Questão 255bb08a-7a
Prova:ENEM 2022
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

        As ruas de calçamento irregular feito com pedras pé de moleque e o casario colonial do centro histórico de Paraty, município ao sul do estado do Rio de Janeiro, foram palco de uma polêmica encerrada há pouco mais de dez anos: o nome da cidade deveria ser escrito com “y” ou com “i”?


        Tudo começou após mudanças nas regras ortográficas da língua portuguesa no Brasil terem determinado a substituição do “y” por “i” em palavras como “Paraty”, que então passou a figurar nos mapas como “Parati”. Revoltados com a alteração, os paratienses se mobilizaram para que o “y” retornasse ao seu devido lugar na grafia do nome da cidade, o que só ocorreu depois da aprovação de uma lei pela Câmara de Vereadores, em 2007.


        No caso de “Paraty”, uma das argumentações em favor do uso do “y” teve por base a origem indígena da palavra. “Foi percebido que existem várias tonalidades para a pronúncia do ‘i’ para os indígenas. E cada uma delas tem um significado diferente. O ‘y’ é mais próximo à pronúncia que eles usavam para significar algo no território. É como se fosse ‘Paratii’, que significa água que corre. Aí o linguista achou por bem utilizar o ‘y’ para representar essa pronúncia, o ‘i’ longo, o ‘i’ dobrado”, esclarece uma técnica da coordenação de cartografia do IBGE.


BENEDICTO, M.; LOSCHI, M. Nomes geográficos.

Retratos: a revista do IBGE, fev. 2019.



A resolução da polêmica, com a permanência da grafia da palavra “Paraty”, revela que a normatização da língua portuguesa foi desconsiderada por

A
conveniência político-partidária.
B
motivação de natureza estética e lúdica.
C
força da tradição e do sentimento de pertença.
D
convenção ortográfica de alcance geral.
E
necessidade de sistematização dos usos da língua.

Gabarito comentado

L
Lucas Moraes Monitor do Qconcursos

Comentário da Questão:

Tema central: Esta questão aborda fundamentalmente interpretação de texto, aplicada ao contexto da variação ortográfica dos nomes próprios (toponímia) e à influência de fatores culturais e históricos no uso da norma-padrão da língua.

Justificativa da alternativa correta (C): O texto deixa claro que a grafia "Paraty" foi preservada não porque fosse a recomendação oficial das regras ortográficas, mas sim devido à força da tradição e do sentimento de pertença. Esses conceitos aparecem quando o texto menciona a mobilização popular pela grafia tradicional, destacando o apego à identidade e à história locais. Segundo a Nova Gramática do Português Contemporâneo (Cunha & Cintra), a tradição é fator central nos casos em que o uso consagrado se sobrepõe à regra ortográfica.

Análise das alternativas incorretas:

A) conveniência político-partidária – Não há, no texto, referência a disputas ou interesses partidários. A decisão foi cultural e histórica.

B) motivação de natureza estética e lúdica – Não existe indicação de que a escolha do nome tenha visado beleza ou lazer; o argumento era identidade e tradição.

D) convenção ortográfica de alcance geral – O texto justamente mostra que a escolha “Paraty” contrariou a convenção ortográfica e foi motivada por exceção tradicional.

E) necessidade de sistematização dos usos da língua – O caso de Paraty não buscou sistematizar, mas mantê-la como exceção simbólica. Conforme pontua Bechara, a norma pode acolher usos consagrados historicamente.

Estratégia de resolução: Atenção à finalidade da mudança apresentada no texto, observando argumentos explícitos e implícitos: a mobilização foi afetiva, ligada à história e não à sistematização, política ou estética.

Dica para provas: Ao interpretar textos sobre língua e sociedade, foque nos elementos culturais, históricos ou identitários mencionados direta ou indiretamente.

Resposta correta: C) força da tradição e do sentimento de pertença.

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