Leia o fragmento a seguir e
identifique a sentença incorreta.
“Sucede que nas discussões dos pesquisadores
interessados em história comparativa volta e meia
aparece alguém fazendo uma analogia entre a
Rússia e o Brasil. Principalmente quando se
examina a história dos dois países ao longo do
século XIX. Dois impérios oitocentistas vacilando
entre um conservadorismo visceral e a necessidade
da modernização. Dois países presos a instituições –
a escravidão no Brasil, a servidão na Rússia – que
apareciam como a essência da brutalidade e do
atraso social. Assim, o mote ‘civilização contra
barbárie’ era igualmente utilizado pela imprensa
inglesa para fustigar o escravismo brasileiro e a
opressão dos servos na Rússia. Confrontados à
pressão interna e internacional, os dois imperadores,
Pedro II (1840-1889) e Alexandre II (1855-1881),
são levados a liberar os servos russos (1861) e os
escravos brasileiros (1888), desencadeando
movimentos sociais que derrubam ambas as
dinastias. Desse modo, simpatizantes e detratores
dos Romanov e dos Bragança podiam retratar os
dois imperadores como bem lhes conviesse. Uns
diziam que se tratava de reformadores
incompreendidos, outros os apresentavam como
aristocratas tapados (...)”
Fonte: ALENCASTRO, Luis Felipe de. In: Revista Veja. São Paulo: Abril, 29mar. 2000, p. 20.
Gabarito comentado
Alternativa correta: A
Tema central: É uma questão de história comparada do século XIX — confronto entre modernização e instituições tradicionais (servidão na Rússia; escravidão no Brasil), com foco em eventos-chave: emancipação dos servos (1861) e abolição da escravidão (1888), e suas consequências políticas.
Resumo teórico essencial: A Reforma de 1861 (Aleksandr II) libertou os servos na Rússia; a Lei Áurea (13/05/1888) aboliu a escravidão no Brasil. Em ambos os casos, reformas criaram tensões sociais que, em prazos diferentes, contribuíram para quedas dinásticas: Romaovs (revoluções de 1905 e 1917) e Bragança (Proclamação da República, 15/11/1889).
Por que a alternativa A é a incorreta (resposta certa): A afirma que “Assassinado em 1917, Alexandre II resistiu... com ajuda do exército branco.” Isso contém dois erros factuais graves:
- Aleksandr II foi assassinado em 1881 por integrantes do grupo Narodnaya Volya (movimento revolucionário), não em 1917.
- O “Exército Branco” refere-se às forças anticomunistas da Guerra Civil (após 1917); esse movimento não existia na época de Aleksandr II e, portanto, não o ajudou.
Análise das demais alternativas (por que não são a incorreta):
B: Destaca a contradição entre modernidade urbana (São Petersburgo) e regimes autoritários/escravistas — interpretação plausível e coerente com a literatura sobre modernismos contraditórios.
C: Afirma que a geração pós-servidão levou às revoltas de 1905 e 1917 e a uma modernização não liberal — correto: as revoluções russas geraram transformação profunda, mas não liberal-democrática (surgimento do regime soviético).
D: Diz que, após a abolição, o reinado de Pedro II durou pouco mais de um ano até a queda da monarquia; e que a saída do imperador foi menos conflituosa que na Rússia — historicamente aceitável: Lei Áurea em 1888; Proclamação em 1889; Pedro II exilou-se sem guerra civil imediata como na Rússia.
E: Paralelo sobre dimensões continentais e conservação de modelos pré-modernos é uma generalização interpretativa válida para contextualizar similaridades.
Dica de prova: Verifique sempre datas e termos específicos (ex.: “Exército Branco” ≠ movimentos do século XIX). Anacronismos são sinais fortes de alternativa falsa.
Fontes rápidas: Lei Áurea (13/05/1888); Reforma Emancipatória Russa (1861); assassinato de Aleksandr II (1881); Revoluções russas (1905, 1917); Proclamação da República no Brasil (15/11/1889).
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