De acordo com o texto, o autor do texto:
De Newton à Nature
Na ciência, não basta descobrir, é preciso contar aos
outros o que você descobriu. Copérnico, Galileu e
Newton, por exemplo, escreviam livros técnicos, relatando suas experiências e resultados. Com o tempo,
a divulgação passou a acontecer menos por livros e
mais por artigos científicos – peças curtas, publicadas
em revistas e periódicos especializados.
As primeiras revistas científicas, lá no século XVIII,
não tinham fins lucrativos. Mas com o aumento dos
investimentos públicos nos laboratórios, a partir da
década de 1950, as universidades passaram a ter
muito mais pesquisadores. São todos funcionários
com carteira assinada, que precisam mostrar serviço –
e que recebem avaliações de desempenho. Para fazer
essas avaliações, a comunidade acadêmica adotou
basicamente dois critérios: a quantidade de artigos
científicos publicados em revistas – um suposto sinal
de produtividade e dedicação – e o número de vezes
em que esses artigos são citados em outros artigos – o
que, em teoria, é uma evidência de que o trabalho foi
relevante e influente.
Pois bem. Os cientistas não querem lucro, só divulgação. Então entregam o material de graça. Na outra
ponta da equação, há as universidades, que não têm
outra opção a não ser pagar o que as editoras pedem
para ter acesso às pesquisas mais importantes (afinal,
um pesquisador só consegue trabalhar se puder ler o
trabalho de outros pesquisadores). Isso deu origem
a um modelo de negócio sem igual: você, dono da
editora de periódicos científicos, recebe conteúdo de
graça e vende a um público disposto a pagar muito.
Criaram-se grifes da ciência: periódicos muito seletivos, que só publicam a nata das pesquisas. Sair em
títulos como Cell, Nature ou Science dá visibilidade e é
bom para a carreira dos cientistas.
“Na era digital, a figura da editora científica é ainda
mais importante”, afirma Dante Cid, vice-presidente de
relações acadêmicas da Elsevier no Brasil. “Ela inibe a
disseminação de informações equivocadas e colabora
com a distribuição da pesquisa de qualidade.” De fato,
os padrões de excelência da Elsevier e de outras editoras de peso continuam altos. Mas o sistema causa distorções. “Um Newton da vida, que passava a vida toda
trabalhando e publicava pouco, não teria chance no
século XXI”, diz Fernando Reinach, ex-biólogo da USP.
VOIANO, B. A máquina que trava a ciência. Superinteressante. ed. 383,
dez/2017. p. 40-41. [Adaptado]
De Newton à Nature
Na ciência, não basta descobrir, é preciso contar aos outros o que você descobriu. Copérnico, Galileu e Newton, por exemplo, escreviam livros técnicos, relatando suas experiências e resultados. Com o tempo, a divulgação passou a acontecer menos por livros e mais por artigos científicos – peças curtas, publicadas em revistas e periódicos especializados.
As primeiras revistas científicas, lá no século XVIII, não tinham fins lucrativos. Mas com o aumento dos investimentos públicos nos laboratórios, a partir da década de 1950, as universidades passaram a ter muito mais pesquisadores. São todos funcionários com carteira assinada, que precisam mostrar serviço – e que recebem avaliações de desempenho. Para fazer essas avaliações, a comunidade acadêmica adotou basicamente dois critérios: a quantidade de artigos científicos publicados em revistas – um suposto sinal de produtividade e dedicação – e o número de vezes em que esses artigos são citados em outros artigos – o que, em teoria, é uma evidência de que o trabalho foi relevante e influente.
Pois bem. Os cientistas não querem lucro, só divulgação. Então entregam o material de graça. Na outra ponta da equação, há as universidades, que não têm outra opção a não ser pagar o que as editoras pedem para ter acesso às pesquisas mais importantes (afinal, um pesquisador só consegue trabalhar se puder ler o trabalho de outros pesquisadores). Isso deu origem a um modelo de negócio sem igual: você, dono da editora de periódicos científicos, recebe conteúdo de graça e vende a um público disposto a pagar muito. Criaram-se grifes da ciência: periódicos muito seletivos, que só publicam a nata das pesquisas. Sair em títulos como Cell, Nature ou Science dá visibilidade e é bom para a carreira dos cientistas.
“Na era digital, a figura da editora científica é ainda mais importante”, afirma Dante Cid, vice-presidente de relações acadêmicas da Elsevier no Brasil. “Ela inibe a disseminação de informações equivocadas e colabora com a distribuição da pesquisa de qualidade.” De fato, os padrões de excelência da Elsevier e de outras editoras de peso continuam altos. Mas o sistema causa distorções. “Um Newton da vida, que passava a vida toda trabalhando e publicava pouco, não teria chance no século XXI”, diz Fernando Reinach, ex-biólogo da USP.
VOIANO, B. A máquina que trava a ciência. Superinteressante. ed. 383,
dez/2017. p. 40-41. [Adaptado]
Gabarito comentado
TEMA CENTRAL: Interpretação de Texto
Explicação: Essa questão avalia sua capacidade de compreender o conteúdo e a intenção do autor, identificando as ideias centrais e secundárias, como orientam Bechara e Rocha Lima em suas gramáticas normativas.
Por que a alternativa C é correta?
A opção C) diz: “discorre sobre mecanismos de funcionamento da divulgação científica por meio de publicações em periódicos especializados.” Isso está de acordo com o texto, que descreve a evolução da divulgação científica, do livro técnico aos periódicos, e os impactos desse modelo para pesquisadores e universidades. O autor detalha os processos, critérios e consequências desse sistema, mas não defende nem propõe opiniões explícitas. Segundo Rocha Lima, a interpretação exige identificar a ideia central e os elementos explicativos que estruturam o texto.
Análise das alternativas incorretas:
A) Não há no texto elogio à superioridade dos artigos nem suspeição dos livros. O autor apenas narra a mudança histórica do meio de publicação.
B) A menção a "grifes da ciência" é descritiva, não há indicação de que o autor mesmo publica na Nature, tampouco qualquer declaração de crença ou envolvimento pessoal.
D) O texto expõe que a avaliação por quantidade de artigos é prática do sistema, não defendida ou apoiada pelo autor. Não há priorização da quantidade em detrimento da qualidade na argumentação do texto.
E) Não há proposta direta para que se publiquem resultados por partes em pequenos artigos. O texto descreve a prática das publicações curtas, mas não sugere essa divisão como recomendação.
Estratégia de Interpretação:
Busque palavras-chave neutras (“descreve”, “discute”, “explica”) e evite tomar como verdade alternativas que apresentam opiniões ou propostas não declaradas pelo autor. Muitas pegadinhas apresentam conclusões ou julgamentos que o texto apenas narra sem aprovar nem criticar.
Resumo: O cerne da resposta é compreender a função expositiva do texto, sem projeção de opiniões autorais. Siga sempre o princípio básico da interpretação – encontrar a ideia central sustentada pelo texto sem extrapolar para além do que foi dito.
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