Questão 0efa7a77-b1
Prova:INSPER 2016
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

10 DE MAIO Fui na delegacia e falei com o tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na delegacia na primeira intimação. (...) O tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que tornar-se util a patria e ao país. Pensei: Se ele sabe disto, porque não faz um relatorio e envia para os politicos? O senhor Janio Quadros, o Kubstchek e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades.
... O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora.
Quem passa fome aprende a pensar no proximo, e nas crianças.
(Carolina Maria de Jesus. Quarto de despejo: diário de uma favelada, 1993)

Relacionando o texto de Carolina Maria de Jesus aos conceitos de língua apresentados nos Textos I e II, conclui-se que os usos da linguagem feitos pela autora recobrem a noção de

Leia os textos para responder à questão.

Texto I

    A palavra falada é um fenômeno natural; a palavra escrita é um fenômeno cultural. O homem natural pode viver perfeitamente sem ler nem escrever. Não o pode o homem a que chamamos civilizado: por isso, como disse, a palavra escrita é um fenômeno cultural, não da natureza mas da civilização, da qual a cultura é a essência e o esteio.

    Pertencendo, pois, a mundos (mentais) essencialmente diferentes, os dois tipos de palavra obedecem forçosamente a leis ou regras essencialmente diferentes. A palavra falada é um caso, por assim dizer, democrático. Ao falar, temos que obedecer à lei do maior número, sob pena de não sermos compreendidos ou sermos inutilmente ridículos. Se a maioria pronuncia mal uma palavra, temos que a pronunciar mal: diremos anedota, embora sabíamos que se deve dizer anécdota. Se a maioria usa de uma construção gramatical errada, da mesma construção teremos que usar: diremos “hás-de tu compreender”, embora saibamos que “hás tu de compreender” é a fórmula verdadeira. Se a maioria caiu em usar estrangeirismos ou outras irregularidades verbais, assim temos que fazer: “match de football” diremos, e não “partida de bolapé”. Os termos ou expressões que na linguagem escrita são justos, e até obrigatórios, tornam-se uma estupidez e pedantaria, se deles fazemos uso no trato verbal. Tornam-se até em má-criação, pois o preceito fundamental da civilidade é que nos conformemos o mais possível com as maneiras, os hábitos, e a educação da pessoa com quem falamos, ainda que nisso faltemos às boas- -maneiras ou à etiqueta, que são a cultura exterior.

(Fernando Pessoa, A Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1999)

Texto II

    (...) há duas línguas no Brasil: uma que se escreve (e recebe o nome de “português”); e outra que se fala (e que é tão desprezada que nem tem nome). E é esta última que é a língua materna dos brasileiros; a outra (o “português”) tem de ser aprendida na escola, e a maior parte da população nunca chega a dominá-la adequadamente.

    Vamos chamar a língua falada no Brasil de vernáculo brasileiro (...). Assim, diremos que no Brasil se escreve em português, uma língua que também funciona como língua de civilização em Portugal e em alguns países da África. Mas a língua que se fala no Brasil é o vernáculo brasileiro, que não se usa nem em Portugal nem na África.

(Mário A. Perini, Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 1997)

A
democracia da linguagem apontada em Pessoa, considerando-se a justeza e precisão da linguagem escrita em oposição à falada. Note-se, ademais, que esses usos correspondem ao conceito de vernáculo brasileiro de Perini, o qual é próprio do Brasil e não de Portugal e África.
B
vernáculo brasileiro apontado por Perini, e definidor da língua comum a brasileiros, portugueses e africanos, principalmente. Note-se, ademais, que esses usos equivalem àquilo que Pessoa chama de fenômeno de linguagem próprio da civilização, ou seja, a língua como cultura.
C
língua materna apontada por Perini, que considera como legítimas todas as formas de expressão da língua falada. Note-se, ademais, que esses usos são considerados estupidez e pedantismo por Pessoa, que não os considera formas adequadas e civilizadas de comunicação.
D
fenômeno natural apontada por Pessoa, embora se trate de texto escrito, considerando-se a aproximação entre fala e escrita flagrada nele. Note-se, ademais, que esses usos se encaixariam na língua desprezada, apontada por Perini, normalmente estigmatizada na sociedade.
E
lei do maior uso apontada por Pessoa, apesar de ser fonte de preconceito na sociedade, uma vez que se distanciam dos usos justos e até obrigatórios ditados pela língua falada. Note-se, ademais, que Perini reforça esse ponto de vista ao sugerir o desprezo à língua materna.

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