Questão 0d7a2032-99
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Cantiga de enganar
(...)
O mundo não tem sentido.
O mundo e suas canções
de timbre mais comovido
estão calados, e a fala
que de uma para outra sala
ouvimos em certo instante
é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
no negrume circundante.
Silêncio: que quer dizer?
Que diz a boca do mundo?
Meu bem, o mundo é fechado,
se não for antes vazio.
O mundo é talvez: e é só.
Talvez nem seja talvez.
O mundo não vale a pena,
mas a pena não existe.
Meu bem, façamos de conta.
De sofrer e de olvidar,
de lembrar e de fruir,
de escolher nossas lembranças
e revertê‐las, acaso
se lembrem demais em nós.
Façamos, meu bem, de conta
– mas a conta não existe –
que é tudo como se fosse,
ou que, se fora, não era.
(...)
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.
Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva
do sujeito maduro, já afastado das ilusões, como se lê no
verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a
ti.” (“Legado”). O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta
a relação do eu com o mundo mediada
Cantiga de enganar
(...)
O mundo não tem sentido.
O mundo e suas canções
de timbre mais comovido
estão calados, e a fala
que de uma para outra sala
ouvimos em certo instante
é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
no negrume circundante.
Silêncio: que quer dizer?
Que diz a boca do mundo?
Meu bem, o mundo é fechado,
se não for antes vazio.
O mundo é talvez: e é só.
Talvez nem seja talvez.
O mundo não vale a pena,
mas a pena não existe.
Meu bem, façamos de conta.
De sofrer e de olvidar,
de lembrar e de fruir,
de escolher nossas lembranças
e revertê‐las, acaso
se lembrem demais em nós.
Façamos, meu bem, de conta
– mas a conta não existe –
que é tudo como se fosse,
ou que, se fora, não era.
(...)
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.
Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva
do sujeito maduro, já afastado das ilusões, como se lê no
verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a
ti.” (“Legado”). O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta
a relação do eu com o mundo mediada
A
pela música, que ressoa em canções líricas.
B
pela cor, brilhante na claridade solar.
C
pela afirmação de valores sólidos.
D
pela memória, que corre fluida no tempo.
E
pelo despropósito de um faz‐de‐conta.
Gabarito comentado
Isabel VegaMestra em Letras na UFRJ, Coordenadora e Professora Aposentada de Português do Colégio Pedro II-RJ