Questão 13cacc47-de
Prova:FGV 2014, FGV 2014
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Embora tanto A hora da estrela como Morte e vida severina tenham como protagonistas migrantes pobres, oriundos de zonas inóspitas, e nítido teor de crítica social, a percepção da sociedade que se configura nessa obra de Cabral de Melo não permitiria que ela assimilasse, sem quebra de coerência e inteireza, sobretudo a seguinte expressão do texto de Lispector, com o sentido que, nesse texto, ela tem:

Texto para a questão 


        Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e logo se coagular em cubos de geleia trêmula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada –, que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o delicado essencial.

Clarice Lispector, A hora da estrela. 

A
“narrativa (...) exterior e explícita”.
B
“o meu coágulo”.
C
“Que sei eu”.
D
“todos nós somos um”.
E
“história (...) verdadeira embora inventada”.

Gabarito comentado

E
Emilio PerezMonitor do Qconcursos

Comentário do Gabarito — Interpretação de Texto (Vestibular)

Tema central: Esta questão envolve interpretação de texto literário com foco na coerência textual, analisando a compatibilidade de um conceito fundamental no texto de Clarice Lispector com a visão expressa em "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto.

Fundamentação para a alternativa correta (D):

A expressão “todos nós somos um” sugere universalidade dos sentimentos e experiências humanas, transmitindo a ideia de que todos compartilham das mesmas dores e necessidades essenciais. No entanto, “Morte e Vida Severina” constrói uma coletividade frequentemente marcada pela individualidade do sofrimento e pela adversidade concreta dos Severinos nordestinos. A identificação completa entre todos (“somos um”) implicaria apagar aspectos da crítica social de Cabral de Melo Neto, em que a coletividade existe, mas não se dilui em unidade. O conceito de empatia absoluta e eliminação de fronteiras entre os sujeitos seria incoerente com o perfil de objetividade e distanciamento poético da obra cabralina.

Regra/estratégia envolvida:

Como adverte Evanildo Bechara, interpretar exige olhar para o sentido contextual das expressões, captando sua função no universo temático da obra.

Análise das alternativas incorretas:

  • A) “narrativa (...) exterior e explícita” – Refere-se ao modo narrativo; “Morte e Vida Severina” também faz uso de exterioridade, descrevendo cenários e penúrias de forma direta, não gerando incoerência.
  • B) “o meu coágulo” – É uma metáfora introspectiva, mas o lirismo existencial também se acha partilhado na literatura regionalista, logo não é incompatível.
  • C) “Que sei eu” – Reflete dúvida do narrador; o questionamento existencial está presente nas duas obras. Não rompe a coerência.
  • E) “história (...) verdadeira embora inventada” – A questão da ficcionalidade metalinguística pode estar presente em ambos; não compromete a coesão temática.

Dica para questões similares: Leia com atenção os valores centrais das obras ao comparar expressões. Pergunte-se: “Se trocar este trecho, há ruído na mensagem principal?”

Referências: Bechara, Moderna Gramática; Cunha & Cintra, Nova Gramática – capítulos sobre coerência e análise literária.

Conclusão: A alternativa D se destaca por não ser assimilável sem contradição à obra cabralina, evidenciando a importância da interpretação detalhada para questões de provas.

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