O trecho corresponde à apresentação de Berta, protagonista
do romance. Ela é descrita como
Leia o trecho de Til, romance de José de Alencar, para responder às questão.
Era ela de pequena estatura e tão delgada e flexível no
talhe, que dobrava-se como o junco da várzea. As formas da
graciosa pubescência, que um corpinho justo debuxaria1
em
doce e palpitante relevo, as dissimulava o frouxo corte de
uma jaqueta de flanela escarlate com mangas compridas, e
desabotoada sobre um camisote liso, cujos largos colarinhos
se rebatiam sobre os ombros, à feição dos que usavam então
os meninos de escola.
Os grandes olhos, negros, claros e serenos, como um
lago cristalino imerso na sombra, não podiam negar que fossem de mulher: tinham a diáfana2
profundidade do céu, cheia
de enlevos e mistérios. A boca mimosa e breve, conhecia-se que fora vazada no
molde do beijo e do sorriso. Mas quando o brinco iluminava
essa fisionomia, e o capricho quebrava-lhe a harmonia das
linhas do suave perfil, era cobrir-se com a máscara do rapazinho estouvado, que ela teria sido sem dúvida, se a natureza
não lhe trocasse o destino.
(Til. www.dominiopublico.gov.br)
1 um corpinho justo debuxaria: um corpete justo mostraria;
2 diáfana: que permite a passagem da luz; transparente,
límpida.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto literário, com ênfase na identificação de características do Romantismo e compreensão semântica da palavra “ambivalente”.
Justificativa da alternativa correta (D):
No trecho de Til, de José de Alencar, Berta é apresentada com traços ambivalentes: “dobrava-se como o junco da várzea” (leveza e flexibilidade, evocando doçura) e, ao mesmo tempo, veste roupas que disfarçam sua feminilidade (“o frouxo corte de uma jaqueta de flanela escarlate... à feição dos que usavam então os meninos de escola”), sugerindo aspectos masculinos.
Além disso, há idealização romântica nas expressões “olhos... como um lago cristalino”, “diáfana profundidade do céu”, características clássicas do sentimentalismo romântico. Segundo Bechara, o Romantismo “transfigura a mulher, tornando-a símbolo de pureza e perfeição”.
Assim, a alternativa D sintetiza: “um ser ambivalente, que conserva aspectos de menina e de menino. Em sua caracterização, é possível perceber uma visão um tanto idealizada dos atributos femininos, o que é comum ao Romantismo.”
Análise das outras alternativas:
A) Naturalismo aposta em objetividade descritiva e análise científica. O uso expressivo de adjetivos e idealização pertence ao Romantismo. Não há excesso de feminilidade; há ambivalência.
B) Não há no texto sinal de fragilidade diante de rapazes, nem crítica social evidente. O foco é a natureza idealizada — não a opressão social.
C) Não há elemento cômico ou de deboche; Berta não é tratada de modo humorístico ou irônico, nem se vê crítica aos costumes burgueses – são atributos do Realismo, não do trecho dado.
E) Não há indícios de personalidade forte ou discurso feminista. O Naturalismo não se volta para tais temas no trecho analisado.
Estratégia para provas:
Observe na leitura indícios concretos do texto para fundamentar sua resposta. Fique atento a termos como "ambivalência" (dois aspectos presentes) e saiba distinguir características de movimentos literários.
Segundo Cunha & Cintra, a análise interpretativa requer a identificação de traços de época – como o tom idealizador no Romantismo, predominante no texto.
Resumo: A alternativa D, por articular ambivalência de gênero e idealização feminina, é a única correta à luz do Romantismo e do trecho analisado.
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