— … E o amor não é só o que o senhor Sousa Costa pensa. Vim ensinar o amor como deve ser. Isso é que pretendo, pretendia ensinar pra Carlos. O amor sincero, elevado, cheio de senso prático, sem loucuras. Hoje, minha senhora, isso está se tornando uma necessidade desde que a filosofia invadiu o terreno do amor! Tudo o que há de pessimismo pela sociedade de agora! Estão se animalizando cada vez mais. Pela influência às vezes até indireta de Schopenhauer, de Nietzsche… embora sejam alemães. Amor puro, sincero, união inteligente de duas pessoas, compreensão mútua. E um futuro de paz conseguido pela coragem de aceitar o presente.

        Rosto polido por lágrimas saudosas, quem vira Fräulein chorar!…

        — … É isso que eu vim ensinar pra seu filho, minha senhora. Criar um lar sagrado! Onde é que a gente encontra isso agora?

ANDRADE, M. Amar, verbo intransitivo. Rio de Janeiro: Agir, 2008.

Confrontada pela dona da casa, a personagem alemã explica as razões de sua presença ali. Em seu discurso, o amor é concebido por um viés que 

Tema central: Interpretação de texto e semântica — identificar no discurso da personagem como o conceito de “amor” é impactado por elementos culturais.

O cerne da questão está em compreender a intenção da personagem: ao citar filósofos alemães como Schopenhauer e Nietzsche, ela destaca como a visão pessimista da época interfere no modo como o amor é vivido e entendido socialmente. A personagem fala em “animalização”, “pessimismo” e propõe um amor “sincero, elevado, cheio de senso prático, sem loucuras”, diferenciando-o do contexto filosófico e cultural vigente.

Justificativa da alternativa correta (D):
A alternativa D — “demarca as influências culturais sobre suas práticas” — está de acordo com o texto, pois a personagem expõe a influência de correntes culturais/filosóficas (“a filosofia invadiu o terreno do amor”, os autores mencionados) no modo como as pessoas compreendem e praticam o amor. De acordo com a semântica textual (Ullmann, 1964) e os princípios de coesão e coerência (Koch, 1989), a interpretação exige perceber referências contextuais e as relações de causa e consequência presentes nas falas do texto.

Análise das alternativas incorretas:

A) “defende a idealização dos sentimentos” — Incorreta, pois o amor defendido é prático, não idealizado ou fantasioso; está distante do romantismo exagerado.

B) “explica filosoficamente suas peculiaridades” — Errada, já que a personagem não explica o amor do ponto de vista filosófico, apenas menciona pensadores como influência externa.

C) “questiona a possibilidade de sua compreensão” — Incorreta, porque não há dúvida sobre compreender ou não o amor, mas sim crítica à forma como ele é vivido hoje.

E) “reforça o papel da família na transmissão de seus valores” — Errada, pois apesar de citar a criação de um lar, o foco real é sobre como fatores culturais distorcem práticas amorosas.

Estratégia de prova: Atenção aos termos de comparação cultural e às críticas contextuais presentes no texto, evitando interpretações literais ou descoladas do contexto maior. Mantenha sempre a análise guiada por palavras-chave e pelo que está explícito e implicado na fala da personagem — prática essencial segundo referências como Cunha e Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo).

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