Confrontando o conteúdo dos dois textos, assinale a alternativa correta.

Instrução: Os textos 1 e 2 referem-se à questão.

Texto 1

Agora que as paixões acalmaram, volto à proibição do fumo em ambientes fechados, aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Incrível como esse tema ainda gera discussões acaloradas. Como é possível considerar a proibição de fumar nos lugares em que outras pessoas respiram uma afronta à liberdade individual? As evidências científicas de que o fumante passivo também fuma são tantas e tão contundentes que os defensores do direito de encher de fumaça restaurantes e demais espaços públicos só podem fazê-lo por duas razões: ignorância ou interesse financeiro. Sinceramente, não consigo imaginar terceira alternativa.

(Drauzio Varella. O fumo em lugares fechados. Folha de S.Paulo, 25.04.2009.)

Texto 2

Típico do espírito fascista é seu amor puritano pela “humanidade correta” ao mesmo tempo em que detesta a diversidade promíscua dos seres humanos. Por isso sua vocação para ideia de “higiene científica e política da vida”: supressão de hábitos “irracionais”, criação de comportamentos “que agregam valor político, científico e social”. O imperativo “seja saudável” pode adoecer uma pessoa. Na democracia o fascismo pode ser invisível como um vírus. Quer um exemplo da contaminação? Votemos uma lei: mesmo em casa não se pode fumar. Afinal, como ficam os pulmões dos vizinhos? Que tal uma campanha nas escolas para as crianças denunciarem seus pais fumantes?

(Luis Felipe Pondé. O vírus fascista. Folha de S.Paulo, 22.09.2008.)

Para os dois autores, é correta a existência de uma lei que proíbe o fumo em lugares fechados, pois ambos baseiam-se em argumentos de natureza política e filosófica.

O primeiro texto ampara-se em argumentos científicos, e o segundo, em argumentos de natureza política e filosófica.

Para o autor do segundo texto, o fascismo é um fenômeno superado da história, e por isso incompatível com sociedades democráticas.

Para o autor do segundo texto, argumentos de base científica prevalecem sobre argumentos de base política e filosófica.

Os dois textos apresentam visões contrastantes sobre a proibição do fumo, sendo que ambos baseiam seus argumentos sob um ponto de vista científico.

Gabarito comentado

Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Resposta correta: B

Tema central: identificar o tipo de argumento usado em cada texto — científico/sanitário versus político/filosófico — e como isso orienta a posição sobre proibir o fumo em ambientes fechados.

Resumo teórico: Argumento científico apoia-se em evidências empíricas, estudos e normas de saúde pública (ex.: Convenção-Quadro da OMS para o Controle do Tabaco; Lei nº 9.294/1996 no Brasil regula uso e propaganda do tabaco). Argumento político/filosófico parte de valores, análises ideológicas ou críticas éticas (liberdade individual, riscos de autoritarismo, metáforas políticas como “fascismo”). Saber diferenciá-los é essencial em provas: busque termos que indiquem dados (estudo, evidência, efeito) versus termos normativos/metafóricos (direito, autoritarismo, contaminação política).

Justificativa da alternativa B: O primeiro autor invoca explicitamente evidências científicas sobre os efeitos do fumo passivo para justificar a proibição — enquadra-se em argumento de saúde pública. O segundo utiliza analogia com fascismo, critica a potencial lógica punitiva e a “higiene” social; trata-se de análise política e filosófica, não de suporte em dados científicos. Logo: primeiro = científico; segundo = político/filosófico.

Análise das alternativas incorretas:

A — Incorreta: os autores não concordam. O primeiro apoia a lei; o segundo a critica por razões ideológicas, não políticas/profissionais que justifiquem a proibição.

C — Incorreta: o segundo texto alerta que o fascismo pode reaparecer “invisível” na democracia — não o descreve como fenômeno superado; ao contrário, vê risco contemporâneo.

D — Incorreta: o autor do segundo texto não prioriza argumentos científicos; usa argumento normativo/ideológico para criticar intervenções estatais.

E — Incorreta: os textos são contrastantes e apenas o primeiro baseia-se em argumentos científicos; o segundo é filosófico/político.

Dica de resolução para concursos: nas questões de interpretação, destaque palavras-chave: “evidências”, “estudos” → científico; “direito”, “autoritarismo”, metáforas ideológicas → político/filosófico. Assim evita-se confundir posição normativa com prova empírica.

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