Questão 20bce678-fe
Prova:ABEPRO 2017
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a alternativa correta, com base no texto.

No diálogo, o efeito de humor é produzido:

Contextualização na escrita


É preciso fazer distinção entre contexto de produção e contexto de uso. No caso da interação face a face, eles coincidem, mas, no caso da escrita, não. Nesta, o mais importante para a interpretação é o contexto de uso.


O sentido de um texto, qualquer que seja a situação comunicativa, não depende apenas da estrutura textual em si mesma (daí a metáfora do texto como um iceberg). Os objetos de discurso a que o texto faz referência são apresentados em grande parte de forma incompleta, permanecendo muita coisa implícita.


O produtor do texto pressupõe da parte do leitor/ ouvinte conhecimentos textuais, situacionais e enciclopédicos e, orientando-se pelo Princípio da Economia, não explicita as informações consideradas redundantes ou desnecessárias. Ou seja, visto que não existem textos totalmente explícitos, o produtor de um texto necessita proceder ao “balanceamento” do que necessita ser explicitado textualmente e do que pode permanecer implícito, supondo que o interlocutor poderá recuperar essa informação por meio de inferências.


Vejamos – como exemplo – o texto a seguir que pressupõe, por parte do leitor, a produção de inferências, para obtenção do efeito de humor pretendido.


A secretária da escola atende ao telefone.


– Alô.

– Meu filho está muito gripado e não vai poder ir à escola hoje.

– Quem está falando?

– Quem tá falando é o meu pai.


KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006. p.71-72. Adaptado.

A
pelo uso do pronome possessivo “meu”, na suposta fala do pai.
B
pela inverossimilhança da justificativa dada para a ausência do aluno.
C
pela repetição da estrutura “Quem está/tá falando”.
D
pelo flagrante do engodo captado na alternância das formas verbais “está” e “tá”, associadas, respectivamente, à fala da secretária e à fala do aluno.
E
pela perda da expressividade decorrente do registro escrito do diálogo que se deu face a face.

Gabarito comentado

A
Artur Castanheira Monitor do Qconcursos

Tema central: Interpretação de texto – Ambiguidade e produção de humor

A questão exige a análise de como o humor é construído no diálogo apresentado, relacionando o uso do pronome possessivo “meu” à geração de ambiguidade. Trata-se de uma questão clássica sobre interpretação de texto, com foco nos elementos implícitos e nas inferências, fundamentos essenciais nos concursos e no vestibular.

Justificativa da alternativa correta:

Alternativa A: “Pelo uso do pronome possessivo ‘meu’, na suposta fala do pai.”

Pela norma-padrão, segundo a Gramática Normativa da Língua Portuguesa (Bechara), pronomes possessivos como “meu” podem gerar ambiguidade. No texto, o humor surge quando, na tentativa de dar legitimidade à ligação, a pessoa diz: “Quem tá falando é o meu pai.” Essa frase só faria sentido se o indivíduo dissesse “Quem está falando é o pai dele”, porém o uso de “meu” sinaliza que quem responde é o próprio aluno, tentando enganar a secretária. Isso obriga o leitor a inferir o engodo, gerando o efeito humorístico – uma ocorrência clássica da incongruência semântica.

Análise das alternativas incorretas:

B) A justificativa (“gripe”) é crível e comum, não tem nada de inverossímil; não é ela que gera humor.

C) A repetição “Quem está/tá falando” é típica em diálogos telefônicos e não produz humor, apenas dá sequência à fala.

D) A alternância “está/tá” diz respeito à adequação formal/informal, não à construção do humor.

E) O diálogo se dá por telefone; não há perda de expressividade pelo fato de estar escrito, e, ainda assim, o humor permanece.

Estratégia de interpretação:

Fique atento ao sentido dos pronomes e à relação entre quem fala e o conteúdo da fala: pronomes possessivos frequentemente escondem pegadinhas interpretativas! Nos textos humorísticos, busque sempre o detalhe que produz a surpresa ou o “não-dito” que provoca o riso.

Regra de ouro: “Todo texto pressupõe parte do sentido e exige do leitor inferências contextuais, apoiadas no conhecimento linguístico e enciclopédico” (Koch & Elias).

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