O texto mostra-se crítico em relação ao conteúdo da seguinte
citação:
Para responder à questão, leia o trecho da peça
A mais-valia vai acabar, seu Edgar, de Oduvaldo Vianna
Filho, o Vianinha. A peça foi encenada em 1960 na arena da
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil e promoveu um amplo debate. A mobilização resultante desse debate
desencadeou a criação do Centro Popular de Cultura (CPC).
Coro dos desgraçados: Trabalhamos noite e dia, dia e
noite sem parar! Então de nada precisamos, se só precisamos trabalhar! Há mil anos sem parar! Fizemos as correntes
que nos botaram nos pés, fizemos a Bastilha onde fomos
morar, fizemos os canhões que vão nos apontar. Há mil
anos sem parar! Não mandamos, não fugimos, não cheiramos, não matamos, não fingimos, não coçamos, não corremos, não deitamos, não sentamos: trabalhamos. Há mil anos
sem parar! Ninguém sabe nosso nome, não conhecemos a
espuma do mar, somos tristes e cansados. Há mil anos sem
parar! Eu nunca ri — eu nunca ri — sempre trabalhei. Eu faço
charutos e fumo bitucas, eu faço tecidos e ando pelado, eu
faço vestido pra mulher, e nunca vi mulher desvestida. Há mil
anos sem parar! Maria esqueceu de mim e foi morar com seu
Joaquim. Há mil anos sem parar!
(Apito longo. Um cartaz aparece:
“Dois minutos de descanso e lamba as unhas.”
Todos vão tentar sentar.
Menos o Desgraçado 4 que fica de pé furioso.)
Desgraçado 1: Ajuda-me aqui, Dois. Eu quero me dá uma
sentadinha.
(Desgraçado 2 ri de tudo.)
Desgraçado 3: Senta. (Desgraçado 1 vai pôr a cabeça no
chão.) De assim, não. Acho que não é com a cabeça não.
Desgraçado 1: Eu esqueci.
Desgraçado 3: A bunda, põe ela no chão. A perna é que eu
não sei.
Desgraçado 2: A perna tira.
(Desgraçado 3 e Desgraçado 2
desistem de descobrir. Se atiram no chão.)
Desgraçado 1: A perna dobra! (Senta. Satisfeito.)
Desgraçado 2: Quero ver levantar.
(Todos olham para Desgraçado 4,
fazem sinais para que ele se sente.)
Desgraçado 4: Não! Chega pra mim! Eu só trabalho, trabalho, trabalho… (Perde o fôlego.)
Desgraçado 3: Eu te ajudo: trabalho, trabalho, trabalho...
Desgraçado 4: E tenho dois minutos de descanso? Nunca vi
o sol, não tomei leite condensado, não canto na rua, esqueci
do sentar, quando chega a hora de descansar, fico pensando
na hora de trabalhar! Chega!
Slide: Quem canta seus males espanta.
Desgraçado 1: (cantando) A paga vem depois que a gente
morre! Você vira um anjo todo branco, rindo sempre da brancura, bebe leite em teta de nuvem, não tem mais fome, não
tem saudade, pinta o céu de cor de felicidade!
(Peças do CPC, 2016. Adaptado.)
Para responder à questão, leia o trecho da peça A mais-valia vai acabar, seu Edgar, de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha. A peça foi encenada em 1960 na arena da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil e promoveu um amplo debate. A mobilização resultante desse debate desencadeou a criação do Centro Popular de Cultura (CPC).
Coro dos desgraçados: Trabalhamos noite e dia, dia e noite sem parar! Então de nada precisamos, se só precisamos trabalhar! Há mil anos sem parar! Fizemos as correntes que nos botaram nos pés, fizemos a Bastilha onde fomos morar, fizemos os canhões que vão nos apontar. Há mil anos sem parar! Não mandamos, não fugimos, não cheiramos, não matamos, não fingimos, não coçamos, não corremos, não deitamos, não sentamos: trabalhamos. Há mil anos sem parar! Ninguém sabe nosso nome, não conhecemos a espuma do mar, somos tristes e cansados. Há mil anos sem parar! Eu nunca ri — eu nunca ri — sempre trabalhei. Eu faço charutos e fumo bitucas, eu faço tecidos e ando pelado, eu faço vestido pra mulher, e nunca vi mulher desvestida. Há mil anos sem parar! Maria esqueceu de mim e foi morar com seu Joaquim. Há mil anos sem parar!
