Leia o poema “Um dia, de repente”, escrito pela poeta porto-alegrense Lara de Lemos (1923-2010).

Um dia, de repente,

arrastam-nos à força

para um lugar incerto.

Um dia, de repente,

desnudam-nos impudica/

mente.

Um dia, de repente,

é o duro frio

do escuro catre.

Um dia, de repente,

somos apenas um ser vivo:

verme ou gente?

Considere as seguintes afirmações sobre o poema.

I - O poema recupera o episódio de encarceramento, ocorrido com Lara de Lemos, durante a ditadura civil-militar no Brasil.

II - O poema é construído na primeira pessoa do plural, reforçando a solidariedade do sujeito lírico com todos que viveram a mesma situação.

III- A repetição de “Um dia, de repente” revive a arbitrariedade das prisões e da tortura.

Quais estão corretas?

Gabarito: E

Tema central: O exercício aborda interpretação de texto poético, com foco no reconhecimento de contexto histórico, uso pronominal, vozes do sujeito lírico e figuras de linguagem — competências essenciais em questões de vestibular.

Justificativa da alternativa correta:

I – Correta. O poema reflete o episódio de encarceramento vivido por Lara de Lemos na ditadura civil-militar brasileira. Segundo os princípios de leitura contextual, conhecer a biografia do autor auxilia a captar sentidos implícitos, ampliando a compreensão do refrão “arrastam-nos à força / para um lugar incerto”, que alude às arbitrariedades cometidas naquele período histórico.

II – Correta. O texto é marcado pela primeira pessoa do plural: “arrastam-nos”, “desnudam-nos”. Essa escolha linguística, conforme pontuam Cunha & Cintra, expressa uma experiência coletiva e reforça a solidariedade com outras vítimas, unindo o eu poético a um grupo.

III – Correta. O efeito de anáfora (repetição de “Um dia, de repente”) destaca a imprevisibilidade e a arbitrariedade dos acontecimentos, sensações associadas à repressão da época. Como explica Evanildo Bechara, a anáfora potencializa o ritmo e sublinha ideias centrais do texto.

Análise das alternativas incorretas:

- A (Apenas I), B (Apenas II) e C (Apenas I e III) desconsideram o caráter coletivo e a construção linguística, ou desmerecem o uso enfático da repetição, todos presentes no poema.
- D (Apenas II e III) erra ao excluir o contexto histórico fundamental para o entendimento do texto.

Estratégia para a prova:

Ao interpretar poesia, identifique o uso de pronomes e verbos para perceber se o sujeito lírico fala por si ou por um grupo. Observe repetições que podem indicar emoções, tensões ou críticas. Lembre-se, além do texto, o conhecimento de contexto e figuras como a anáfora (relação rítmica com repetição) enriquecem sua resposta!

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