Há mais de 20 anos (a primeira edição é de 1994),
Mia Couto publicou o livro Estórias abensonhadas, uma
coletânea de 26 contos. As estórias transitam entre os
temas de fins da guerra, de tradições moçambicanas e
de utopias que povoam aquele momento do país. Neste
livro, no conto Chuva: a abensonhada, o autor articula
esses temas numa linguagem poética e criativa,
instaurando assim uma nova realidade, desafiando a
lógica que predomina na relação entre as pessoas e o
mundo.
Considerando o conto Chuva: a abensonhada,
assinale a alternativa correta.
Há mais de 20 anos (a primeira edição é de 1994), Mia Couto publicou o livro Estórias abensonhadas, uma coletânea de 26 contos. As estórias transitam entre os temas de fins da guerra, de tradições moçambicanas e de utopias que povoam aquele momento do país. Neste livro, no conto Chuva: a abensonhada, o autor articula esses temas numa linguagem poética e criativa, instaurando assim uma nova realidade, desafiando a lógica que predomina na relação entre as pessoas e o mundo.
Considerando o conto Chuva: a abensonhada,
assinale a alternativa correta.
“Estou sentado junto da janela olhando a chuva
que cai há três dias. Que saudade me fazia o molhado
tintintinar do chuvisco. A terra perfumegante semelha a
mulher em véspera de carícia. Há quantos anos não
chovia assim? De tanto durar, a seca foi emudecendo a
nossa miséria. O céu olhava o sucessivo falecimento da
terra, e em espelho, se via morrer. A gente se indaguava:
será que ainda podemos recomeçar, será que a alegria
ainda tem cabimento?
Agora, a chuva cai, cantarosa, abençoada. O
chão, esse indigente indígena, vai ganhando variedades de belezas. Estou espreitando a rua como se estivesse à
janela do meu inteiro país. Enquanto, lá fora, se repletam
os charcos a velha Tristereza vai arrumando o quarto.”
COUTO, Mia. “Chuva: a abensonhada”. In: Estórias abensonhadas.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 43.
“Estou sentado junto da janela olhando a chuva que cai há três dias. Que saudade me fazia o molhado tintintinar do chuvisco. A terra perfumegante semelha a mulher em véspera de carícia. Há quantos anos não chovia assim? De tanto durar, a seca foi emudecendo a nossa miséria. O céu olhava o sucessivo falecimento da terra, e em espelho, se via morrer. A gente se indaguava: será que ainda podemos recomeçar, será que a alegria ainda tem cabimento?
Agora, a chuva cai, cantarosa, abençoada. O chão, esse indigente indígena, vai ganhando variedades de belezas. Estou espreitando a rua como se estivesse à janela do meu inteiro país. Enquanto, lá fora, se repletam os charcos a velha Tristereza vai arrumando o quarto.”
COUTO, Mia. “Chuva: a abensonhada”. In: Estórias abensonhadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 43.