O ENGENHEIRO
A luz, o sol, o ar livre
envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
superfícies, tênis, um copo de água.

O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.

(Em certas tardes nós subíamos

ao edifício. A cidade diária,

como um jornal que todos liam,

ganhava um pulmão de cimento e vidro.)

A água, o vento, a claridade

de um lado o rio, no alto as nuvens,

situavam na natureza o edifício

crescendo de suas forças simples.

MELO NETO, João Cabral de. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Para delinear o perfil do engenheiro, o poeta modernista recorre a uma enumeração de substantivos. De acordo com o poema, uma característica marcante desse profissional é a/o

Comentário Estratégico: Interpretação de Texto Literário em Provas para Engenheiros

Tema central: Esta questão exige interpretação de texto, notadamente a identificação de características do engenheiro no poema de João Cabral de Melo Neto. O candidato precisa reconhecer o dualismo presente na construção desse personagem poético, observando as relações entre objetividade técnica e imaginação criadora.

Explicação da Alternativa Correta (B):
A alternativa B) dualismo, ao tentar conciliar objetividade e imaginação está correta. O poema expõe, de maneira sutil, o engenheiro como alguém cuja atuação reúne exatidão matemática (“lápis, esquadro, número”) e a capacidade de sonhar e imaginar (“o engenheiro sonha coisas claras”; “envolvem o sonho do engenheiro”). Assim, ele transita entre a dureza da técnica e o lirismo criador. É a coexistência entre o cálculo e o sonho que caracteriza o perfil apresentado no texto.
Segundo Koch & Elias, interpretar textos poéticos requer observar tanto o sentido literal quanto os sentidos simbólicos e as camadas de significado – exatamente o que a questão propõe.

Análise das Alternativas Incorretas:

• A) Pragmatismo: Não se verifica, pois o poema não nega os aspectos subjetivos ou sentimentais do engenheiro; pelo contrário, valoriza o sonho (subjetividade), associado à clareza e ao cálculo.
• C) Simplicidade: O engenheiro é detalhista e técnico; o poema vai além de mera criação “simples”, trabalhando oposições entre materiais e natureza.
• D) Inovação: O texto não ressalta invenções arrojadas; centra-se no equilíbrio entre técnica e sensibilidade.
• E) Superioridade: Não se confere tom de superioridade ao engenheiro, mas sim de harmonia com o ambiente e a natureza.

Estratégias de leitura:
Procure sempre identificar palavras-chave associadas às características do personagem no contexto (“sonho”, “projeto”, “forças simples”). Ao notar elementos contrastivos ou complementares, pense em alternâncias como objetivo/subjetivo, razão/imagem – pistas clássicas para questões que abordam dualidades.

Dica bônus:
O poeta utiliza, conforme Cunha & Cintra, enumeração de substantivos para dar precisão descritiva, recurso que reforça a dimensão racional do engenheiro, mas sem anular a face criativa – exatamente a essência da alternativa correta.

Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!