O tema básico do texto, em torno do qual o autor
organiza seus argumentos, pode ser expresso pelas
seguintes proposições, exceto uma. Assinale-a.
Polivalência: do mito... para a realidade
A modernidade, ao flexibilizar a divisão de tarefas
no interior dos processos produtivos, estaria
cumprindo com o papel de substituir o desqualificado
e descomprometido “apertador de parafusos” por um
funcionário que pensa e molda seu próprio emprego,
à medida em que é chamado a experimentar novos
métodos de trabalho capazes de garantir ao mesmo
tempo a sua realização pessoal e o crescimento da
empresa. Desta forma, graças à polivalência, o ser
humano estaria deixando de ser um mero apêndice
das máquinas para reencontrar no trabalho o caminho
de sua própria humanização.
Mas será que é isso mesmo? Com a polivalência,
o capital estaria mesmo abrindo mão da crescente
submissão do homem à máquina que, aliás, é um dos
elementos que lhe garantem a progressiva exploração
da força de trabalho? A polivalência que tem sua
origem na flexibilização e na automação dos
processos produtivos estaria gerando uma maior
qualificação do trabalhador coletivo?
O novo trabalhador, a ser moldado de acordo com
as necessidades dos sistemas informatizados, teria
que ser jovem, polivalente, sem tradição de luta, com
estudos que lhe fornecessem conhecimentos gerais
mais amplos (o segundo grau, por exemplo) ou, no
limite, as noções técnicas básicas que podem ser
assimiladas através dos cursos de SENAI.
Ou seja, o perfil da grande maioria dos trabalhadores, que do final da década de 80 até os nossos dias
começam a compor o quadro de funcionários das
grandes empresas, tem como traços fundamentais a
ausência de uma militância política e de uma
qualificação efetiva, ao lado de uma bagagem de
conhecimentos que serve apenas para proporcionar-lhes uma leitura rápida e segura das informações que
aparecem nos sistemas de controle dos equipamentos
automatizados e para garantir uma rápida
operacionalização das ordens recebidas.
Se tivermos que descrever em poucas palavras o
perfil de um trabalhador polivalente, diríamos que ele
não passa de um “pau pra toda obra” que, diante do
aumento do desemprego e da ameaça constante que
isso traz à manutenção de suas condições de vida,
percebe uma sensação de alívio ao aderir, ora ativa
ora passivamente, aos objetivos e aos limites
impostos pela lógica das mudanças no interior do sistema capitalista. Lógica que tem na polivalência e
na flexibilização dos processos de trabalho dois
importantes instrumentos para ocultar a continuidade
histórica da necessidade da classe dominante ir
adequando a organização do trabalho às exigências
da acumulação do capital e para apagar nas classes
trabalhadoras a memória coletiva de sua tradição de
lutas e, com ela, a necessidade de construir uma nova
ordem social.
(GENNARI, Emílio. Automação, Terceirização e Programas de
Qualidade Total: os fatos e a lógica das mudanças nos processos
de trabalho. São Paulo: CPV, 1997. Adaptado)
Polivalência: do mito... para a realidade
A modernidade, ao flexibilizar a divisão de tarefas no interior dos processos produtivos, estaria cumprindo com o papel de substituir o desqualificado e descomprometido “apertador de parafusos” por um funcionário que pensa e molda seu próprio emprego, à medida em que é chamado a experimentar novos métodos de trabalho capazes de garantir ao mesmo tempo a sua realização pessoal e o crescimento da empresa. Desta forma, graças à polivalência, o ser humano estaria deixando de ser um mero apêndice das máquinas para reencontrar no trabalho o caminho de sua própria humanização.
Mas será que é isso mesmo? Com a polivalência, o capital estaria mesmo abrindo mão da crescente submissão do homem à máquina que, aliás, é um dos elementos que lhe garantem a progressiva exploração da força de trabalho? A polivalência que tem sua origem na flexibilização e na automação dos processos produtivos estaria gerando uma maior qualificação do trabalhador coletivo?
O novo trabalhador, a ser moldado de acordo com as necessidades dos sistemas informatizados, teria que ser jovem, polivalente, sem tradição de luta, com estudos que lhe fornecessem conhecimentos gerais mais amplos (o segundo grau, por exemplo) ou, no limite, as noções técnicas básicas que podem ser assimiladas através dos cursos de SENAI.
Ou seja, o perfil da grande maioria dos trabalhadores, que do final da década de 80 até os nossos dias começam a compor o quadro de funcionários das grandes empresas, tem como traços fundamentais a ausência de uma militância política e de uma qualificação efetiva, ao lado de uma bagagem de conhecimentos que serve apenas para proporcionar-lhes uma leitura rápida e segura das informações que aparecem nos sistemas de controle dos equipamentos automatizados e para garantir uma rápida operacionalização das ordens recebidas.
Se tivermos que descrever em poucas palavras o perfil de um trabalhador polivalente, diríamos que ele não passa de um “pau pra toda obra” que, diante do aumento do desemprego e da ameaça constante que isso traz à manutenção de suas condições de vida, percebe uma sensação de alívio ao aderir, ora ativa ora passivamente, aos objetivos e aos limites impostos pela lógica das mudanças no interior do sistema capitalista. Lógica que tem na polivalência e na flexibilização dos processos de trabalho dois importantes instrumentos para ocultar a continuidade histórica da necessidade da classe dominante ir adequando a organização do trabalho às exigências da acumulação do capital e para apagar nas classes trabalhadoras a memória coletiva de sua tradição de lutas e, com ela, a necessidade de construir uma nova ordem social.
(GENNARI, Emílio. Automação, Terceirização e Programas de Qualidade Total: os fatos e a lógica das mudanças nos processos de trabalho. São Paulo: CPV, 1997. Adaptado)