No soneto, o menino e a avezinha, mencionados na primeira
estrofe, são comparados, respectivamente,
Leia o soneto XLVI, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), para responder a questão.Não vês, Lise, brincar esse meninoCom aquela avezinha? Estende o braço,Deixa-a fugir, mas apertando o laço,A condena outra vez ao seu destino.
Nessa mesma figura, eu imagino,Tens minha liberdade, pois ao passoQue cuido que estou livre do embaraço,Então me prende mais meu desatino.
Em um contínuo giro o pensamentoTanto a precipitar-me se encaminha,Que não vejo onde pare o meu tormento.
Mas fora menos mal esta ânsia minha,Se me faltasse a mim o entendimento,Como falta a razão a esta avezinha.
(Domício Proença Filho (org.). A poesia dos inconfidentes, 1996.)
Gabarito comentado
Gabarito comentado:
Tema central: A questão avalia interpretação de texto, especialmente a compreensão de metáforas e comparações em poesia, assuntos especialmente cobrados em provas de vestibular.
No soneto, o poeta Cláudio Manuel da Costa usa uma cena concreta – “o menino brincando com a avezinha” – como metáfora de sua relação de dependência afetiva. Entender a quem cada elemento representa é essencial para acertar a alternativa.
Justificativa da alternativa correta (B):
Menino = Lise e Avezinha = Eu lírico. O menino possui domínio sobre a avezinha, assim como Lise exerce poder sobre os sentimentos do eu lírico. Observe o verso: “Nessa mesma figura, eu imagino, tens minha liberdade”. Ou seja, Lise tem a liberdade do eu lírico em suas mãos, tal qual o menino tem a avezinha. Essa comparação implícita é típica da metáfora — o autor sugere a relação, sem usar “como”.
Citando Evanildo Bechara: “A metáfora consiste numa transferência de sentido, na qual um termo substitui outro, por analogia.” (Moderna Gramática Portuguesa)
Análise das alternativas incorretas:
A) ao eu lírico e a Lise. — Errada. O menino não representa o eu lírico; ele é Lise.
C) ao desatino e ao eu lírico. — Errada. O texto não compara o menino ao desatino.
D) ao desatino e à liberdade. — Errada. Não há vínculo direto no poema desses elementos à imagem central.
E) a Lise e à liberdade. — Errada. A avezinha, pela lógica do poema, representa o eu lírico, não a liberdade abstrata.
Estratégia para futuras questões: Sempre identifique, em comparações metafóricas, quem age e quem sofre a ação. Busque no texto expressões de posse, domínio ou sentimento para desvendar a equivalência dos elementos da metáfora.
Resumo da regra: Em poemas, figuras como metáfora e comparação são chaves de leitura. Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra, é fundamental “reconhecer a duplicidade simbólica dos termos quando um representa o outro por analogia”.
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