(Apito longo. Um cartaz aparece:
“Dois minutos de descanso e lamba as unhas.”
Todos vão tentar sentar.
Menos o Desgraçado 4 que fica de pé furioso.)
Desgraçado 1: Ajuda-me aqui, Dois. Eu quero me dá uma sentadinha.
(Desgraçado 2 ri de tudo.)
Desgraçado 3: Senta. (Desgraçado 1 vai pôr a cabeça no chão.) De assim, não. Acho que não é com a cabeça não.
Desgraçado 1: Eu esqueci.
Desgraçado 3: A bunda, põe ela no chão. A perna é que eu não sei.
Desgraçado 2: A perna tira.
(Desgraçado 3 e Desgraçado 2
desistem de descobrir. Se atiram no chão.)
Desgraçado 1: A perna dobra! (Senta. Satisfeito.)
Desgraçado 2: Quero ver levantar.
(Todos olham para Desgraçado 4,
fazem sinais para que ele se sente.)
Desgraçado 4: Não! Chega pra mim! Eu só trabalho, trabalho, trabalho… (Perde o fôlego.)
Desgraçado 3: Eu te ajudo: trabalho, trabalho, trabalho...
Desgraçado 4: E tenho dois minutos de descanso? Nunca vi o sol, não tomei leite condensado, não canto na rua, esqueci do sentar, quando chega a hora de descansar, fico pensando na hora de trabalhar! Chega!
Slide: Quem canta seus males espanta.
Desgraçado 1: (cantando) A paga vem depois que a gente morre! Você vira um anjo todo branco, rindo sempre da brancura, bebe leite em teta de nuvem, não tem mais fome, não tem saudade, pinta o céu de cor de felicidade!
(Peças do CPC, 2016. Adaptado.)
Gabarito comentado
A questão trabalha interpretação textual, em que as informações estão
além do texto, estão implícitas, é uma questão de
apreender as ideias contidas nele, de inferi-las.
Alternativa
(A) incorreta – Essa frase é de João Guimarães Rosa, autor da obra Grande
sertão: veredas. Analisando essa citação, podemos chegar à seguinte
conclusão: o trabalho é visto como uma maldição quando ele é escravizado,
quando não há direitos iguais. Inclusive, a palavra trabalho tem origem no latim vulgar tripaliare (= torturar), derivado de tripalium (= instrumento de tortura composto de
três paus). A etimologia da palavra trabalho dá ideia inicial de sofrer, passou-se a de
esforçar-se, lutar, pugnar e, por fim, trabalhar. Por isso, acredita-se que o
trabalho está ligado à ideia de castigo, sofrimento, maldição.
Alternativa
(B) incorreta – Essa frase original pertence ao dramaturgo romano
Plautus (254-184 a.C.), traduzida para o latim como homo homini lúpus.
Atualmente, ela é conhecida por estar na obra Leviatã, do filósofo inglês
Thomas Hobbes.
“O homem é o lobo do homem" significa
que o homem é o maior inimigo do próprio homem; o próprio ser humano provoca
as maiores atrocidades do mundo, vivendo sempre em conflito uns com os outros.
Alternativa
(C) incorreta – Essa frase é do filósofo Jean-Jacques Rousseau.
Analisando a frase, podemos chegar à conclusão de que Rousseau acreditava que o
homem é, essencialmente, bom, mas devido ao meio em que vive, seus atos podem
corrompê-lo.
Alternativa (D) correta – O texto faz uma crítica em relação à
citação “O trabalho dignifica e enobrece o homem" de modo irônico para chamar a atenção da sociedade sobre
as más condições de trabalho.
Alternativa
(E) incorreta – Essa frase é do filósofo inglês John Locke.
A
liberdade deve ser garantida por leis para que possa ser realizada de forma
equânime para todos e concretizada de forma ordenada.
Gabarito da
professora: Alternativa D.