Questão 21284ac0-65
Prova:UNESP 2021
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O cronista traça um retrato do gramático Marco Aurélio, evidenciando, sobretudo, a sua

Para responder à questão, leia a crônica “A obra-prima”, de Lima Barreto, publicada na revista Careta em 25.09.1915.


    Marco Aurélio de Jesus, dono de um grande talento e senhor de um sólido saber, resolveu certa vez escrever uma obra sobre filologia.

    Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e que daria ao espírito inculto dos brasileiros as noções exatas da língua portuguesa. Trabalhou durante três anos, com esforço e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que viria trazer à confusão, à dificuldade de hoje, o saber de amanhã. Era uma obra-prima pelas generalizações e pelos exemplos.

    A quem dedicá-la? Como dedicá-la? E o prefácio?

    E Marco Aurélio resolve meditar. Ao fim de igual tempo havia resolvido o difícil problema.

   A obra seria, segundo o velho hábito, precedida de “duas palavras ao leitor” e levaria, como demonstração de sua submissão intelectual, uma dedicatória.

    Mas “duas palavras”, quando seriam centenas as que escreveria? Não. E Marco Aurélio contou as “duas palavras” uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance único, genial, destacou em relevo, ao alto da página “duzentas e uma palavras ao leitor”.

    E a dedicatória? A dedicatória, como todas as dedicatórias, seria a “pálida homenagem” de seu talento ao espírito amigo que lhe ensinara a pensar…

    Mas “pálida homenagem”… Professor, autor de um livro de filologia, cair na vulgaridade da expressão comum: “pálida homenagem”? Não. E pensou. E de sua grave meditação, de seu profundo pensamento, saiu a frase límpida, a grande frase que definia a sua ideia da expressão e, num gesto, sulcou o alto da página de oferta com a frase sublime: “lívida homenagem do autor”…

    Está aí como um grande gramático faz uma obra-prima. Leiam-na e verão como a coisa é bela.

(Sátiras e outras subversões, 2016.)

A
ambiguidade.
B
informalidade.
C
concisão.
D
afetação.
E
meticulosidade.

Gabarito comentado

Elizabeth da SilvaProfessora de Língua Portuguesa e Pós-Graduada em Língua Portuguesa.

A questão trabalha interpretação textual, é uma questão de apreender as informações contidas no texto, de inferi-las.

Alternativa (A) incorreta – De acordo com as informações do texto, o gramático Marco Aurélio faz questão de que as palavras utilizadas em sua obra não tragam duplo sentido para que, assim, o leitor/a leitora possa ter uma única interpretação. Por isso, esforçou-se durante três anos para não incorrer em ambiguidades, seu objetivo era trazer a noção exata da língua portuguesa.


Alternativa (B) incorreta – A partir da leitura do texto, chega-se à conclusão de que o gramático não é nada informal, tanto que mudou a expressão “pálida homenagem", expressão comum, pela expressão “lívida homenagem", mais formal, menos usada no dia a dia.

Alternativa (C) incorreta – Conciso é o que ele não demonstra ser, tanto que a dedicatória ao leitor/a leitora, que deveria ser por hábito duas palavras, foi composta por duzentas e uma palavras.

Alternativa (D) correta – Ao mudar a expressão “pálida homenagem" por “lívida homenagem", mesmo as palavras “lívida" e “pálida" tendo o mesmo significado, ele demonstra afetação, isto é, desejo de atrair admiração; vaidade, pedantismo, presunção.

Alternativa (E) incorreta – Aparentemente, ele até podia demonstrar certa meticulosidade por ser preso a detalhes, porém, ao não ser conciso e ser formal demais, ele não demonstra um certo cuidado com a escolha das palavras, visto que, para um leitor que não tem o hábito da leitura, a obra pode trazer um certo “desconforto" ao se deparar com palavras não tão usadas no cotidiano.


Gabarito da professora: Alternativa D.

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