Questão 25889073-7a
Prova:ENEM 2022
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Descobrimento


            Abancado à escrivaninha em São Paulo

            Na minha casa da rua Lopes Chaves

            De supetão senti um friúme por dentro.

            Fiquei trêmulo, muito comovido

            Com o livro palerma olhando pra mim.


            Não vê que me lembrei lá no norte, meu Deus!

            [Muito longe de mim,

            Na escuridão ativa da noite que caiu,

            Um homem pálido, magro de cabelo escorrendo

            [nos olhos,

            Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,

            Faz pouco se deitou, está dormindo.


            Esse homem é brasileiro que nem eu...


ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Villa Rica, 1993.



O poema modernista de Mário de Andrade revisita o tema do nacionalismo de forma irônica ao 

A
referendar estereótipos étnicos e sociais ligados ao brasileiro nortista.
B
idealizar a vida bucólica do norte do país como alternativa de brasilidade.
C
problematizar a relação entre distância geográfica e construção da nacionalidade.
D
questionar a participação da cultura autóctone na formação da identidade nacional.
E
propalar uma inquietação desfavorável quanto à aceitação das diferenças socioculturais.

Gabarito comentado

M
Marcelo Torres Monitor do Qconcursos

Comentário da Questão – Interpretação de Texto / ENEM

Tema central: A questão cobra do candidato interpretação de texto, demandando a identificação do assunto principal do poema e a compreensão da relação entre distância geográfica e identidade nacional.

Alternativa correta: C) problematizar a relação entre distância geográfica e construção da nacionalidade.

Justificativa:

No poema, o eu-lírico, de São Paulo, reflete sobre um trabalhador do Norte, distante, porém “brasileiro que nem eu”. O texto utiliza a sensação de distância – física (“lá no norte”, “muito longe de mim”) e simbólica – para discutir como a identidade nacional se constrói apesar (ou por causa) das disparidades regionais. Essa leitura está de acordo com a semântica textual e com o conceito de coesão e coerência (Bechara, 2009), pois mostra como a compreensão global do texto evidencia essa reflexão sobre o nacional.

Análise das alternativas incorretas:

A) Referendar estereótipos étnicos e sociais: O poema não reforça estereótipos, mas humaniza o trabalhador nortista, promovendo empatia.

B) Idealizar a vida bucólica do norte: Não há idealização, e sim relato realista da dura rotina (“fazer uma pele com a borracha do dia”) do trabalhador.

D) Questionar a participação da cultura autóctone: O texto não aborda culturas originárias, mas sim a ligação entre regiões brasileiras.

E) Inquietação desfavorável quanto à aceitação das diferenças: Ao contrário, o poema propõe reflexão empática, não rejeição ou inquietação negativa.

Dica para provas: Fique atento(a) a palavras-chave e à ideia central do texto. Evite distrações por alternativas que exageram aspectos ou trazem inferências que não podem ser sustentadas.

Regra da interpretação: Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra, a interpretação deve sempre buscar o sentido global do texto — não apenas fragmentos — e considerar autor, contexto e marcas linguísticas.

Assim, marque a alternativa C, pois é a única que traduz o questionamento do texto sobre a formação do ser brasileiro a partir das diferenças regionais e distâncias físicas.

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