Uma coisa ninguém discute: se Zacarias morreu, o
seu corpo não foi enterrado.
A única pessoa que poderia dar informações certas
sobre o assunto sou eu. Porém estou impedido de fazê-lo porque os meus companheiros fogem de mim, tão
logo me avistam pela frente. Quando apanhados de
surpresa, ficam estarrecidos e não conseguem articular
uma palavra.
Em verdade morri, o que vem ao encontro da
versão dos que creem na minha morte. Por outro
lado, também não estou morto, pois faço tudo o que
antes fazia e, devo dizer, com mais agrado do que
anteriormente.
RUBIÃO, M. O pirotécnico Zacarias. São Paulo: Ática, 1974.
Murilo Rubião é um expoente da narrativa fantástica na
literatura brasileira. No fragmento, a singularidade do
modo como o autor explora o absurdo manifesta-se no(a)
Uma coisa ninguém discute: se Zacarias morreu, o seu corpo não foi enterrado.
A única pessoa que poderia dar informações certas sobre o assunto sou eu. Porém estou impedido de fazê-lo porque os meus companheiros fogem de mim, tão logo me avistam pela frente. Quando apanhados de surpresa, ficam estarrecidos e não conseguem articular uma palavra.
Em verdade morri, o que vem ao encontro da versão dos que creem na minha morte. Por outro lado, também não estou morto, pois faço tudo o que antes fazia e, devo dizer, com mais agrado do que anteriormente.
RUBIÃO, M. O pirotécnico Zacarias. São Paulo: Ática, 1974.
Murilo Rubião é um expoente da narrativa fantástica na
literatura brasileira. No fragmento, a singularidade do
modo como o autor explora o absurdo manifesta-se no(a)
Gabarito comentado
Tema central: Esta questão explora interpretação de texto, mais especificamente a identificação das marcas do fantástico na literatura, conforme aparece no conto de Murilo Rubião. Saber reconhecer os elementos que caracterizam esse gênero é fundamental para acertar questões semelhantes em concursos e no ENEM.
Justificativa da alternativa correta – Letra A: A alternativa A) expressão direta e natural de uma situação insólita é a correta. Isso porque o autor apresenta uma situação absurda – o personagem morreu, mas continua agindo como se estivesse vivo – de maneira simples, natural, sem justificativas nem explicações para o fenômeno. A naturalização do insólito é técnica clássica do fantástico, segundo Tzvetan Todorov (“Introdução à Literatura Fantástica”), e Murilo Rubião é mestre nisso: "Em verdade morri, o que vem ao encontro da versão dos que creem na minha morte. Por outro lado, também não estou morto...". A simplicidade e o tom objetivo da narrativa reforçam o estranho sem tentar lhe dar sentido lógico.
Estratégia de interpretação: Atenção para frases que expõem o insólito de modo rotineiro. O fantástico, segundo estudiosos como Bráulio Tavares, “provoca uma dúvida no leitor, pois introduz o irreal sem buscar explicação racional”. Assim, a alternativa que remete à “expressão direta e natural” apresenta a chave da resolução.
Análise das alternativas incorretas:
B) “Relato denso e introspectivo sobre a experiência da morte” está errada porque o foco do texto não é a reflexão profunda ou existencial, mas a exposição objetiva de uma situação absurda.
C) “Efeito paradoxal da irregularidade na organização temporal” está incorreta, pois não há ruptura ou distorção temporal relevante no trecho.
D) “Discrepância entre a falta de emotividade e o evento angustiante” não se aplica; o texto não destaca a emoção do personagem nem sugere angústia.
E) “Alternância entre os pontos de vista do narrador e do personagem” está equivocada, pois todo o fragmento é contado em primeira pessoa, sem trocas de perspectiva.
Dica para provas: Sempre busque no texto elementos-chave que caracterizem o gênero abordado; o fantástico costuma apresentar o impossível de forma rotineira, o que é diferente do alegórico, do introspectivo ou do relato psicológico.
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