Descobrimento
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei lá no norte, meu Deus!
[Muito longe de mim,
Na escuridão ativa da noite que caiu,
Um homem pálido, magro de cabelo escorrendo
[nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu...
ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Villa Rica, 1993.
O poema modernista de Mário de Andrade revisita o tema
do nacionalismo de forma irônica ao
Descobrimento
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei lá no norte, meu Deus!
[Muito longe de mim,
Na escuridão ativa da noite que caiu,
Um homem pálido, magro de cabelo escorrendo
[nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu...
ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Villa Rica, 1993.
O poema modernista de Mário de Andrade revisita o tema do nacionalismo de forma irônica ao
Gabarito comentado
Comentário da Questão – Interpretação de Texto / ENEM
Tema central: A questão cobra do candidato interpretação de texto, demandando a identificação do assunto principal do poema e a compreensão da relação entre distância geográfica e identidade nacional.
Alternativa correta: C) problematizar a relação entre distância geográfica e construção da nacionalidade.
Justificativa:
No poema, o eu-lírico, de São Paulo, reflete sobre um trabalhador do Norte, distante, porém “brasileiro que nem eu”. O texto utiliza a sensação de distância – física (“lá no norte”, “muito longe de mim”) e simbólica – para discutir como a identidade nacional se constrói apesar (ou por causa) das disparidades regionais. Essa leitura está de acordo com a semântica textual e com o conceito de coesão e coerência (Bechara, 2009), pois mostra como a compreensão global do texto evidencia essa reflexão sobre o nacional.
Análise das alternativas incorretas:
A) Referendar estereótipos étnicos e sociais: O poema não reforça estereótipos, mas humaniza o trabalhador nortista, promovendo empatia.
B) Idealizar a vida bucólica do norte: Não há idealização, e sim relato realista da dura rotina (“fazer uma pele com a borracha do dia”) do trabalhador.
D) Questionar a participação da cultura autóctone: O texto não aborda culturas originárias, mas sim a ligação entre regiões brasileiras.
E) Inquietação desfavorável quanto à aceitação das diferenças: Ao contrário, o poema propõe reflexão empática, não rejeição ou inquietação negativa.
Dica para provas: Fique atento(a) a palavras-chave e à ideia central do texto. Evite distrações por alternativas que exageram aspectos ou trazem inferências que não podem ser sustentadas.
Regra da interpretação: Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra, a interpretação deve sempre buscar o sentido global do texto — não apenas fragmentos — e considerar autor, contexto e marcas linguísticas.
Assim, marque a alternativa C, pois é a única que traduz o questionamento do texto sobre a formação do ser brasileiro a partir das diferenças regionais e distâncias físicas.
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