

Gabarito Comentado – Interpretação de Texto / Realismo Fantástico

Tema central: A questão avalia interpretação de texto, com enfoque na identificação de elementos do realismo fantástico e na análise de símbolos literários, como a transformação, o isolamento e o sentido metafórico do buraco.

Para resolver questões de interpretação, é essencial ler atentamente o fragmento, identificar a ideia principal e analisar como as alternativas dialogam com o núcleo temático da obra, especialmente as implicações metafóricas e simbólicas do texto.

Justificativa da alternativa correta (INCORRETA):

Alternativa D – “O conto relata a história de um jovem que se desgarra da matéria humana para transcender em uma evolução espiritual em que a matéria não é considerada.”

Essa alternativa está INCORRETA, pois faz uma interpretação equivocada do conto. O texto não sugere transcendência espiritual ou evolução da alma; ao contrário, apresenta um processo de degradação física e psicológica, em que a personagem torna-se cada vez mais marginalizada, fugindo para o “buraco” como metáfora de isolamento e abandono. Segundo Bechara, a interpretação consiste em extrair sentidos possíveis do texto a partir do que está posto de forma explícita ou implícita. Aqui, a evidência textual aponta para fuga e alienação, não transcendência.

Análise das demais alternativas:

A – Correta. O absurdo de um jovem transformar-se em tatu, típico do realismo fantástico, rompe a lógica e instiga a imaginação do leitor conforme explica Tzvetan Todorov.

B – Correta. A transformação acontece gradativamente e simboliza a marginalização e o sofrimento diante do olhar social, como se vê na reação da mãe (“Que mal fizemos para merecer essa desgraça?”).

C – Correta. O “buraco” é metáfora para recolhimento/proteção contra uma realidade opressora, reforçando o tema do refúgio, não de transcendência.

Dica estratégica: Em alternativas que usam palavras como “transcendência” ou “evolução espiritual”, reflita se o texto sugere de fato crescimento ou apenas fuga/dor. Cuidado com termos subjetivos usados de forma indevida.

Portanto, a alternativa D é a resposta a ser assinalada por não estar apoiada nos elementos textuais e no sentido real do conto.

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