Quanto à relação entre Eduardo e Pedro, assinale a alternativa correta.
Leia o texto extraído do segundo ato de O demônio familiar e responda à questão
EDUARDO (Rindo-se) -– Eis um corretor de casamentos, que seria um achado precioso para certos indivíduos do meu conhecimento! Vou tratar de vender-te a algum deles para que possas aproveitar teu gênio
industrioso.
PEDRO -– Oh! Não! Pedro quer servir a meu senhor! Vosmecê perdoa; foi para ver senhor rico!
EDUARDO -– E o que lucras tu com isto?! Sou tão pobre que te falte com aquilo de que precisas? Não te
trato mais como um amigo do que como um escravo?
PEDRO — Oh! Trata muito bem, mas Pedro queria que o senhor tivesse muito dinheiro e comprasse carro
bem bonito para...
EDUARDO -– Para... Dize!
PEDRO -– Para Pedro ser cocheiro de senhor!
EDUARDO -– Então a razão única de tudo isto é o desejo que tens de ser cocheiro?
PEDRO — Sim, senhor!
EDUARDO — (Rindo-se) -– Muito bem! Assim, pouco te importava que eu ficasse mal com a pessoa que
estimava; que me casasse com uma velha ridícula, que vivesse maçado e aborrecido, contanto que governasses dois cavalos em um carro! Tens razão!... E eu ainda devo dar-me por muito feliz, que fosse esse motivo
frívolo, mas inocente, que te obrigasse a trair a minha confiança. (Eduardo sai.)
ALENCAR, José de. O demônio familiar. 4. ed. São Paulo: Martin Claret, 2013. p. 54-55.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto – abordagem das relações interpessoais entre personagens em obra literária.
A questão exige que o candidato compreenda a dinâmica entre Eduardo e Pedro, destacando o nível de proximidade, liberdade e possíveis tensões. De acordo com Celso Cunha & Lindley Cintra ("Compreensão e Interpretação de Textos"), é fundamental analisar como o contexto dos diálogos revela nuances de poder e camaradagem.
Justificativa da alternativa correta (B):
A interação entre Eduardo e Pedro demonstra uma relação marcada pela camaradagem, ainda que subsista uma estrutura de poder. Perceba que Eduardo diz: “Não te trato mais como um amigo do que como um escravo?”, evidenciando um trato mais próximo e menos rígido. Pedro, por sua vez, sente liberdade tanto para tomar iniciativas quanto para expressar desejos pessoais (“Pedro queria que o senhor tivesse muito dinheiro [...] para Pedro ser cocheiro de senhor!”), mesmo sabendo que isso pode desagradar Eduardo.
Estratégia-chave de interpretação: Ao encontrar diálogos com expressões como "tratar como amigo", "perdoa" ou atitudes descontraídas (como rir), fique atento a relações menos rígidas, marcando camaradagem e relativa liberdade.
Análise das alternativas incorretas:
A) Errada. O texto não sugere vingança nem cansaço de Pedro; seus atos vêm do desejo pessoal de ser cocheiro.
C) Errada. Não há referência a trocas de correspondência ou envolvimento deliberado de Pedro com Henriqueta.
D) Errada. Não se afirma confiança irrestrita ou comportamento exemplar; há, sim, decepção de Eduardo com a razão das ações de Pedro.
E) Errada. Não há indício de insatisfação crescente de Pedro. Eduardo aponta o motivo como frívolo, mas Pedro aceita a repreensão sem rebeldia.
Referência normativa: Segundo Bechara ("Moderna Gramática Portuguesa"), compreender o sentido de enunciados e os atos de fala é essencial para a correta interpretação dos papéis e intenções em diálogos literários.
Dica para provas: Atenção a frases que contrastam amizade/hierarquia, uso de ironia e motivos declarados nas falas: eles costumam mostrar a essência da relação interpessoal!
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